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Santos Silva avisa que "coligações negativas" contra PS serão "traição" ao eleitorado

Augusto Santos Silva deixou este recado na intervenção final dos dois dias de debate do Programa do XXII Governo Constitucional, o qual não foi alvo de qualquer moção de rejeição por parte das forças da oposição.

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros defendeu hoje que convergir não significa diluir diferenças, mas avisou que a eventualidade de "coligações negativas", juntando direita e forças à esquerda do PS, representaria "uma traição ao eleitorado".

"O aviso é que, nesta composição parlamentar, só é possível retirar as condições básicas de governação ao Governo através da constituição de uma coligação negativa e contranatura entre o centro-direita e a direita e todas as forças à esquerda do PS. E todos sabemos, na maioria parlamentar, que isso seria uma traição ao nosso eleitorado", declarou Augusto Santos Silva, numa intervenção aplaudida de pé pela bancada socialista.


No seu discurso, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros referiu-se sobretudo ao novo quadro político resultante das eleições legislativas de 06 de outubro, identificando as forças à direita do PS como oposição e defendendo que "há agora mais razões para desenvolver o diálogo" com o Bloco de Esquerda, PCP, PEV, PAN e Livre.

Mas, segundo Augusto Santos Silva, "convergir não significa diluir, ignorar ou desvalorizar as diferenças; não significa reduzir, muito menos anular, a diversidade nas visões do mundo e dos interesses representados; não significa suspender ou disfarçar o debate vivo e franco; não significa tentar impor, submeter ou condicionar de parte a parte; não significa dar por adquirido à partida o que tem de ser laboriosamente acertado pelo diálogo e a negociação".


"Não convergiremos em tudo, exprimiremos muitas vezes pensamentos diferentes, apresentaremos muitas vezes propostas contrárias, conflituaremos em pontos críticos, mas há uma lição e um aviso do passado recente que o eleitorado incorporou e sufragou. A lição é que, quando os parceiros dialogam sem reservas e para obter resultados, as parcerias funcionam e os resultados são obtidos", defendeu.


Além das lições sobre cooperação e do aviso contra eventuais "coligações negativas", Santos Silva, tal como antes já fizera o primeiro-ministro, António Costa, vincou que o Governo não se deixará condicionar por resultados eleitorais nas presidenciais, autárquicas ou regionais - e que o seu executivo "assegurará a continuidade da mudança iniciada em 2015 com rumo estratégico, sem temores nem oscilações, sem desvios nem hesitações".


"Cometeria um enorme erro de análise quem pensasse que o PS e o seu Governo retirariam dos resultados eleitorais a ideia de que agora se trataria de manobrar taticamente, buscando em cada momento os equilíbrios necessários para a sobrevivência, numa lógica pisca-pisca, manobrando por aqui ou por ali consoante as necessidades e as oportunidades de cada ocasião", advertiu.


Ainda na sua série de recados dirigidos às forças à esquerda do PS, Augusto Santos Silva colocou como elemento central a pertença de Portugal à zona euro e advogou que, "no programa de convergência, não basta distribuir", até porque, "para distribuir com justiça e equidade, é preciso criar riqueza com conhecimento, inovação e produtividade".


"Não basta querer avançar: Para avançar sustentadamente precisamos de seguir passo a passo, com prudência e segurança. Não basta invocar o povo: para mobilizar a cidadania e os agentes económicos precisamos de respeitar o equilíbrio entre as instituições, praticar a concertação social, dinamizar a contratação coletiva, seguir, pois, uma linha de negociação, acordo e compromisso", afirmou.


Mas o discurso de Augusto Santos Silva foi também caracterizado por várias críticas ao PSD e ao CDS-PP - forças a quem deixou um apelo claro na sequência deste debate do programa do Governo.


Sem qualquer referência ao novo deputado do Chega, André Ventura, mas depois de falar sobre xenofobia e "nacional populismo", o titular das pastas de Estado e dos Negócios Estrangeiros disse o seguinte às bancadas do PSD e do CDS-PP: "Convém é que, ao contrário de ontem [quarta-feira] e hoje, o centro-direita não se deixe arrastar pela lógica das insinuações, dos ataques pessoais, dos casos e casinhos".


Numa alusão aos discursos proferidos ao longo dos dois dias de debate pelo presidente do PSD, Rui Rio, Augusto Santos Silva lamentou as "obsessões com a justiça, os julgamentos de tabacaria, os ataques à TV pública [a RTP] " e conceções do passado sobre política baseadas em "noivas e enxovais, com uma tia a vigiar".


"Tivemos na quarta-feira a ocasião de constatar o silêncio absoluto do líder do maior partido da oposição sobre qualquer dos desafios estratégicos que temos de enfrentar. Ao invés, ouvimo-lo confessar que lhe parecia arrojado prosseguir uma subida do salário mínimo nacional até aos 750 euros. Aquele silêncio e esta confissão sintetizam o programa da oposição parlamentar: Indiferença perante os problemas de fundo e crença convicta nas pretensas soluções que se resumem a reduzir direitos e a cortar rendimentos", acrescentou Augusto Santos Silva.

Lusa

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