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Uma volta a Portugal. De bicicleta mas sem licra

Um grupo de professores propõe-se a repetir o percurso da 1.ª Volta a Portugal em Bicicleta, 90 anos depois. Não se trata de uma corrida, pelo contrário querem provar que qualquer um o pode fazer e promover o uso da bicicleta como meio de transporte pessoal. “Dar a volta” parte para a estrada esta quarta-feira, de Lisboa a Setúbal, tal como em 26 de abril de 1927.

Jose Manuel Ribeiro/Reuters

Ricardo Rosa

Há 90 anos, a Volta mostrou que era possível correr os quatros cantos do país a pedalar, quando a bicicleta tinha ainda o seu quê de novidade. Coisa que não acontece atualmente, a primeira edição da prova de ciclismo deu, de facto, a volta a Portugal (continental).

Esse percurso foi abordado na tese de doutoramento de Ana Santos, socióloga e professora da Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade de Lisboa, e mentora da iniciativa “Dar a volta”. A ela juntam-se outro professor (geógrafo), um arquiteto, um fotógrafo, um empresário e uma estudante de mestrado.

“Pretendemos tornar o percurso da 1ª Volta uma referência do turismo ativo, o mote para: promover o uso da bicicleta como meio de transporte pessoal; promover o uso da bicicleta combinada com os transportes públicos; desenvolver a mobilidade ativa para melhorar a saúde e o ambiente.”

É este o mote dada no site do projeto para os cerca de 1750km que o grupo liderado por Ana Santos vai fazer. São 18 etapas tal como em 1927, mas aqui serão pedaladas ao fim de semana (exceção para o arranque), ao longo de um ano, em bicicletas elétricas. Batota? Nem por isso:

“porque tem sempre que pedalar - pois só assim é que o motor funciona; porque possibilita a adaptação do esforço à condição física do momento; porque permite carregar pesos; porque não se chega transpirado ao local de trabalho; porque resolve o problema de quem tem percursos com subidas; porque é possível levar no comboio e no barco”.

Pelo meio, haverá todo um trabalho de mapeamento dos “pontos críticos” e convites e contactos com as edilidades e outras entidades. “Se o percurso, por inteiro, for uma estrada nacional com tráfego intenso, alteramos o itinerário e iremos testar uma alternativa mais segura”, explica. Mesmo nos casos em que parecem mais complicados à partida, como poderá ser o final da 2.ª etapa com a chegada a Sines, vila do litoral alentejano rodeada de autoestradas.

“No fim teremos o mapa da Volta de 27 a três cores: vermelho - trajeto perigoso a evitar e marca-se a alternativa; laranja - trajeto partilhado com pouco tráfego; verde - via só para bicicleta.“

Dificuldades começam na travessia do Tejo

Logo na primeira etapa, há um obstáculo que impossibilita a travessia do Tejo conforme há 90 anos e o percurso original, da Cova da Piedade (Almada) a Setúbal, depois da partida simbólica no Marquês de Pombal, em Lisboa.

Atualmente, a ligação fluvial da Transtejo entre o Cais do Sodré e Cacilhas apenas permite o transporte de quatro bicicletas no mesmo barco. Ora o grupo tem seis elementos - e haverá mais quem os acompanhe. Não haverá exceção esta quarta-feira, mas Ana Santos está otimista e acredita que a barreira possa ser levantada em breve, até porque “este tipo de limitação condena a promoção de intermodalidade”.

A ligação entre margens será por isso feita no ferry de Belém à Trafaria. Daí, o grupo seguirá pela Costa de Caparica, Aroeira, Quinta do Conde e Azeitão até chegar a Setúbal pela Nacional 10.

Esta quarta-feira, 26 de abril, dia em que há 90 anos também arrancava a 1ª Volta, começa a aventura de “Dar a Volta”. A concentração no Marquês de Pombal está marcada para as 9:00. “Somos uma equipa de cinco pessoas, quem nos quiser acompanhar é sempre livre de o fazer”, diz a professora. Há até uma série de conselhos úteis no site oficial, mas sublinha que não é um evento desportivo e que todos vão circular na estrada junto com o tráfego.

Até porque é isso mesmo que se quer: “se organizasse um evento teria mota [da polícia] à frente e atrás como numa corrida de bicicletas e, nesse caso, não se dá conta dos problemas existentes à circulação de bicicleta”.

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