País

As provas - desenhadas e escritas - da descoberta portuguesa das Américas

Por ocasião da 93ª edição da Feira do Livro de Lisboa, relembro e reforço a linha de argumentação do meu último livro “Os Segredos da Descoberta Portuguesa das Américas”, com uma nova análise do mapa de Piri Reis de 1513.

José Gomes Ferreira

[ATUALIZADO EM 25/06/2023]

Sete meses passados e milhares de exemplares vendidos depois da publicação do meu livro “O Segredo da Descoberta Portuguesa das Américas”, quanto mais se aprofundam as investigações independentes, a leitura de documentos e a interpretação de mapas da época, mais aumenta a convicção de que as histórias oficiais dos países das Américas e dos países europeus envolvidos nos Descobrimentos continuam a rejeitar factos absolutamente documentados e provas absolutamente sólidas só porque chocam com as teorias oficialmente estabelecidas como corretas.

É o caso da tese da pré-descoberta portuguesa das Américas defendida no meu livro.

Um documento absolutamente seguro para a provar, o mapa de Piri-Reis, ou é ignorado na parte que diz respeito a essa pré-descoberta, ou é deturpado na interpretação do que mostra claramente e que os historiadores oficiais teimam em não querer ver.

As anotações do mapa de Piri Reis dizem claramente que as costas continentais da região de Antília, as Antilhas das Caraíbas, foram descobertas em 1490, e não foi pelos espanhóis nem por Cristóvão Colombo.

No livro “The Oldest Map of America”, do Professor Afet Inan (Ankara, 1954, páginas 28 a 34), estão traduzidas para inglês 24 anotações do mapa de Piri Reis. A nota V refere-se às costas sul-americanas de Antília, frente à ilha de Trinidad, e diz o seguinte:

“Estas são as chamadas costas de Antília. Foram descobertas no ano de 896 do calendário Árabe (que corresponde ao fim do ano de 1490 e parte de 1491 do calendário gregoriano, ou cristão). Mas é considerado que um infiel genovês, chamado Colombo, ficou conhecido como o descobridor destes lugares. Por exemplo, um livro (Atlas?) caiu nas mãos do dito Colombo, livro esse que dizia que no fim do Mar Ocidental (Atlântico) havia costas e ilhas e toda a espécie de metais e pedras preciosas. O acima mencionado (Colombo), tendo estudado este livro aprofundadamente (…)” foi pedir “navios para descobrir estes lugares”, que o “Bey de Espanha” (Rei de Espanha) acabou por lhe conceder. “Parece que ele (Colombo) tinha lido no livro que, naquela região, as contas de vidro eram muito apreciadas.”

Ora se no mapa de Piri Reis de 1513, o autor escreve que as costas do subcontinente americano na região das Antilhas foram descobertas em 1490-91, e se Colombo só as visitou em 1498, quem é que realmente as descobriu e já sabia que as contas de vidro eram ali muito apreciadas, tendo até escrito um livro (Atlas) sobre isso?

Se cruzarmos este valiosíssimo documento com o mapa de Henricus Martellus de 1490-91 e com o globo de Martim Behaim do mesmo ano, ambos feitos com base em informações sobre os descobrimentos portugueses, a resposta é evidente: foram os portugueses que descobriram as Antilhas das Caraíbas e as costas da América continental naquela região. Não só a península da Florida aparece claramente desenhada nestes dois mapas com o nome de Cipango, como no Globo de Martim Behaim é bem visível a ilha de Trinidad com o nome de Sant Brendam. As coordenadas geográficas das respetivas localizações assim o indicam.

Voltando agora à análise do mapa de Piri Reis de 1513, este mostra claramente que toda a costa da América Central do Sul até depois do cabo Horn já estava descoberta muitos anos antes e que foram os portugueses que dobraram a extremidade sul deste subcontinente, tendo também na mesma altura descoberto a entrada do estreito de Magalhães (oficialmente só achado em 1519).

