País

Ana Sofia Antunes: "Eu também vivi situações de estigma e discriminação no acesso ao emprego, eu superei-as"

A secretária de Estado da Inclusão de Pessoa com Deficiência sublinha que o estigma em contratar pessoas com alguma incapacidade ainda é bem real. Fala dos apoios que existem para as empresas e dos projetos que ficaram na gaveta com a queda do Governo. Em entrevista à SIC Notícias, conta ainda os percurso que fez nos últimos seis anos pela igualdade de oportunidades e lembra ainda o seu próprio percurso.

Filipa Traqueia

Filipa Traqueia

Ana Isabel Pinto

Esta entrevista foi adaptada para ser lida pelos softwares leitores de ecrã.

SIC Notícias: É a primeira pessoa com deficiência visual a assumir um cargo no Governo. Considera que o mundo de trabalho está, atualmente, mais inclusivo para pessoas com deficiência?

Ana Sofia Antunes: Não é uma realidade específica dos últimos dois ou três anos, acho que é uma realidade que podemos fazer retroagir aos últimos 20 anos. Temos uma postura diferente em relação à inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. E não estou a circunscrever a pessoas com deficiência visual. Houve alguns instrumentos que foram fundamentais no incentivo a essa maior abertura, nomeadamente no que diz respeito à administração pública. A legislação aprovada em 2001 relativa às quotas para pessoas com deficiência no setor público foi muito importante porque permitiu que um conjunto de pessoas acedessem a contratos de trabalho em funções públicas. Nós conseguimos comprovar que existem presentemente na administração pública 18 mil pessoas com deficiência a trabalhar. Outro setor que se foi progressivamente abrindo e aceitando integrar pessoas com deficiência foi também o setor social e solidário. Nós regulamentámos recentemente uma norma que já estava aprovada desde o ano 2004 mas que, na prática, era como se não existisse porque não estavam definidos os termos em que devia ser aplicada: a criação de quotas no setor privado. Acreditamos que este vai ser mais um mecanismo que vai permitir que o mercado de trabalho se abra ainda mais à contratação destes cidadãos. Não quer isto dizer que, apenas agora, as empresas vão começar a contratar pessoas com deficiência, é muito injusto dizê-lo. Nós temos bons exemplos de contratação de pessoas com deficiência no nosso setor empresarial, seja de entre grandes empresas, seja a nível local e em empresas mais pequenas. É inquestionável dizermos que já avançámos bastante em relação à contratação de pessoas com deficiência. Temos caminho para andar – certamente que temos – e acreditamos que os mecanismos e os apoios que vamos criando incentivem mais empresas a recrutar pessoas com deficiência.

SIC Notícias: Além das quotas, que outros mecanismos estão em vigor na contratação de pessoas com deficiência?

Ana Sofia Antunes: Temos vários tipos de medidas. Medidas genéricas que, quando aplicadas a pessoas com deficiência, sofrem majorações. E depois temos um segundo lote de medidas que são específicas para pessoas com deficiência. Os estágios para pessoas com deficiência e os contratos de emprego apoiado para pessoas com deficiência são duas medidas que têm tido um papel muito importante. Permitem, acima de tudo, quebrar do gelo e propiciar uma primeira experiência entre quem procura trabalho e a empresa ou entidade que está disposta a dar essa oportunidade. Estas medidas têm uma vigência temporária e a ideia é que, depois destas primeiras experiências, a pessoa possa ser colocada em mercado do trabalho em termos regulares, como qualquer outra pessoa. Temos também o contrato de emprego apoiado em mercado aberto, que é uma figura pensada especificamente para pessoas com deficiência intelectual que, sabemos existir uma maior dificuldade na sua inclusão no mercado. Esta medida não está só a ser aplicada a pessoas com deficiência intelectual. Através da avaliação da funcionalidade do trabalhador com deficiência, comparativamente com um colega de trabalho a exercer as mesmas funções sem deficiência, é determinada a percentagem da remuneração do trabalhador que é comparticipada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Imaginemos que a pessoa é avaliada com o grau de funcionalidade de 80%, o IEFP comparticipará 20% da remuneração dessa pessoa sendo a entidade empregadora responsável apenas por 80%. Há ainda uma outra medida que tem tido também bastante adesão – e que achamos que é importante e gostaria de ver alargada, se possível – que é a isenção parcial da Taxa Social Única (TSU), que as empresas pagam à Segurança Social pelo trabalhador com deficiência. Nesses casos a TSU só é devida em 50%, o restante é automaticamente assumido e internalizado como custo próprio da Segurança Social.

