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Sul-africanos brancos viajam para os Estados Unidos na qualidade de refugiados

Um grupo de 49 afrikaners deixou a África do Sul em direção aos Estados Unidos, ao abrigo de uma promessa de Donald Trump de os acolher como refugiados por alegada discriminação.

Jerome Delay

Lusa

Um grupo de 49 afrikaners (sul-africanos brancos descendentes de colonos holandeses) deixou a África do Sul domingo à noite rumo aos Estados Unidos, ao abrigo da promessa do Presidente norte-americano, Donald Trump, de acolhê-los como refugiados por discriminação.

Como confirmado pelo ministério sul-africano dos Transportes, os afrikaners deixaram o Aeroporto Internacional O.R. Tambo, em Joanesburgo, num voo fretado, rumo ao Aeroporto Dulles, em Washington, de onde viajarão para o Texas.

O ministério sul-africano informou ainda que os Serviços Aéreos Internacionais (IAS) aprovaram o pedido de autorização para um avião fretado, que chegou no domingo para transportar nacionais sul-africanos para os Estados Unidos.

O porta-voz do ministério, Collen Msibi, citado hoje na imprensa local, disse que foi seguido um processo rigoroso para permitir que o avião entrasse na África do Sul.

"Trata de afrikaners, que estão a ser reinstalados nos Estados Unidos como refugiados"

O pedido "indica claramente que se trata de afrikaners, que estão a ser reinstalados nos Estados Unidos como refugiados", disse Msibi, que esteve no aeroporto de Joanesburgo para supervisionar o embarque das pessoas.

"Estamos a falar de 49 pessoas, pelo que vi, que embarcaram neste voo", disse à estação de televisão local Newzroom Afrika.

Os afrikaners partiram para os Estados Unidos depois de o vice-ministro sul-africano para as Relações Internacionais e Cooperação, Alvin Botes, ter falado com o secretário de Estado adjunto norte-americano, Christopher Landau, na passada sexta-feira, a quem manifestou a preocupação com o início do processo de acolhimento e reinstalação de presumíveis refugiados sul-africanos em solo norte-americano.

As relações diplomáticas entre os dois países estão tensas desde que Donald Trump ordenou a suspensão da ajuda económica à África do Sul em fevereiro passado, acusando o seu governo de "confiscar" terras à minoria afrikaner.

Trump assinou um decreto executivo que permite aos afrikaners que aleguem sofrer "discriminação racial injusta" pedir asilo nos Estados Unidos.

Comissão Europeia solicita garantias que pessoas foram avaliadas pelas autoridades

O executivo sul-africano pediu a Washington que clarificasse o estatuto das pessoas que vão deixar o país, especificando se são requerentes de asilo, refugiados ou cidadãos comuns.

A Comissão Europeia solicitou igualmente garantias de que estas pessoas foram avaliadas pelas autoridades para confirmar que não enfrentam acusações criminais.

"É profundamente lamentável que a possível deslocação de sul-africanos para os Estados Unidos, sob a premissa de serem "refugiados", pareça ter motivações políticas e procure desafiar a democracia constitucional da África do Sul", declarou o ministério sul-africano das Relações Internacionais e da Cooperação num comunicado na sexta-feira.

O ministério recordou que a África do Sul sofreu "perseguições reais" durante o regime do apartheid (1948-1994) e que o país "trabalhou incansavelmente para evitar que tais níveis de discriminação se repetissem".

"A África do Sul reconhece que a determinação do estatuto de refugiado exige uma avaliação objetiva dos factos e das circunstâncias", disse, acrescentando que as acusações de discriminação por parte dos EUA "são infundadas".

Mesmo assim, o governo sul-africano deixou claro que não impedirá que seus cidadãos deixem o país, se assim o desejarem, no exercício do respetivo direito à liberdade de movimento.

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