Os céus escuros e imaculados do deserto do Chile, mundialmente reconhecidos como um dos melhores locais para a astronomia, estão em risco devido ao avanço do desenvolvimento urbano e industrial, alertam os astrónomos.
Angel Otarola, astrónomo e membro do comité de poluição luminosa da Sociedade Astronómica Chilena (SOCHIAS), explica que a poluição luminosa em torno do moderno Observatório do Paranal é atualmente de cerca de 1%. No entanto, preocupa-se com a possível perda da escuridão essencial para as observações astronómicas.
“O que nos preocupa é que os projetos industriais estão a aproximar-se. A distância costumava proteger-nos. As infraestruturas e iluminação poderão aumentar significativamente a poluição luminosa artificial”.
O Chile, o maior produtor mundial de cobre e o segundo maior de lítio, tem assistido nos últimos anos à expansão de projetos mineiros e de energia renovável no seu norte rico em minerais.
Marcela Espinoza, responsável pela operação do telescópio Paranal, sublinha a importância de preservar “os melhores céus do mundo” para que o Chile continue a ser um destino preferencial para a instalação de telescópios internacionais.
Atualmente, o Observatório Europeu do Sul (ESO) está a construir o Extremely Large Telescope (ELT), um projeto de 1,45 mil milhões de euros no Cerro Armazones, vizinho do Paranal.
A crescente pressão industrial no deserto do Atacama
Os cientistas apontam como principal preocupação o projeto Inna, um megaprojeto de produção de hidrogénio verde e amoníaco da AES Andes, subsidiária da norte-americana AES Corporation.
A AES declarou à Reuters que, até agosto de 2024, o projeto Inna não tinha recebido qualquer contestação relacionada com a iluminação. A empresa argumenta que o projeto se encontra numa área reservada pelo Estado chileno para energias renováveis e que os requisitos ambientais impedem qualquer deslocalização.
De acordo com estudos realizados pela AES, o aumento máximo do brilho do céu causado pelo projeto não ultrapassaria 0,27% na colina do Paranal e 0,09% na colina dos Armazones.
O ministro da Ciência do Chile, Aisen Etcheverry, afirmou à Reuters que o governo criou um comité para encontrar soluções que conciliem o desenvolvimento da astronomia com o crescimento do setor energético, destacando que “ambas as áreas são prioritárias” para o país.