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Coreia do Norte camufla 15 mil trabalhadores na Rússia como estudantes para financiar armas

Os trabalhadores recebem apenas entre 10% e 30% do salário, enquanto o restante é confiscado e enviado para Pyongyang, que arrecada anualmente entre centenas de milhões e mais de dois mil milhões de dólares (1.695 milhões de euros) com esse esquema.

ARTEM GEODAKYAN/POOL/AFP

Lusa

A Coreia do Norte mantém cerca de 15 mil trabalhadores na Rússia com vistos de estudante, apesar da proibição da ONU, apropriando-se de até 90% dos salários para financiar programas militares, denunciou, esta quarta-feira, uma ONG.

Segundo um relatório do Database Center for North Korean Human Rights (NKDB), apresentado esta semana em Seul, as estatísticas oficiais russas mostram quase nenhum registo de trabalhadores norte-coreanos e apenas um pequeno número de entradas como turistas. No entanto, muitos permanecem na Rússia através de esquemas fraudulentos de vistos de estudante.

O estudo, intitulado "Repressão e exploração transnacional de trabalhadores norte-coreanos na Rússia", indica que este sistema se consolidou após uma resolução da ONU de 2017 que proibia novos contratos de trabalho e determinava a repatriação de todos os trabalhadores até 2019.

De acordo com a NKDB, os trabalhadores recebem apenas entre 10% e 30% do salário, enquanto o restante é confiscado e enviado para Pyongyang, que arrecada anualmente entre centenas de milhões e mais de dois mil milhões de dólares (1.695 milhões de euros) com esse esquema.

Trabalho forçado, abusos físicos e isolamento

O relatório centra-se sobretudo em trabalhadores do setor da construção, mas também assinala a presença de norte-coreanos na indústria naval e na agricultura, considerados setores de elevado risco de exploração laboral.

As condições em que trabalham cumprem os 11 indicadores de trabalho forçado definidos pela Organização Internacional do Trabalho, incluindo jornadas de até 17 horas, retenção de documentos e salários, isolamento e abusos físicos. Em alguns casos, ultrapassam mesmo o limiar de servidão e escravidão moderna, alerta a ONG.

No documento sublinha-se ainda que as sanções internacionais agravaram a situação de muitos trabalhadores, forçando-os a operar na clandestinidade e reduzindo os rendimentos pessoais.

Para Lee Kwang-baek, presidente do jornal especializado Daily NK, "a proibição apenas empurrou os trabalhadores para a clandestinidade e para condições mais precárias".

Apesar disso, considerou que as condições de vida na Rússia são "ligeiramente melhores" do que na Coreia do Norte e que a exposição ao exterior lhes permite ter uma perceção mais real do seu país e partilhá-la quando regressam.

Já James Heenan, chefe do escritório de direitos humanos da ONU em Seul, defendeu as sanções, insistindo que estas visam cortar o fluxo de divisas que alimenta o programa nuclear e de mísseis da Coreia do Norte.

A NKDB propõe substituir a proibição por um quadro de "compromisso com princípios" que garanta o acesso direto dos trabalhadores aos salários e impeça o desvio dos fundos para fins militares.

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