País

Cavaco defende que a tarefa mais difícil do primeiro-ministro é remodelar o Governo

De acordo com o antigo chefe de Estado, o comportamento do primeiro-ministro é decisivo para o funcionamento do executivo e, consequentemente, para a resolução dos problemas do país.

SIC Notícias

Lusa

O antigo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, defendeu esta sexta-feira que a tarefa mais difícil de um primeiro-ministro é remodelar com sucesso o seu Governo e advertiu que a União Europeia não é "bode expiatório" para problemas nacionais.

Na apresentação do seu livro “O Primeiro-Ministro e a Arte de Governar”, Cavaco Silva deixou muitos recados em matéria de ideal de condução política de um Governo por parte do primeiro-ministro. Em particular, salientou a questão das remodelações, algo em que o atual chefe de Governo, António Costa, se tem mostrado resistente.

"Em termos pessoais, a tarefa mais difícil para um primeiro-ministro é a realização com sucesso de uma verdadeira remodelação ministerial. Exige sangue frio, sigilo, preparação e execução meticulosas. Apanhar a comunicação social e o país político de surpresa é o ideal", sustentou.

Observou, a seguir, que, enquanto primeiro-ministro, fez duas amplas remodelações em dez anos de funções: em janeiro de 1990 e em dezembro de 1993.

Nos tempos atuais, acrescentou, caracterizados pela agressividade mediática, é mais difícil conseguir remodelar e apanhar todos de surpresa, mas insistiu que "o supremo interesse nacional deve sempre prevalecer".

De acordo com o antigo chefe de Estado, o comportamento do primeiro-ministro é decisivo para o funcionamento do executivo e, consequentemente, para a resolução dos problemas do país, ponto em que manifestou estranheza pela forma recente como os líderes de executivos têm sido avaliados em termos públicos.

Essa avaliação, segundo Cavaco Silva, "tende a ignorar a centralidade e a amplitude das competências que a Constituição atribui ao primeiro-ministro: Dirigir o funcionamento do Governo, dirigir a política geral do Governo, coordenar e orientar a ação de todos os ministros, propor ao Presidente da República a nomeação e exoneração de ministros e secretários de Estado".

O antigo governante analisou também o tema relacionado com a importância de Portugal pertencer à zona euro, questionando em que situação estaria Portugal - país que em democracia já passou por três "gravíssimas crises financeiras" -, se estivesse fora do núcleo duro da União Europeia, sem acesso ao Banco Central Europeu e a um mercado financeiro internacional alargado.

"A União Europeia e a zona euro são indiscutivelmente o espaço em que Portugal pode realizar os objetivos de desenvolvimento. Portanto, importa ao Governo não cometer erros e não fazer da União Europeia o bode expiatório", frisou.

Últimas