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Pobreza aumenta em Portugal: muitos escolhem entre comida ou medicamentos

1.696.000 pessoas vivem em situação de risco em Portugal. Quase metade da população pobre está no mercado de trabalho. A situação é crítica e muitos têm de escolher entre comida ou medicamentos.

Rui Carlos Teixeira

José Vaio

A Rede Europeia Anti-Pobreza aguarda com expectativa o programa do Governo de combate ao flagelo, mas está cautelosa quanto à sua execução. A organização realça que os números conhecidos já não representam a realidade. Com a inflação do último ano, tudo é ainda pior.

“Estou a trabalhar a meio tempo, estou numa residência de estudante e infelizmente quando chego, muitas vezes, ao dia 20, 21, já não tenho dinheiro para fazer face às despesas”, diz uma pessoa. “Atualmente vivo numa pensão em condições sub-humanas, somos 19 pessoas. Agora não temos luz, a porta do meu quarto não fecha e o banho é com água fria. Pago por isso 185 euros”, revela outra.

Os testemunhos de quem vive com muito pouco fazem parte da campanha “#pobrepovo", que foi lançada para assinalar o combate a uma realidade que em números pouco ou nada mudou, mas que se apresenta agora de outra forma

É o que mostra o mais recente relatório da Rede Europeia Anti-Pobreza. Em Portugal 1.696.000 pessoas estão em situação de risco.

  • 53,8% são mulheres
  • 57,6% têm entre os 18 e os 64 anos
  • 55,8% fazem parte de agregados com crianças

“47% da população pobre está a trabalhar”

A pobreza chegou em força às cidades e já não se resume a quem está desempregado.

“47% da população pobre está a trabalhar. Não é só no emprego que temos de intervir. É importante aumentar o salário mínimo nacional, que o salário médio acompanhe a inflação, mas é também importante termos presente a questão do sistema de proteção social”, diz Maria José Vicente, coordenadora nacional da Rede Europeia Anti-Pobreza.

Situação atual é ainda pior

Até porque estes números escondem uma realidade ainda mais dramática. Os dados divulgados são de 2021 e não mostram “o aumento do custo de vida do último ano”, revela a coordenadora.

No cenário atual, são muitos os relatos de quem tem de escolher entre comprar comida ou medicamentos.

Além da campanha, é lançado um livro que reúne fotografias e frases de quem vive ou já viveu em situação de risco.

Carta aberta aos partidos

Aos partidos vai ser entregue uma carta aberta assinada por mais de 100 pessoas para dizer que é urgente mudar. Um apelo no dia em que o Governo apresenta o novo programa de combate à pobreza.

Há expectativas quanto às medidas, mas muita cautela quanto à sua implementação.

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