José Gomes Ferreira e Ana Gomes comentaram a operação Tutti Frutti e a intervenção do primeiro-ministro na ordem ou permissão da atuação do SIS na noite de 26 de abril no Ministério das Infraestruturas.
Esta quinta-feira, o deputado do PSD, Carlos Reis, esclareceu que as alegações nas reportagens da TVI foram “mal trabalhadas” e que a peça jornalística é "incompetente", sendo que só transmite mentiras.
No entender de Ana Gomes, aquilo que a reportagem revela é “grave”.
“O que é invocado é de tal modo grave no que é a perversão da democracia que não admira que aqueles que são visados tenham uma carapaça dura e se prestem a arrostar com isto e dizer argumentos para escovar-se do assunto. A mim preocupa-me o Estado de Direito, pela perversão da democracia que este tipo de alegações envolve, de captura do Estado a nível das autarquias”, comentou a ex-diplomata.
Mas, ao mesmo tempo, também a preocupa o Estado da Justiça, sendo que a investigação está a ser “arrastada há uma série de anos, sem constituir arguidos” e, de repente, ser lançada “esta informação para a praça pública”.
“Como é que é possível? É trabalhar para a prescrição”, admitiu Ana Gomes.
Este caso está a ser investigado há oito anos e, para a socialista, se o Ministério Público está convencido que "estão ali criminosos, então estão a protegê-los", segundo a ex-deputada europeia.
Já José Gomes Ferreira esclarece que “ninguém sai bem na fotografia” neste processo Tutti Frutti.
“Esta matéria pareceu-me de gravidade extrema na altura. Então o MP tem os elementos todos e não aprofunda logo a investigação?”, questionou.
Da mesma forma, José Gomes Ferreira ressalvou que o Ministério Público tem muito mérito, mas que neste caso “não se percebe”.
As reportagens emitidas na terça e quarta à noite pela TVI/CNN Portugal, dão conta de que no âmbito da Operação Tutti Frutti foram intercetadas escutas e comunicações que apontam para um alegado "pacto secreto" entre PSD e PS para cada partido manter a liderança de determinadas juntas de freguesias de Lisboa nas eleições autárquicas de 2017.
SIS, Costa e Mendonça Mendes
No debate parlamentar desta quarta-feira, António Costa manteve-se em silêncio sobre Mendonça Mendes e João Galamba, sem esclarecer quem chamou, ordenou ou sabia da intervenção do SIS.
Ana Gomes percebeu que o primeiro-ministro, no plenário, tenha querido proteger o SIS, mas considerou “contraproducente escamotear as questões”.
“Desviar as atenções acaba por ser mais conspícuo e até atiça o questionamento seja pelos partidos da oposição ou imprensa. Mais curial seria o primeiro-ministro vir admitir que foi feito um erro, nem que seja pela narrativa que foi fornecida ao SIS para justificar aquela intervenção, que é contra a lei, e pedir desculpa à vítima”, analisou Ana Gomes.
O primeiro-ministro, António Costa, acusou esta quarta-feira o presidente da Iniciativa Liberal de ofender os profissionais e dirigentes dos serviços de informação, reiterou que agiram corretamente, sem instruções do Governo, e argumentou que nunca aceitariam ordens ilegais.
Sabe-se que o SIS foi contactado por Eugénia Correia. Mas a questão permanece: a pedido ou por sugestão de quem?
Numa primeira versão, Galamba disse que tinha sido a ministra da Justiça a referir a necessidade de falar com o SIS. Mas no Parlamento, na quinta-feira, garantiu que afinal foi o secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, António Mendonça Mendes, que tem recusado falar sobre o assunto.
Já o primeiro-ministro soube pelo ministro das Infraestruturas.
Antes, Galamba tinha apenas dito que nessa noite ligou, mas o primeiro-ministro não atendeu o telefone.
Mas afinal, o ministro das Infraestruturas falou com António Costa ainda nessa noite, mas já no dia seguinte, depois da uma da manhã.