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Sistema Solar tem um novo planeta anão: o 2017 OF201 é quase invisível

O nosso Sistema tem um novo irmão planetário, outro planeta anão como Plutão mas com uma órbita extrema de 25 mil anos.

Uma imagem composta que mostra os cinco planetas anões reconhecidos pela União Astronómica Internacional com o recém-descoberto objeto transneptuniano 2017 OF201.
NASA/JPL-Caltech; image of 2017 OF201: Sihao Cheng et al.

Catarina Solano de Almeida

Um novo objeto foi oficialmente reconhecido como parte do Sistema Solar. Com uma órbita imensa, que demora cerca de 25 mil anos a completar, o 2017 OF201 é um planeta anão e é um objeto transneptuniano (TNO), ou seja, orbita o Sol a uma distância superior à de Neptuno.

A descoberta foi anunciada a 21 de maio de 2025 pelo Centro de Planetas Menores da União Astronómica Internacional. Estima-se que tenha cerca de 700 quilómetros de diâmetro, o que o torna suficientemente grande para ser considerado um planeta anão.

Os objetos transneptunianos são planetas mais pequenos que orbitam o Sol a uma distância média superior à órbita de Neptuno. O novo TNO é especial por dois motivos: a sua órbita é extrema e o seu tamanho é grande.

Dimensões e órbita surpreendentes

A órbita do 2017 OF201 é tão extrema que demora cerca de 25.000 anos a ser completada. De acordo com a equipa que o estuda, este corpo celeste passa apenas 1% do tempo suficientemente próximo da Terra para ser detetável.

A órbita é verdadeiramente extrema. O seu afélio - o ponto mais distante do Sol - está a mais de 1600 vezes a distância entre a Terra e o Sol. O periélio, o ponto mais próximo do Sol, é 44,5 vezes essa distância, semelhante à órbita de Plutão.

Apesar do seu tamanho representar apenas cerca de um terço do diâmetro de Plutão (2.377 km), a sua deteção foi possível graças a dados de arquivo, o que traz esperança de que haja muitos mais por descobrir.

“Apesar dos avanços nos telescópios que nos têm permitido explorar partes distantes do Universo, ainda há muito a descobrir sobre o nosso Sistema Solar", disse o líder da equipa Sihao Cheng, do Instituto de Estudos Avançados, em comunicado.

Uma história de migração cósmica

A forma e extensão da sua órbita sugerem uma história complexa de interações gravitacionais.

“Este objeto deve ter tido encontros próximos com um planeta gigante, o que o poderá ter empurrado para uma órbita tão ampla. É possível que tenha sido primeiro lançado para a nuvem de Oort e depois regressado”, explica outro membro da equipa, Eritas Yang.

A nuvem de Oort é uma região longínqua do Sistema Solar onde se acredita que residem muitos cometas. A ideia de um objeto ir até lá e voltar reforça a complexidade das dinâmicas gravitacionais que moldam o nosso sistema planetário.

A área para lá do Cinturão de Kuiper, onde se encontra o objeto, era considerada essencialmente vazia, mas a descoberta da equipa sugere que não é bem assim.

O enigma do Planeta X - ou Planeta 9

A descoberta do 2017 OF201 poderá ter implicações diretas na busca pelo Planeta 9 — um planeta hipotético, maior que a Terra, que se acredita existir para lá de Plutão.

Esta teoria baseia-se no facto de vários TNO extremos parecerem ter órbitas organizadas de forma semelhante, como se algo — talvez um planeta invisível — os estivesse a alinhar gravitacionalmente.

Mas este novo objeto não segue esse padrão.

“Muitos TNO extremos têm órbitas que parecem agrupar-se em orientações específicas, mas o 2017 OF201 desvia-se disso”, explicou Jiaxuan Li, coautor do estudo.

A sua existência pode pôr em causa a hipótese do Planeta 9. E se forem descobertos mais objetos semelhantes, a ideia poderá mesmo desmoronar-se.

Descobertas espaciais ao alcance de todos

Esta descoberta é também um exemplo do potencial da ciência aberta e a importância da partilha de dados científicos.

“Todos os dados que utilizámos são de arquivo e estão disponíveis a qualquer pessoa — não apenas a astrónomos profissionais. Isto mostra que descobertas inovadoras podem ser feitas por investigadores, estudantes ou até cientistas cidadãos com acesso às ferramentas certas”, sublinha Li.
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