País

Médicos do Santa Maria questionam obras da maternidade e revelam pressões

A carta a que a SIC teve acesso foi assinada por 34 dos 37 médicos do departamento de obstetrícia do hospital Santa Maria e encabeçada pelo diretor do serviço, que foi entretanto exonerado por “colocar em causa” o projeto das obras da maternidade.

Carolina Botelho Pinto

SIC Notícias

A SIC teve acesso a uma carta enviada por 34 dos 37 médicos do departamento de obstetrícia do hospital Santa Maria, há quatro dias, à administração. Nela, dão conta de várias preocupações, como as obras de remodelação do serviço, orçadas em seis milhões de euros.

O primeiro subscritor desta carta é Diogo Ayres de Campos, diretor do departamento de obstetrícia, entretanto afastado por ter “colocado em causa” o projeto, também presidente da Sociedade Europeia de Medicina Perinatal e um dos nomes mais reputados na área da obstetrícia. Apenas três médicos da equipa não assinaram.

O que está em causa?

O plano para a resposta de Obstetrícia e Ginecologia traçado pela DE-SNS prevê que, enquanto o bloco de partos do hospital de Santa Maria (HSM) estiver fechado para obras - nos meses de agosto e setembro - os serviços fiquem concentrados no Hospital S. Francisco Xavier (HSFX), que encerrava de forma rotativa aos fins de semana e, a partir de 1 de agosto, volta a funcionar de forma ininterrupta sete dias por semana.

Na carta, que a SIC agora divulga, os médicos enumeram cinco preocupações e questionam as condições de internamento no pós-parto, bem como a falta de profissionais disponíveis para o suporte neonatal.

Os 34 médicos alertam que há “apenas 11 salas de partos (2 a menos do que as necessárias) e 38 camas de Puerpério (16 a menos do que as necessárias). Isto deverá resultar num maior número de períodos de sobrelotação das instalações, reduzindo a resposta conjunta na assistência ao parto em cerca de 25%”.

Sublinham ainda as possíveis dificuldades de acesso das grávidas do Santa Maria ao S. Francisco Xavier, pela falta de “linha de metropolitano” junto ao hospital e pela demora que a deslocação poderá implicar.

Médicos acusam administração de pressão para colaborar

Na mesma missiva, os profissionais de saúde do departamento de obstetrícia do Santa Maria manifestam desagrado pela pressão exercida para “assegurar a colaboração com o HSFX”.

“Gostaríamos também de manifestar o nosso desagrado pela forma como a equipa se sentiu pressionada para assegurar a colaboração com o HSFX, mesmo antes de se conhecerem as instalações disponíveis neste último, antes de estarem acordadas as situações clínicas e os profissionais de saúde que seria necessário deslocar, antes de estarem acordadas as obras previstas para o HSM”, escrevem.

Por fim, dizem-se disponíveis para uma “eventual colaboração”, mas apontam quatro pressupostos para tal acontecer:

  • A apresentação das plantas de remodelação da maternidade do hospital Santa Maria e informação sobre data para arranque das obras
  • Confirmação da existência de condições para que a atividade clínica no HSFX seja exercida com segurança e dignidade
  • Garantia da presença de médicos do departamento em todas as futuras reuniões conjuntas com o hospital S. Francisco Xavier
  • Não é expectável que a equipa médica do HSM possa assegurar a composição de mais do que três das oito equipas médicas de urgência no HSFX

Leia a carta na íntegra

Se não conseguir visualizar o documento, clique aqui.

Últimas