Uma inovadora interpretação do estranho formato da parte inferior da costa leste da América do Sul no mapa de Piri Reis foi formulada por Diego Cuoghi num artigo intitulado “The mysteries of the Piri Reis Map”, (Part 1), escrito em italiano e traduzido para inglês por Roberto Patriarca:

O curioso desenho desta costa resultou de duas ou três razões, das mais simples que podem ser formuladas: ou o autor do mapa fez rodar a parte sul 90 graus no sentido contrário aos ponteiros do relógio para estar caber no pergaminho de gazela que estava a utilizar, ou então enganou-se na reprodução do mapa original que estava a utilizar e conjugou-o erradamente com os outros mapas das costas do Brasil e das Antilhas deixando-o rodado 90 graus para leste, ou estas duas razões aconteceram ao mesmo tempo.

Este tipo de engano pode ter sido exatamente o mesmo que o investigador australiano Peter Trickett encontro nos mapas de Vallard da escola de Dieppe com as costas da Austrália, que de forma brilhante demonstrou no seu livro “Beyond Capricorn” terem sido desenhados a partir de portulanos mal conjugados entre si com erros de rotação de 90 graus nalguns casos.

De qualquer forma a parte inferior da costa leste da América do Sul aparece toda desenhada no mapa de Piri Reis, como podemos ver neste desenho de Diego Cuoghi:

A melhor maneira de verificar a teoria de Dieogo Cuoghi é seccionar uma cópia do mapa de Piri Reis na parte em que a costa da América do Sul, a seguir ao Brasil, inflete para leste, e rodá-la 90º na direção sul.

Ao deslocarmos a parte inferior desta costa 90 graus no sentido dos ponterios do relógio obtemos rapidamente o verdadeiro formato da costa leste de toda a América do Sul, incluindo a Terra do Fogo e o Cape Horn.

O resultado é absolutamente surpreendente e a comparação com o perfil real das costas do sub-continente americano não deixa nenhuma dúvida.

Mas para os leitores e até para os especialistas mais céticos, que duvidam que o extremo sul da América do Sul já tinha sido descoberto em 1513, que dizer da parte ocidental do célebre mapa mundo de Martim Waldseemuller, que já em 1507 mostrava toda acosta americana desde o Cape Cod, passando pela Florida (igual ao formato do mapa de Cantino de 1502) e continuava até Cape Horn onde já era exibida uma bandeira portuguesa?

Com maior ou menor aproximação, a matriz de representação das costas da América do Norte, Central e do Sul no mapa de Waldseemuller de 1507 é a mesma que teve início no mapa de Cantino de 1502, reaparece no mapa de Canério de 1504 e continua a poder ver-se no mapa de Piri Reis de 1513, conforme fica bem ilustrado por este desenho do site oarquivo.com.br sobre o mapa turco:

O mesmo tipo de desenho aparece desenvolvido e explicado num artigo online intitulado “Piri Reis maps and claims for Antártica”, publicado por Carl Feagans em Fevereiro de 2017, no site Archaeology Review, onde o autor defende a descoberta das ilhas Malvinas e de toda a costa até à passagem de Francis Drake para o Pacífico, antes de 1513, considerando que a parte inferior do mapa da América do Sul de Piri Reis está indevidamente rodado 90º para leste e que nele não aparece absolutamente nada da costa da Antártida:

Voltando ao texto de Diego Cuoghi, a comparação é ainda mais pormenorizada no que diz respeito à referida parte inferior da costa da América do Sul, nomeadamente no troço entre o sul do Brasil e Cape Horn:

Focando ainda mais a nossa atenção, agora na zona do Estreito de Magalhães que Piri Reis considerava ser “dos infiéis portugueses”, conforme escreveu no famoso mapa, e também na costa da Terra do Fogo, a comparação é igualmente evidente:

Em resumo, no entender de Diego Cuoghi:

