Na sequência do 25 de abril, os dois primeiros Presidentes da República foram naturalmente militares, aliás, os dois mais prestigiados militares da altura, com impressionantes carreiras durante o Estado Novo e determinantes no enfraquecimento do marcelismo. Primeiro, António de Spínola, o homem a quem Marcelo Caetano se rendeu no Quartel do Carmo; depois, Costa Gomes, que estava para ser o primeiro Presidente, mas foi ultrapassado por Spínola na forma como este liderou os acontecimentos do dia em que a ditadura caiu.
Nas primeiras eleições, em 1976, ganhas pelo General Ramalho Eanes, havia mais dois militares no boletim de voto: Otelo, o grande operacional do 25 de Abril, e o Almirante Pinheiro de Azevedo, que tinha sido primeiro-ministro após o Verão Quente. Quatro anos depois, além dos repetentes Eanes e Otelo, apresentavam-se Soares Carneiro, Galvão de Melo e Pires Veloso. Depois disso nunca houve mais nenhum militar na corrida.
António Ramalho Eanes
Eleito Presidente em 1976, tentava o segundo mandato. Em choque frontal com Mário Soares e Sá Carneiro, viu a sua base de apoio mudar radicalmente entre as duas eleições. Quatro anos antes era apoiado por PS, PDS e CDS; desta vez, PSD e CDS lançaram outro candidato e Mário Soares deixou a liderança do PS porque se recusou a votar em Eanes. Ainda assim, o PS apoiou-o e o PCP também. Altamente prestigiado na sequência do 25 de novembro, onde foi o operacional a quem o Grupo dos 9 confiou a resposta a um eventual dos militares mais à esquerda, Ramalho Eanes foi facilmente reeleito com 56 por cento dos votos.
Soares Carneiro
Foi o militar escolhido por Sá Carneiro para enfrentar Eanes. Uma escolha difícil – outros militares mais conhecidos recusaram ser candidatos contra Eanes –, que não correu bem e cuja campanha ficou marcada pela trágica morte do primeiro-ministro, Sá Carneiro. A campanha foi condicionada por revelações feitas sobre o período em que estava em Angola durante a Guerra Colonial. Mais tarde, foi Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas durante o governo de Cavaco Silva, entre 1989 e 1994.
Otelo Saraiva de Carvalho
Principal operacional do 25 de Abril – é Otelo quem faz o plano militar do golpe – ganhou um enorme protagonismo no Verão Quente, quando se foi alimentando a ideia de uma democracia direta, inspirada pelos movimentos de extrema-esquerda. Nas eleições de 1976, surpreendeu com 16%, ficando em segundo lugar e à frente de Pinheiro de Azevedo e do candidato do PCP; que teve menos de metade dos seus votos. No entanto, em 1980, a chama de Otelo já se estava a apagar, não conseguindo passar os 1,5% dos votos.
Pires Veloso
Mário Soares confessou ter votado em Pires Veloso nestas eleições. Mas nem isso salvou o “vice-rei do Norte” de uma baixa votação. Pires Veloso ganhou este epíteto no 25 de novembro, uma operação militar liderada por Ramalho Eanes em Lisboa, mas que teve em Pires Veloso o comando no Norte do país. Chegou a afirmar mais tarde que Eanes “não fez nada” no 25 de novembro, defendendo que foi a existência de uma força disciplinada a Norte que garantiu o sucesso da operação.
Galvão de Melo
Integrou a Junta de Salvação Nacional criada logo após o 25 de abril, como representante da Força Aérea. Foi um crítico vocal da extrema-esquerda e acabou por ser detido na sequência do 28 de setembro de 1974, que levaria à renúncia do General Spínola, quem era muito próximo. Foi deputado pelo CDS e candidato nas presidenciais de 80, onde teve um mau resultado. Figura polémica e difícil de catalogar, foi dos raros portugueses a defender a posição da Indonésia no tema de Timor-Leste, mas integrou comissões de honra de candidaturas de Mário Soares