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Lítio e hidrogénio: "Os indícios estão cá, agora faltam as provas cabais"

Centros de dados, hidrogénio e lítio estão na mira da investigação da Procuradoria Geral da República, por suspeitas de corrupção. Bernardo Ferrão e José Gomes Ferreira analisam os indícios.

Bernardo Ferrão

José Gomes Ferreira

Daniela Tomé

Em análise no jornal da SIC desta quarta-feira, os jornalistas Bernardo Ferrão e José Gomes Ferreira analisaram as consequências da demissão do primeiro-ministro, sobretudo quais os motivos da indiciação da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Negócios parados?

Segundo o jornalista José Gomes Ferreira, “A grande questão é o que vai acontecer com grandes negócios do Estado".

"Nomeadamente investimentos em grandes projetos de hidrogénio em Sines, e um dos consórcios - que é o maior que está em investigação - que envolve a EDP, a GALP e outras empresas que eu chamo ‘do regime’, porque na verdade verifica-se que houve manipulação para que fossem beneficiadas. Depois estamos a ver aquilo que eram contratos que irão levar a investimento de muito mais, de 2 mil, 3 mil euros, na fileira do lítio”, acrescentou.

“Havendo eleições o novo Governo terá de decidir o que fazer com estes contratos. Estes contratos estão prejudicados e prova disso é que os próprios investidores na bolsa perceberam a gravidade do assunto e na sessão de ontem houve 1.700 milhões de euros de valor, potencial que despareceu”, constatou Gomes Ferreira.

Na opinião de José Gomes Ferreira, no caso do Partido Socialista (PS) ganhar novas eleições, “Que legitimidade terão para continuarem com este tipo de políticas sem serem constantemente questionados? E um novo Governo tem de dizer o que quer fazer com estes negócios”, explicando que há investimentos que ainda foram feitos no negócio do lítio e do hidrogénio.

Indiciação da PGR

“É preciso perceber até que ponto o Ministério Público tem alguma coisa de verdadeiramente sólido, para além daquele parágrafo, contra António Costa”, afirma Bernardo Ferrão.

Bernardo Ferrão frisa o facto de Marcelo Rebelo de Sousa ter aceite a sua demissão, sem qualquer aparente tentativa e o demover.

"Marcelo Rebelo de Sousa, antes de aceitar a demissão de António Costa, reuniu com a Procuradora-Geral da República, que lhe deu informação que não fez com que Marcelo dissesse a António Costa não se demita", acrescentou.

Quando percebermos que há uma empresa que reúne com o melhor amigo de António Costa que intercede para que esta empresa tenha uma facilitação nos negócios, isto já levanta outras suspeitas mas é preciso que isto seja concreto

Nas três ordens de factualidade indiciadas que, na opinião de José Gomes Ferreira “são impressionantes”, que faziam com que “António Costa teria que se demitir” independentemente do parágrafo que menciona na nota da PGR.

“Só a factualidade indiciada a estes grandes conjuntos. Por um lado, os projetos do hidrogénio e o que é feito para favorecer estas empresas do regime, por outro lado a questão do data center e a maneira como o amigo e o chefe de gabinete estão implicados pela indiciação são suficientemente fortes para levar à queda do Governo”, acrescentou.

Investigação do Ministério Público

Relativamente à investigação do Ministério Público, o jornalista Bernardo Ferrão afirmou que “Não pode repetir o que repetiu no passado com outros casos”.

“O que eu digo é que o trabalho do Ministério Público tem de ser bem feito, porque não cai um Governo de maioria absoluta por acaso. A indiciação está cá, agora faltam as provas cabais. Não podemos vir a lamentar o facto de a Justiça não ter funcionado bem e a própria Justiça ficar ainda mais fragilizada do que está", justificou

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