SIC Notícias: Considera que estas medidas que estão em vigor são suficientes para quebrar o estigma que ainda existe na hora de contratar pessoas com deficiência?

Ana Sofia Antunes: Eu não sei se as medidas, em si, são o que quebra o estigma. As medidas são no fundo um incentivo adicional para que a empresa considere a hipótese de contratar uma pessoa com deficiência e não cinja o seu leque de opções apenas a trabalhadores sem deficiências ou de incapacidade. É um estímulo. A questão do estigma, eu penso que só se combate com o exemplo e com a experiência. A empresa quando contrata, geralmente tem dúvidas. As medidas que possamos dar de apoio funcionam como um incentivo mas não creio que sejam o fator X que determina se contratam ou não. As empresas que contratam, inicialmente, fazem-no numa lógica de experiência, querem ver como vai correr. O que sabemos dos empresários é que maioritariamente corre bem, que veem nestes trabalhadores pessoas dedicadas, que valorizam a oportunidade que estão a ter e que vestem a camisola da empresa e, daí para a frente, são incluídos pela empresa, pela direção da empresa, pela comunidade geral de trabalhadores, como um elemento da casa. Eu acho que o estigma, acima de tudo, se quebra é com o exemplo e com a inserção. Quem contrata um trabalhador com deficiência fica muito mais apto a voltar a fazê-lo sem grandes dúvidas nem hesitações.

SIC Notícias: Considera que para as novas gerações, que estão no ensino superior, esta realidade já está melhor?

Ana Sofia Antunes: Considero que está melhor, que foram dados passos significativos. Hoje em dia a tecnologia também é uma realidade que já ninguém questiona, o que não acontecia há 20 anos. Temos muitos passos para dar? Temos de certeza. Não sei até que ponto vamos conseguir chegar um dia a uma fase em que podemos dizer que já não temos mais passos para dar. Acho que temos que continuar sempre a tentar apoiar o mais possível aqueles que estão, neste momento, a sentir dificuldades, com os mecanismos que consigamos arranjar para os ajudar – sejam incentivos às empresas para os contratar, sejam novas medidas de apoio. Como a figura do “mediador”. A pessoa com deficiência desgasta-se muito quando tem que fazer esta procura sozinha e, às vezes, acaba por desistir. Porque levar com muitas portas na cara e com muitos “nãos”, ao fim de um tempo, desgasta e faz com que a pessoa perca confiança, se resigne, pense que não é para ela e que nunca vai conseguir. Acho o “mediador” é uma figura que seria muito importante que conseguíssemos implementar como forma de, não apenas ajudar a pessoa com deficiência a ter alguém a quem possa recorrer para ajudar neste processo, mas também haver alguém que possa intermediar na procura de possíveis vagas, colocações em empresas ou entidades empregadoras. E que, depois, possa também apoiar na adaptação do posto de trabalho, possa estar disponível e trazer tranquilidade ao empregador, uma vez que tem, nos primeiros tempos, alguém a quem pode telefonar quando as dúvidas surgem, que pode ajudar neste processo de superar as barreiras que forem surgindo, até se verificar um processo de inclusão bem sucedido.

SIC Notícias: Esse projeto dos mediadores já foi aprovado?

Ana Sofia Antunes: Ainda não foi aprovado. Era algo que tínhamos planeado para 2022. Com os acontecimentos políticos mais recentes, não sei o que sucederá. Neste momento está previsto na nossa estratégia nacional para inclusão de pessoas com deficiência. Espero que quem venha a assumir esta pasta concorde comigo no que respeita à utilidade desta figura e a venha a implementar.

SIC Notícias: Durante o seu percurso profissional encontrou algumas situações de estigma ou dificuldade devido à sua deficiência?

