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Partidos acusam Governo de ser "incapaz, incompetente e instável" após outra demissão

Avanços de moções de censura, apelos para “mudar de vida” a respeito de outra polémica que assola o Governo que soma já a sua 13ª demissão desde a tomada de posse há mais de um ano. O secretário de Estado da Defesa demitiu-se e os partidos políticos reagem, mais uma vez, desfavoravelmente à “instabilidade” governativa.

João Pedro Neves

Maria Madalena Freire

O secretário de Estado da Defesa pediu a demissão esta sexta-feira e os partidos políticos criticam, uma vez mais, uma polémica e um abandono de cargo no Executivo de António Costa.

Marco Capitão Ferreira desempenhava as funções de secretário de Estado da Defesa desde o início do atual Governo socialista de maioria absoluta. Conforme avançou o Expresso, Marco Capitão Ferreira contratou um assessor fantasma enquanto gestor das empresas da defesa.

“Problema do General”

O partido Iniciativa Liberal mostrou-se bastante insatisfeito perante mais uma demissão no Governo, mesmo após ter questionado o Ministério da Defesa sobre se Marco Capitão Ferreira tinha acumulado estas funções com o cargo que assumiu na empresa EMPORDEF em abril desse ano, interrogando se teria sido violado o estatuto do gestor público.

“Para nós é muito óbvio que isto é mais um caso em que o Partido Socialista não aprende, nem se arrepende. Nós já tínhamos dito que Marco Capitão Ferreira e João Gomes cravinho, atual Ministro Negócios Estrangeiros, não tinham condições para sequer ter entrado neste Governo”, esclareceu Rodrigo Saraiva.

Para a IL, o trabalho executado pelo ministério tem de ser feito com “uma minúcia técnica muito grande, com aquisição de material militar e que foi executada em cinco dias e pago na totalidade”.

“Onde é que estão as provas? Os relatórios que o contrato diz que tem que existir? Onde é que estão os relatórios? Das respostas que vieram do Governo, do atual Governo da senhora ministra, essas provas não vieram. O que é que aconteceu depois?”, perguntou o deputado que acrescentou “perante essa fuga às respostas, houve partidos a pedir a audição a Marco Capitão Ferreira que foi marcada para a próxima semana”.

No entanto, Marco Capitão demitiu-se antes de comparecer na audição. Apesar de ter “fugido”, como acusa o deputado liberal, “o problema não é de um capitão, o problema aqui é do General”.

“O problema é de António Costa, que não aprende, nem se arrepende. O que isto vem demonstrar é uma das características pelas quais nós apresentámos uma moção de censura ao Governo. Nós dissemos que este Governo é incapaz, é incompetente e instável e isto é mais um episódio”, concluiu Rodrigo Saraiva.

“Mudar de vida”

Já o Partido Social Democrata, por intermédio de Jorge Paulo Oliveira, criticou também a incapacidade do Governo executar as suas funções e estar focado nos problemas dos portugueses quando está assolado por “casos e casinhos”.

“Este caso, esta demissão envolvida em atos suspeitos de condutas menos próprias é de um Governo que não consegue desenvencilhar dos casos e os casinhos e é um Governo incapaz de focar na resolução dos problemas do país”, respondeu.

Mais. O PSD aconselhou o Governo a “mudar de vida” e a arrumar a casa, porque se não o fizer, “um dia os portugueses terão de mudar de Governo”.

“Obsessão e teimosia” do Governo

Na vez de comentar, André Ventura colocou várias questões que ainda estão por responder por parte do Executivo de António Costa, nomeadamente pelo Ministério da Defesa.

“Em que medida e de que forma entendeu a senhora Ministra da Defesa que o senhor secretário de Estado tinha condições para continuar a ser governante, mesmo após todos os factos que continuavam sem esclarecimento? Que contrato foi aquele, porque é que foi feito? Porque é que foi celebrado?”, interpelou o líder do Chega.

Da mesma forma que existem estas “pontas soltas”, também Ventura referiu que existem outras questões incertas, como as questões do hospital militar de Belém ou as questões da contratação de Alberto Coelho.

Por isto, o líder do partido Chega considerou que o secretário de Estado, agora demitido, “estava há muito tempo em cima de um muro que só tinha uma queda para um lado”.

“O Governo, mais uma vez por teimosia, por obsessão em manter o status quo, optou por manter este secretário de Estado em funções”, concluiu.

Governo “demasiado distraído” para governar

O Bloco de Esquerda critica a sucessão de demissões do Governo relacionadas com suspeitas e polémicas e diz que prejudicam a resolução dos verdadeiros problemas do país.

“O questionário que o senhor primeiro-ministro impôs aos membros do Governo, dizendo que era a solução para a sucessão de casos e casinhos, era uma história para adormecer crianças”, salientou Joana Mortágua, deputada da bancada parlamentar do BE.

Para a deputada, a “sistemática contratação externa em outsourcing de gabinetes de advogados, de consultoria, de estudos técnicos, não só desqualifica o Estado, como é o terreno perfeito para este tipo de contratos e de assessoria que se depois vêm revelar pouco transparentes”.

Os casos têm vindo a amontoar e, segundo Joana Mortágua, os problemas estruturais do país não estão a ser resolvidos, porque o Governo está “em permanente gestão de casos e casinhos, de portas giratórias, de permanentes suspeitas”.

Por isso, está “demasiado distraído para governar”.

A espuma, os casinhos: só existe estabilidade

No mês passado, o primeiro-ministro António Costa afirmou ser “o garante da estabilidade”, após ser questionado se aceitaria algum cargo europeu, neste momento.

"Eu sou o garante da estabilidade. Já expliquei a todos que não aceitarei uma missão que ponha em causa a estabilidade em Portugal. Alguma vez eu poria em causa a estabilidade que tão dificilmente conquistei?", questionou.

Já nas Jornadas Parlamentares do PS, o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, salientou que o Governo está ocupado a manter a estabilidade, enquanto outros se entretêm com "a espuma dos dias".

“Do quotidiano da política nacional, nós devemo-nos focar nessa que é uma vantagem essencial do país, que é uma vantagem essencial da democracia política, que muito se deve ao PS e que o PS é hoje o garante fundamental: a estabilidade política”, concluiu.

O líder do PS, António Costa, acusou também as oposições de só quererem "discutir 'fait divers', casos e casinhos

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