Trump é assim. Escapa-lhe o essencial. A sua administração tem as pastas da Defesa, Justiça, Interior e Meio Ambiente tuteladas por interinos porque os responsáveis se demitiram e não há quem os queira substituir. O mesmo sucede com o Chefe de Gabinete da Casa Branca, uma espécie de primeiro-ministro do sistema americano. Mas Trump, no Conselho de Ministros, brincava aos generais - parte de uma tirada em que se considerava melhor do que alguns dos "seus" melhores generais e os destratava, sobretudo a Jim Mattis, o secretário da Defesa que se demitiu em protesto contra a política de segurança nacional da Casa Branca.
E quando mudou de assunto, Trump exigiu de novo 5,6 mil milhões de dólares para o muro na fronteira com o México, ao mesmo tempo que escrevia no Twitter que o muro está, em grande parte, construído e o México está a pagá-lo. Mentira e mentira. E porque o Congresso resiste à aprovação dos fundos, não há muro, não há orçamento e não há (grande parte do) Governo - estão encerrados nove de 15 ministérios e cerca de 30 agências governamentais.
Em 2013 duas semanas de encerramento do Governo custaram 24 mil milhões de dólares à economia e às contas públicas. Este encerramento teve início a 21 de dezembro e poderá custar mais, mas Trump declara-se orgulhoso de o ter provocado. Por causa do muro. O Congresso não aprova os 5,6 mil milhões exigidos por Trump para o muro e se aprovar o orçamento sem essa verba, Trump veta. O orçamento está por aprovar, refém deste assunto.
O muro é um bom assunto para Trump. Ajuda a esconder as 17 investigações em curso à sua empresa, fundação, família, campanha, gabinete de transição e administração. E mostra à sua base, na extrema-direita do espectro politico, que "estou a lutar por vocês". O muro é segurança contra invasões de criminosos que não existem, mas a verdade no mundo Trump é facultativa. A verdade é que o "muro" não é exequível, nem necessário, porque os mais de 3.100 quilómetros de fronteira entre os Estados Unidos e o México dispõem de medidas de segurança (entre os 48 postos fronteiriços) que incluem diversos tipos de muros e vedações, sensores electrónicos, vigilância com drones e aviões, patrulhas por cerca de 20 mil agentes de segurança fronteiriça, e outras medidas.
Se a administração gastou apenas 10% do orçamento de investimento na segurança fronteiriça para 2018, porque pede Trump mais dinheiro para um muro que não e necessário? Política e a esperança que o público responsabilize os seus adversários. É por isso que o Governo ficou sem dinheiro. Sem orçamento ninguém pode gastar verbas que não existem. As portas fecham, os ministérios param, os funcionários ficam sem salário, os cidadãos sem serviços - não por causa de relevantes questões de fundo, mas por causa de uma manobra de política baixa, uma opera buffa de pacotilha, cujos sucesso é duvidoso e que, possivelmente, só terá vilões e derrotados.