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"Se o primeiro-ministro está chocado, como é que estão os portugueses?"

António Costa disse que estava "chocado" depois de ouvir Marcelo. Já Galamba garantiu que não se vai despedir, após nova polémica. Atitudes que "não fazem sentido" e que são "descoladas da realidade", dizem Bernardo Ferrão e José Gomes Ferreira.

José Gomes Ferreira

Bernardo Ferrão

Daniel Pascoal

“Se tenciono apresentar demissão? Não, não tenciono”, disse o ministro João Galamba no Parlamento, a falar pela primeira vez após ser constituído arguido no âmbito da Operação Influencer. É mais um episódio polémico da crise política que inunda o país desde terça-feira. E nada parece fazer sentido.

É o que dizem Bernardo Ferrão e José Gomes Ferreira, jornalistas da SIC, que analisaram a postura de Galamba e também de António Costa, desde que saiu de Belém, após ouvir as declarações (e decisões) do Presidente da República.

“O primeiro-ministro passeia por Lisboa, diz que está chocado e acha que tem o direito de nomear um primeiro-ministro (Mário Centeno). Mas isto não é de agora. António Costa fez o mesmo quando pôs Galamba a fechar o debate do Orçamento do Estado para 2024 (OE2024), em mais uma prova de força contra o Presidente. Uma atitude provocadora. (…) Se o primeiro-ministro está chocado, como é que estão os portugueses?”, questionou Bernardo Ferrão.

Desde terça-feira, foram detidas cinco pessoas, incluindo o chefe de gabinete e o melhor amigo de Costa, no âmbito das investigações dos negócios do hidrogénio verde, do lítio e de um centro de dados em Sines.

Galamba foi arguido no processo, enquanto o primeiro-ministro está a ser investigado. Foram encontrados 75.800 euros em dinheiro no escritório de Vítor Escária, em São Bento.

“O que se passou hoje é inacreditável”

João Galamba esteve esta sexta-feira na Assembleia da República, na Comissão de Economia, para falar da apreciação do OE2024 na especialidade. Mas o tema do dia não escapou ao ministro das Infraestruturas, que não fugiu da pergunta e respondeu que não vai apresentar demissão.

“O que se passou hoje é inacreditável e reflete mais um episódio de um filme de terror que o país está a viver. A pose de Galamba, a arrogância a responder às perguntas dos deputados, achando que tem toda a razão e o direito para estar no Parlamento a defender o OE, parece um filme que não faz parte do que estamos a viver. Pior que Galamba, é Costa insistir em por Galamba naquele debate”, atirou Bernardo Ferrão, perguntando “quem é que acredita no ministro nesta altura”.

Galamba “devia ter pedido desculpa”

José Gomes Ferreira não foi surpreendido pela postura de João Galamba. Mas considera que o Ministro das Infraestruturas, revelando “falta de sentido de Estado”, está completamente “descolado” da realidade.

“Conhecendo a personalidade, não púnhamos isto (a demissão) como hipótese. Mas acho que João Galamba descolou completamente daquilo que o país está a pensar, do que foi um Governo deixar cair o país num pântano de promiscuidade entre policia e negócios. E ele está no centro dessa realidade tão criticável. Quase todos os países do mundo estão a olhar para nós e a achar que em Portugal há corrupção ao mais alto nível”, disse José Gomes Ferreira.

O jornalista da SIC acredita que a atitude correta era simples: “devia ter pedido desculpa aos portugueses e apresentado demissão”.

Recorde-se que Galamba já chegou a pedir demissão, ainda este ano, após a polémica na TAP e no Ministério das Infraestruturas. Na altura, contra a vontade de Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa segurou o ministro.

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