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Autoridades de Saúde confirmam: houve várias trocas de cadáveres na morgue do Hospital de Faro

Não se tratou apenas de um único caso, que já não teve solução para as famílias devido à cremação do corpo. O inquérito aponta o dedo aos profissionais da morgue por incumprimento dos procedimentos de identificação.

João Tiago

Luís Silva

A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) concluiu que foram, de facto, vários os cadáveres trocados nos últimos anos no Centro Hospitalar Universitário do Algarve e não apenas um único caso - ocorrido em novembro do ano passado, que já não teve solução para as famílias devido à cremação do corpo. O inquérito aponta o dedo aos profissionais da morgue daquela unidade por incumprimento dos procedimentos de identificação.

O corpo de um sexagenário francês foi cremado, pensando-se tratar-se do de um inglês com cerca de 80 anos. Tinham morrido na mesma altura, em novembro do último ano, no Hospital de Faro.

Os cadáveres foram devidamente identificados e encaminhados para a morgue, onde acabaram trocados devido a falhas nos procedimentos de confirmação de identidades, que a ERS apurou serem prática comum e que foram também responsáveis por outros erros no passado.

“A família toda reunida e quando se abre o caixão é outra pessoa”

A família de Conceição Freitas, falecida em outubro de 2019, foi uma das que então decidiu tornar público o engano, detetado já durante o velório.

“Estava a família toda reunida, vieram pessoas dos Açores, do Porto, de Abrantes, de Benavente… E quando se abre o caixão é outra pessoa, com a roupa da minha mãe, que tinha sido entregue à funerária. Foi toda uma situação que nem consigo descrever”, contou Ricardo Freitas, filho de Conceição, à SIC em novembro de 2022.

No caso, a troca deu-se já depois do reconhecimento do corpo, mas noutras situações até esse passo foi descurado.

Veio a público um velório interrompido em Faro, em 2009, quando se aperceberam da troca. Outro, 10 anos depois, também em Faro. Em 2017, foi em Portimão, com o engano a ser detetado já depois do velório. E em Olhão, em 2020, foi a enterrar a mulher errada.

Todos estes casos foram confirmados pela ERS, concluindo que os procedimentos de verificação da identidade e entrega de cadáveres não estão a ser seguidos pelos profissionais do Centro Hospitalar Universitário do Algarve.

Ex-funcionário denunciou falta de cuidado na identificação dos corpos

“Quando eu lá entrei, eram três funcionários e era a mesma prática para todos porque havia algo por trás a justificar esse comportamento. Alertei a chefia e a chefia disse-me ‘eu sei aquilo que estou a fazer’”, explicou à SIC António Caliço, antigo funcionário da morgue, em novembro de 2022.

Descreveu então ligeireza em todo o processo, Incluindo na verificação das três etiquetas associadas a cada corpo.

Centro hospitalar garante ter novos procedimentos

O Centro Hospitalar do Algarve garantiu ter adotado procedimentos mais rigorosos, mas a ERS quer agora provas do seu cumprimento. Na instrução emitida pela autoridade de Saúde é exigida mais formação, mecanismos de verificação e até auditorias regulares.

A administração da unidade, que chegou a colocar o lugar à disposição devido a este caso, diz que a situação já foi corrigida, tendo já cumprido a instrução, depois de dois funcionários terem sido alvo de sanções disciplinares.

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