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"Salários de miséria" e "desvalorização": por que estão os militares a sair das Forças Armadas?

Ana Gomes e Paulo Baldaia criticam a "desvalorização" que tem havido nas Forças Armadas portuguesas e pedem "coragem política" para investir na Defesa Nacional.

Ana Gomes

Paulo Baldaia

SIC Notícias

Faltam mais de 7.000 militares nas Forças Armadas portuguesas. Só no ano passado, saíram mais de 2.000 militares do setor público. A falta de efetivos é uma queixa repetida, numa altura em que parece haver mais chefes do que soldados. Ana Gomes e Paulo Baldaia analisam o estado a que chegaram as Forças Armadas portuguesas e o que é preciso fazer para mudar o paradigma.

Para Ana Gomes, falta “sensibilidade” aos dirigentes políticos para perceber que “o país não existiria se não fossem as Forças Armadas” e que as várias vertentes das Forças Armadas “exigem preparação, formação, equipamento, treino”. Por outras palavras, precisam de investimento e dinheiro.

“Há inúmeras áreas onde mais do que nunca a exigência de formação é real no quadro das Forças Armadas e isto paga-se. É preciso ter sensibilidade para entender iso e é preciso ter a coragem política de explicar isso aos cidadãos. Isso tem de se pagar e com salários razoáveis de acordo com a função e as necessidades. Se não, as pessoas são desviadas para o privado”, alerta a comentadora da SIC Notícias.

Perante os “salários de miséria”, Ana Gomes não fica admirada com a atual “situação absurda em que temos o dobro dos chefes para cada soldado”.

Paulo Baldaia, jornalista do Expreso, sublinha que as Forças Armadas “têm estado a ser completamente desvalorizadas”, o que faz com que as pessoas com competências procurem melhores condições de trabalho no privado.

Lembra também que Portugal integra missões internacionais – tanto no âmbito da ONU como da NATO – e que o número de soldados necessários “está estipulado”.

“Esses 7.000 militares que faltam não é o desejo de alguém, não é um número que saiu não se sabe de onde. Não. São o número de militares que Portugal precisa para poder cumprir a sua função no quadro em que se move – seja na ONU, seja na NATO”, afirma.

O jornalista critica a “hipocrisia do poder político” que tem marcado os últimos anos e que é transversal a vários Governos.

“É uma opção dos Governos terem as Forças Armadas que temos hoje. Porque não têm coragem – mas assumiram que era assim – de ir explicar que é preciso gastar mais dinheiro com as forças armadas. Como não são capazes de fazer isso, entendem que assim está bem.”

Ana Gomes deixa também críticas a Marcelo Rebelo de Sousa. Enquanto Presidente da República, Marcelo é também o Comandante Supremo das Forças Armadas.

“É uma das pessoa que tem revelado grande insensibilidade. E é particularmente grave porque é comandante supremo das Forças Armadas”, afirma a comentadora. “Esta era uma questão que devia estar na agenda do conselho de estado que ele acabou de anunciar que teria lugar em setembro.”

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