No concelho de São João da Pesqueira, em Viseu, a barragem da região está com níveis muitos baixos, o que obrigou à adoção de medidas de urgência até porque a barragem de Ranhados abastece também Vila Nova de Foz Côa e a Mêda (ambas no distrito da Guarda).
Se não adotarmos medida nenhuma, em setembro ou meados de setembro não vamos ter água na rede. Portanto, essas medidas já foram adotadas e espero que não cheguemos a esse ponto, diz o autarca Manuel Cordeiro
As medidas preventivas permitiram reduzir em cerca de 20% o consumo de água no município. À população foi pedido, por exemplo, para usar a água da rede apenas para consumo doméstico e não em sistema de regas ou piscinas.
Também às Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), que até agora não pagavam a fatura da água, foi pedido que começassem a contribuir com a tarifa social.
Mas este não é um problema exclusivo de São João da Pesqueira. A seca atravessa, sem exceção, todo país. Mais de 20 municípios têm recorrido a camiões cisterna para abastecer dezenas de localidades e há multas pesadas para quem use água pública para regar jardins ou hortas.
Em zonas críticas como Mangualde, Manteigas, São Pedro do Sul, Tabuaço e Vale de Cambra, já se pondera cortar o abastecimento durante a noite. O nordeste transmontano é a zona mais afetada onde o teor da água no solo é inferior a 1%. Um dos problemas é a desertificação, ou seja, a falta de vegetação e culturas, explicou à SIC a geóloga Maria José Roxo.
A desertificação é a degradação dos ecossistemas, a começar pelo solo. E é muito importante pensar que os solos funcionam como esponjas que absorvem água para o interior e que nos permitem armazenar água"
E esse, para os especialistas, é também um dos grandes problemas das barragens. Em vez de se privilegiar apenas a produção elétrica, devem ser encontrados mecanismos para aumentar a capacidade de armazenamento.
Estamos preocupados com aquilo que está a acontecer porque não é expectável no curto prazo que haja maiores índices de precipitação e que consigamos repor os níveis freáticos existentes e também consigamos ter reservas de água para fazer face às necessidades da população, diz o autarca de Bragança
Este é o mais atípico dos últimos anos em termos de condições meteorológicas, com a pior seca de que há memória e a previsão de mais ondas de calor, associadas à ausência de precipitação.
Metade do território em seca severa e a outra metade em seca extrema
O boletim de monitorização da seca, divulgado pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) indica que estão a diminuir os "valores de percentagem de água no solo em todo o território", destacando-se as regiões Interior Norte e Centro, Vale do Tejo e os distritos de Castelo Branco, Setúbal, Beja e Faro.
Em comparação com junho, verificou-se "um aumento da área em seca extrema, em particular na região Sul, no Vale doTejo e nalguns locais do interior Norte e Centro", salienta o IPMA, revelando que em meados de julho 50,8% do território estava em seca severa e 48,9% em seca extrema.
Até à data, este é o 2.º ano mais seco desde 1931, e depois de 2004/05 (considerando o período de outubro a julho). Anos mais secos (total outubro a julho): 2004/05, 2021/22, 1998/99, 1944/45".