O presidente do PSD, Luís Montenegro, acusou esta terça-feira, em Braga, o primeiro-ministro, António Costa, de ter "duas caras" em termos de política de imigração, e de andar a brincar à governação no que diz respeito à habitação. Em relação a este último tema, o social-democrata considera que a solução passa por um “Governo com coragem”.
“António Costa anda a brincar com Portugal, anda a brincar à governação, anda a experimentar políticas novas. Sete anos depois descobriu que precisava de um Ministério da Habitação, vem com um pacote para a habitação que ninguém, ninguém em Portugal, é capaz de defender, já nem os membros do Governo", contestou Montenegro.
O caminho, prosseguiu, passa por “um Governo que tenha coragem de fazer reformas estratégicas, estruturantes, para o nosso futuro e que sejam pensadas”. A questão que se coloca é “se quem lá está a governar há sete anos não é capaz de fazê-lo, o país tem que se virar para a alternativa política”, vincou, assegurando que "é isso que nós andamos a fazer no PSD”.
Também em tom de crítica foram os comentários de Montenegro sobre a atuação do Executivo de maioria absoluta sobre a questão da imigração, uma tem, saliente-se, valeu já “recados” do Presidente Marcelo a Carlos Moedas e ao próprio líder do PSD.
“Portugal precisa de um programa nacional de acolhimento, de integração de imigrantes, que faça em todo o mundo atrair gente que tem vontade de crescer na vida, vontade de trabalhar, vontade de ter uma oportunidade”, sustentou o líder “laranja", dizendo que o que diz hoje já digo há cinco anos.
Diferente do chefe do Governo, apontou, que “tem duas caras: uma em Portugal e outra no estrangeiro, diz duas coisas diferentes, contraditórias entre si”, não é isso que resolve os problemas dos imigrantes mas sim “políticas concretas”.
O que disse António Costa?
À margem da cimeira da União Africana, que decorreu em Adis Abeba no sábado e domingo, o primeiro-ministro, António Costa, subscreveu a proposta do presidente do Conselho Europeu para um pacto entre a Europa e África que regule o fluxo migratório, punindo os grupos criminosos que traficam pessoas mas também promovendo canais legais de migração.
"A vizinhança convive e esse convívio tem que ser um convívio devidamente regulado e não ser uma oportunidade para a criminalidade organizada e uma ameaça para a vida de todos aqueles que querem encontrar do lado de lá do Mediterrâneo novas oportunidades de vida", afirmou à Lusa António Costa, à margem desta cimeira na qual participou como observador, sendo o único governante não africano presente.
Em paralelo, é necessário definir canais de migração legais, sustentou o primeiro-ministro.
"Nós temos que encontrar aqui uma solução que seja positiva para todos, porque a Europa indiscutivelmente precisa de mais recursos humanos" e "África tem recursos humanos em abundância", considerou o chefe de governo português.
Mas, "por outro lado, também a Europa tem que encontrar formas de a ajudar a criar novos postos de trabalho no continente africano para que não tenhamos aqui simplesmente uma perda de capacidade de recursos humanos no continente africano", acrescentou.
O tema da imigração tem gerado polémica depois de na semana passada, a propósito do incêndio na Mouraria que matou duas pessoas, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), ter defendido que se deve estabelecer limites por setores à imigração e criticado que seja possível atualmente a entrada de imigrantes em Portugal sem contrato de trabalho.
Mais tarde, veio a público o líder do PSD falar sobre a necessidade de Portugal escolher a melhor imigração, considerando “imoral” haver trabalhadores no ativo a ganharem menos do que desempregados. Quem não ficou em silêncio perante estas observações foi o Presidente da República.