“Mesmo sem ser um especialista de cartografia, basta olhar com atenção para esta parte do mapa de Piri Reis para perceber que representa nada mais do que a extremidade sul do subcontinente americano; uma representação aproximada apenas possível com os meios disponíveis naquela altura. O desenho está deformado, rodado para a direita, provavelmente para se adaptar ao formato do próprio pergaminho. Mas é também importante mencionar que a demarcação cartográfica entre as zonas de influência espanhola e portuguesa poderia servir como um pretexto para a respetiva potência reclamar direitos de posse: Várias vezes Piri Reis mencionou mapas portugueses nas suas notas e é claro que os portugueses teriam preferido que a costa a sul do Brasil pendesse fortemente para o lado direito na direção de África. Assim, esta costa teria ficado dentro dos 180 graus atribuídos a Portugal pelo tratado de Tordesilhas de 1494.”

Fosse por razões de propaganda geopolítica da época, por engano, simplesmente para adaptar o desennho à area de pergaminho disponível, ou por várias destas razões ao mesmo tempo, a verdade é que esta parte do mapa de Piri Reis representa toda a costa da América do Sul até ao Cabo Horn e não é uma hipotética representação da Antártida, ao contrário do que muitos autores escreveram e continuam a escrever.

“Se olharmos atentamente para a ponta mais à direita que é suposto representar a Antártida, podemos ver a pintura de uma serpente”. A nota inscrita por Piri reis nesta zona diz que “Esta terra é desabitada e tudo está em ruínas (é estéril?) e é dito que grandes serpentes se podem encontrar aqui. Por isso, os infiéis portugueses (viram, mas) não desembarcaram nestas costas, que também se diz que são muito quentes (Terra do Fogo)”. Assim, conclui Diego Cuoghi, “Claramente esta descrição não se aplica à Antártida de maneira nenhuma”!

O mapa de Piri Reis mostra ainda toda a costa leste da América do Norte deste a península da Florida até depois de Cape Cod, incluindo Massachusstes Bay, Portland Bay e Rocland Bay, bem como a península da nova Escócia, as ilhas de Cape Breton e de Prince Eduard, bem como as da Terra Nova e Sable Island.

A parte continental da costa leste da América do Norte ainda não tinha sido oficialmente descoberta mas já consta do mapa de Piri Reis, tal como já constava de uma série de outros mapas anteriores inspirados pelo célebre mapa de Cantino, de 1501, a obra prima portuguesa da cartografia mundial que serviu de modelo aos mapas de Canério (1504), Walsdseemuller (1507), e outros da mesma série.

Conforme vemos nas imagens que não deixam grandes dúvidas na comparação entre o mapa de 1501-02 e os mapas reais da costa leste da América do Norte, o primeiro mapa-mundo digno desse nome foi o Planisfério de Cantino, que a investigadora Alida Metcalf não tinha dúvida nenhuma ter sido desenhado por um grande cartógrafo português – Pedro Reinel!

(e-Perimetron, Vol. 12, No. 1, 2017 [1-23] www.e-perimetron.org | ISSN 1790-3769, Alida C. Metcalf, Who Cares Who Made the Map? La Carta del Cantino and its anonymous maker).

Estas são provas mais do que seguras da pré-descoberta das Américas pelos portugueses em relação às datas oficialmente aceites.

Tal como ficou escrito no meu livro “O Segredo da Descoberta Portuguesa das Américas”, há mais de 500 anos a grande Europa, a começar pela Espanha, foi para o Novo Mundo aos ombros de um pequeno país: Portugal!

Os meus críticos continuam a não querer admitir estas provas, mas estou certo de que os nossos filhos e netos ainda hão de estudar a História de Portugal por manuais bem diferentes dos de hoje, provavelmente influenciados por este pequeno livro de investigação jornalística sobre a maneira pouco convincente como a História de Portugal é contada nos nossos dias…

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