Cavaco Silva avisa que um primeiro-ministro nunca ganha em estar em conflito com o Presidente da República e considera mesmo que não é normal ficar em silêncio no Conselho de Estado, como António Costa terá feito.
Aníbal Cavaco Silva avisa que um primeiro-ministro nunca ganha em estar em conflito com o Presidente da República. Numa entrevista ao Observador, deixa críticas a António Costa. Diz que não é normal ficar em silêncio no Conselho de Estado.
Nas quase três décadas em que participou no Conselho de Estado, Aníbal Cavaco Silva não se lembra de uma reunião como a última, em que, da boca de António Costa, não saiu nem uma única palavra.
“Corroboro aqueles que disseram que não é normal. Devo dizer que, nos meus 28 anos de Conselho de Estado, não me recordo de uma situação dessas. Mas o senhor primeiro-ministro tem com certeza as suas razões, que eu respeito”, disse o ex-Presidente da República.
Em entrevista ao Observador, Cavaco Silva deixa um aviso: o primeiro-ministro devia evitar impor a Lei.
"O primeiro-ministro tem um instrumento que deve evitar utilizar, que é transformar o diploma em proposta de lei e apresentar à Assembleia da República e utilizar a sua maioria para impor a Lei, como foi agora o caso do programa Mais Habitação. O primeiro-ministro deve evitar essas situações de conflito com o Presidente da República. O primeiro-ministro não ganha no confronto com o Presidente da República.
António Costa nunca revelou se leu ou não o novo livro de Cavaco, mas o ex-Presidente da República conta agora que lhe enviou um exemplar da Arte de Governar.
“O primeiro-ministro, neste momento, já conhece o livro. Devo revelar aqui que, logo que o livro esteve disponível, enviei um exemplar ao senhor primeiro-ministro, que ele me agradeceu. Aliás, devo dizer que, contrariamente ao que muitos pensam, tenho uma relação pessoal normal com o senhor primeiro-ministro atual”, esclarece.
Cavaco Silva aponta falta de bom senso a alguns ministros e acusa António Costa de inação. Lembrou o caso de Pedro Nuno Santos e os mais recentes episódios no ministério das Infraestruturas, já no mandato de João Galamba.
“Foi tão esquisito, ultrapassou tudo o que se podia imaginar. Tendo em conta tudo o que foi descrito na comunicação social, tenho dificuldade em imaginar que tal pudesse acontecer num Governo e que tudo continuasse na mesma na segunda-feira”, admitiu.
Na mesma entrevista, Cavaco veste a pele da economista para dizer que é penoso ver a forma como o país empobreceu nos últimos 20 anos.
Considera que, o sonho português de se aproximar dos países mais desenvolvidos da União Europeia, está cada vez mais longe.