Ana Sofia Antunes: Sim. Eu gostaria muito de conhecer uma pessoa com deficiência que consiga dizer já nos dias de hoje que tudo no seu percurso profissional foi perfeitamente tranquilo e que nunca sentiu nenhum tipo de diferenciação. Era bom que assim fosse, mas não creio que essa pessoa exista ainda. Acho que vai existir daqui a uns anos. Eu já fiz muita coisa, faz parte do meu espírito insatisfeito e que tem sempre necessidade de descobrir coisas novas. Mas, quando terminei o curso de direito – e tendo terminado com uma das maiores médias do curso – eu não consegui colocação. Isto em direito funciona muito assim: os melhores alunos acabam o ano contratados e com estágios garantidos. Isso comigo não aconteceu. E não era certamente porque eu era mais ignorante que os outros, porque as minhas notas demonstravam o contrário. Isso aconteceu porque eu não via e havia uma grande desconfiança sobre aquilo que eu seria ou não capaz de fazer num contexto profissional, principalmente num contexto do exercício de advocacia. Aquela ideia do advogado que vive mergulhado em calhamaços, códigos enormes com imensas páginas, muito papel e dossiers de processo gigantes afastava muito e causava muito receio e muito desconhecimento sobre como é que uma pessoa cega iria lidar com essa realidade e como ia conseguir ler, estudar e trabalhar os processos. Acho que mais grave do que esse desconhecimento era não haver a tentativa de se procurar perceber como é que essa dificuldade poderia ser superada. Não haver sequer essa curiosidade, essa tentativa de aproximação, de tentar perceber se esta aluna que teve uma avaliação tão positiva na frequência do curso, que conseguiu fazê-lo, não terá também estratégias de adaptação para o fazer agora no exercício da profissão? Mas perante o desconhecimento, a opção era o não. Esse percurso, essa fase da minha vida marcou-me bastante, foi uma fase difícil.

Agora também não posso deixar de dizer, porque é verdade – eu sei que há muita gente que não gosta de me ouvir dizer isto, mas eu não vou deixar de o dizer: eu sou por natureza uma pessoa extremamente resiliente e quando mais me dizem que não, mais eu digo que sim. Portanto, também sei que essa característica minha me ajudou a continuar, a ir mais à frente, a não desistir e a saber transformar as dificuldades em vantagens, nas coisas boas que fui alcançando. Sim, eu também vivi situações de estigma e de discriminação no acesso ao emprego, eu superei-as, consegui arranjar o meu estágio, consegui concluir o estágio, exercer advocacia, estive na Ordem [dos Advogados]. Ao fim de algum tempo percebi que queria fazer outras coisas – e já fiz muitas coisas. Não acho, de todo, que termos consciência das dificuldades e deixarmo-nos ficar paralisados por elas pode ser, de alguma forma, uma coisa boa. Não é, não pode ser.

SIC Notícias: O seu exemplo, como secretária de Estado, pode também ser visto pelas empresas como um incentivo à contratação de pessoas com deficiência?

Ana Sofia Antunes: Eu não gosto muito de ser exemplo. Acho que ninguém gosta. O elemento adicional que se verifica no meu caso, e se calhar não se verifica tanto noutra situação, prende-se com a visibilidade que o cargo trouxe. Se isso me permite chegar a mais pessoas que, por alguma razão, não confiam muito nas suas próprias capacidades, têm receios, têm medos e puder ser um elemento que as ajude a acreditar, a agarrar oportunidades e a irem mais além, fantástico. Se isso também puder ser útil para as empresas encararem as pessoas com deficiência como trabalhadores como os outros – apenas com o elemento adicional de precisarem de algumas adaptações nos seus postos de trabalho para poderem exercer as suas funções com condições –, muito bem. Mas acho que essencialmente é pela visibilidade adicional que o cargo pode trazer à temática.

SIC Notícias: Como foi a adaptação do Ministérios do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social? Foram necessárias muitas alterações?

