Olhares pelo Mundo

Incubadoras sobrelotadas e cortes de eletricidade ameaçam a vida de recém-nascidos em Gaza

A escassez de equipamentos e falhas de energia causadas pela falta de combustível estão a pôr os recém-nascidos em hospitais em Gaza em risco de vida, alertam os médicos que denunciam o colapso iminente dos cuidados neonatais nos hospitais.

Catarina Solano de Almeida

Ana Isabel Pinto

Os médicos do hospital Al-Helou, na Cidade de Gaza, enfrentam grandes desafios para cuidar de recém-nascidos e prematuros devido à escassez de equipamentos e falhas de energia causadas pela falta de combustível.

Os médicos descreveram à Reuters os desafios que enfrentam para manter os recém-nascidos vivos, enquanto Israel prossegue a sua campanha militar contra o Hamas.

"Estamos a lidar com casos críticos de recém-nascidos, especialmente prematuros. A maioria fica privada de oxigénio durante o parto e precisa de ventiladores para ajudar a estabilizar. Precisamos de eletricidade continuamente, 24 horas por dia. Se for cortada, os equipamentos que utilizamos deixarão de funcionar, e isso tem impacto direto na vida das crianças", explicou à Reuters o pediatra do hospital Al-Helou, Ziad Al-Masry.

Uma falha na eletricidade pode ser uma sentença de morte.

"Quando os geradores param, o que acontece quase diariamente, os serviços ficam paralisados ​​e, em alguns casos, isso leva à morte por falta de energia, provocada por uma falha nos geradores elétricos e pela falta de combustível. Apelamos a que sejam fornecidos geradores de eletricidade e a que o combustível seja fornecido em quantidades suficientes para a continuidade da prestação dos serviços", pediu o chefe do departamento neonatal do hospital Al-Helou.

O pediatra Ziad al-Masry, do mesmo hospital, disse que são obrigados a amontoar bebés numa única incubadora.

"Temos três ou quatro recém-nascidos numa incubadora que foi concebida para um bebé prematuro. A nossa situação é um desastre: a sobrelotação de crianças (numa incubadora) leva à propagação de doenças e à incapacidade de lidar com elas, o que representa um perigo para elas. Precisamos de mais incubadoras para lidar com o número de recém-nascidos, especialmente os prematuros", afirmou.

A escassez de combustível ameaça mergulhar a Cidade de Gaza na escuridão e paralisar hospitais e clínicas no território palestiniano, onde os serviços de saúde foram várias vezes bombardeados durante 21 meses de guerra.

Um responsável militar israelita disse à Reuters que cerca de 160 mil litros de combustível destinados a hospitais e outras instalações humanitárias entraram em Gaza desde quarta-feira, 9 de julho, mas que a sua distribuição pelo enclave não estava sob a alçada de Israel.

Uma população de mais de 2 milhões

Gaza, uma pequena faixa de terra com uma população de mais de 2 milhões de habitantes, estavasob um longo bloqueio liderado por Israel antes do início da guerra entre Israel e o grupo militante palestiniano Hamas.

Os palestinianos e os profissionais de saúde acusam o exército israelita de atacar hospitais e clínicas, alegações que Israel rejeita.

Israel acusa o Hamas de operar a partir de instalações médicas e de gerir centros de comando sob as mesmas, o que o Hamas nega.

Apenas metade dos 36 hospitais gerais de Gaza estão a funcionar parcialmente, segundo a agência da ONU.

A agência israelita de coordenação de ajuda militar, COGAT, não respondeu imediatamente a um pedido da Reuters para comentar a escassez de combustível nas instalações médicas de Gaza e o risco para os doentes.

No início deste ano, Israel impôs um bloqueio total a Gaza durante quase três meses, antes de o suspender parcialmente, introduzindo um esquema apoiado pelos EUA e por Israel que ignora em grande parte o sistema da ONU. Israel acusa o Hamas de desviar ajuda, algo que o Hamas nega.

O mais recente episódio do conflito israelo-palestiniano que dura há décadas, foi desencadeado em outubro de 2023, quando militantes liderados pelo Hamas atacaram o sul de Israel, matando cerca de 1.200 pessoas e fazendo 251 reféns, segundo dados israelitas.

O Ministério da Saúde de Gaza afirma que a resposta israelita matou mais de 57 mil palestinianos. Provocou também uma crise de fome, deslocou internamente quase toda a população de Gaza e provocou acusações de genocídio e crimes de guerra, o que Israel nega.

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