Ana Sofia Antunes: Não. As alterações mais recentes no edifício foi muito depois da minha chegada. Estou certa que uma pessoa com deficiência visual não carece de praticamente nenhuma adaptação para trabalhar num edifício. A principais adaptações que uma pessoa com deficiência visual precisa para exercer as suas funções são tecnológicas: ter computador, ter acesso à rede e, acima de tudo, num contexto empresarial ou de uma entidade pública contar com ferramentas que sejam acessíveis. Isso é que muitas vezes não é fácil. Eu ainda continuo a ter bastantes limitações, nem tudo foi resolvido em seis anos. Se as coisas não são preparadas de raiz para serem acessíveis e usadas por todos, quando se tenta corrigir o que já nasceu mal feito são sempre soluções de contingência, que resolvem uma parte do problema mas não o todo. Mas também tenho a consciência de que outras deficiências há que exigem maior adaptação do posto de trabalho do que a deficiência visual. Nós, no decurso desta mandato, fizemos uma série de adaptações a pensar em tornar o edifício acessível a todos, mormente a pessoas com deficiências motoras ou dificuldades de mobilidade. Instalámos rampa no acesso principal ao edifício porque entendemos que não era adequado que as pessoas com mobilidade reduzida tivessem de entrar pela porta das traseiras porque era a única porta acessível. A porta principal está também a ser adaptada para ter dispositivos de abertura automática e permitir à pessoa com deficiência entrar de forma autónoma, o balcão de atendimento foi rebaixado para a pessoa com deficiência motora poder contactar visualmente com a pessoa que está na receção, mudámos os elevadores, colocamos braille nos botões e voz que diz os andares. É um conjunto de adaptações pensadas para a plena acessibilidade ao edifício por parte de pessoas com limitações motoras.

SIC Notícias: Essas alterações também estão a ser feitas ao nível geral da Administração Interna?

Ana Sofia Antunes: Nós criámos, no ano passado, um programa que tem por objetivo promover a eliminação de barreiras arquitetónicas em edifícios da administração pública que tenham atendimento ao público. O que é que previa? Que se pudessem instalar rampas, adquirir meios mecânicos de ascensão – por exemplo, elevadores em edifícios que não tinham ou plataformas elevatórias para suprir desníveis de alguns degraus –, rebaixamento de balcões de atendimento, instalação sanitárias acessíveis, um conjunto de adaptações que vão desde o momento em que a pessoa com deficiência chega ao local até estar na presença do funcionário que o vai atender, podendo fazê-lo de forma autónoma, independente, sem necessidade de assistência de terceiros. Essa linha contou com o valor global de 10 milhões de euros. Desse valor, recebemos candidaturas no montante de 8,6 milhões e, até à data, temos cerca de quatro milhões já executados. Ao todo vão ser intervencionados 481 edifícios que têm atendimento ao público, estando divididos entre serviços da Segurança Social, centros de emprego, centros de saúde, museus que pertencem à administração central, serviços de finanças, universidades, politécnicos, etc.

SIC Notícias: Considera que a sua experiência pessoal e o seu percurso até ao Ministério do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social traz também uma forma de pensar e uma perspetiva diferente sobre estes assuntos?

Ana Sofia Antunes: Creio que sim. Eu defendo que uma pasta como esta faz sentido que se faça um esforço para que seja assumida por uma pessoa com deficiência. Não é uma obrigação que assim seja, mas podemos dizer que existe uma sensibilidade especial para as questões com as quais trabalhamos e que sabemos que, de alguma forma, muitas delas já nos afetaram um dia no nosso percurso. Agora também é preciso não esquecer que a deficiência é uma realidade muito ampla, muito dispersa. E dizer que uma pessoa com deficiência – no meu caso – visual compreende tudo aquilo que são as necessidades dos diferentes tipos de deficiências que existem. Não. Isso é uma experiência que vem com os anos. Quando aqui cheguei – já disse isso publicamente e reconheço – sabia muito pouco sobre uma realidade que hoje em dia é muito presente no nosso dia a dia e com a qual temos de lidar muito perto, que é o autismo. No entanto, fui estudar, conhecer pessoas e procurar mais conhecimento sobre essa matéria. Outras áreas há em que, não tendo a pretensão de saber tudo, acho que consigo pôr-me no lugar e perceber o que está em causa e o que pode fazer sentido. Quem está nestas funções tem que sair do seu próprio corpo, da sua própria realidade para se colocar numa posição transversal e pensar num conjunto de situações muito diferentes. E, muitas vezes, em matéria de acessibilidades, aquilo que é bom para uma pessoa com uma determinada deficiência é mau para outro tipo de deficiência. Há coisas que são importantes para as pessoas cegas e que depois são muito atrapalhadoras para quem anda numa cadeira de rodas e vice versa.

SIC Notícias: Uma das situações que me foi relatada durante o contacto com instituições e pessoas em situação de formação é a questão burocrática associada aos processos e a demora nas respostas do IEFP, o que, por vezes, leva as empresas a desistir da contratação. Existe alguma proposta para agilizar os mecanismos?

Ana Sofia Antunes: Eu sei e tenho relatos que quando as empresas recorrem à figura do contrato de emprego apoiado em mercado aberto, como existe esta exigência de uma avaliação da funcionalidade da pessoa com deficiência, em alguns centros de emprego o processo é demorado. E de facto não pode ser. Quando nós convencemos uma empresa a dar uma oportunidade, temos de ter a resposta na hora. Se passam três meses, quatro, seis meses, a empresa pode repensar e achar que já não faz sentido. Não, a coisa tem de ser muito rápida. O IEFP diz que isso não está a acontecer, mas eu acredito que esteja a acontecer em alguns pontos do país. No que diz respeito aos produtos de apoio para adaptação dos postos de trabalhos, não tenho reporte de atrasos. Até porque a verba no IEFP está cabimentada e é mais ou menos certa de ano para ano. Não tenho relatos de grandes atrasos na atribuição de produtos de apoio pelo IEFP. Os relatos de maiores atrasos nessa matéria vêm precisamente da Segurança Social.

SIC Notícias: Qual a percentagem de pessoas com deficiência que estão atualmente em situação de desemprego em Portugal? E dessa qual a parte com deficiência visual?

Ana Sofia Antunes: Eu sei quantas pessoas com deficiência em geral estão neste momento no desemprego. Não tenho esses dados em termos percentuais, mas em termos unitários. Nós sabemos, de mês a mês, quantos inscritos temos nos centros de emprego à procura de emprego como pessoas com deficiência. Nós não temos boa informação estatística sobre deficiência. Os Censos têm muitas limitações e mesmo os que foram mais recentemente aplicados, uma vez mais, não foram ao encontro do que nós defendemos porque não se focam na questão da deficiência tout cour. Querendo ser tão abrangentes e apanhar tantas situações, acabam por não nos dar informação fidedigna. O que é questionado não é a caracterização da pessoa enquanto pessoa com deficiência, mas enquanto pessoa com algum tipo de incapacidade ou limitação. Isso dá-nos um espetro muito maior de pessoas. A mim não me interessa saber quantas pessoas temos em Portugal que dizem ter dificuldades em ver, porque os meus pais têm 70 anos e os dois têm dificuldades em ver, mas nenhum tem deficiência visual. São coisas diferentes. Este nível de apuramento na informação que nós lutámos por ter nos Censos 2021 acabou, uma vez mais, por não acontecer e perdemos uma excelente oportunidade de conseguirmos ter dados exatos sobre a caracterização social e económica das pessoas com deficiência em Portugal.

SIC Notícias: E a falha dessa informação, que peso tem nas medidas para promover a inclusão?

Ana Sofia Antunes: Tem todo. Se tenho informação mais fidedigna consigo chegar mais rapidamente a cálculos sobre o custo da implementação de uma determinada medida. Se estamos a trabalhar uma medida, um dos dados fundamentais é demonstrar quanto é que ela custa. Se nós não temos informação precisa, obviamente que estamos a trabalhar por extrapolação e muitas vezes até extrapolação para cima, que é para tentarmos ser cautelosos. E isso não ajuda a tentarmos defender algumas medidas.

SAIBA MAIS

Reportagem sobre integração de pessoas com deficiência visual no mercado laboral

ACAPO

Associação Promotora de Emprego de Deficientes Visuais

Associação Promotora do Ensino dos Cegos

Instituto do Emprego e Formação Profissional

Últimas