Durante o discurso que fez na Assembleia Geral das Nações Unidas, na quinta-feira, em Nova Iorque, o líder de transição do Haiti protagonizou um momento inesperado ao beber água da jarra. Edgard Leblanc Fils só terá percebido o erro depois e, antes de terminar o discurso, pegou no copo para se servir.
No discurso, o líder político pediu ajuda internacional para que o seu país consiga recuperar da atual crise de segurança.
Também o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, fez referência ao Haiti no seu discurso, ao lembrar que se registam níveis assustadores de violência e sofrimento humano, perante uma "falha crónica" em encontrar soluções, apesar de que "os desafios que enfrentamos são solucionáveis".
“Injustiça histórica”
Edgard Leblanc Fils exigiu ainda que a França pague “reparações justas e apropriadas” para compensar a dívida da era colonial imposta ao Haiti, descrevendo o seu país como “a grande vítima de uma injustiça histórica”.
“Essa dívida tem sido injusta e sufocou o potencial do povo haitiano durante gerações”, disse Leblanc ao plenário da ONU. O Haiti, afirmou, “não procura caridade, mas sim justiça, respeito pela sua dignidade e pelo seu direito a uma existência digna e próspera”.
Ao pronunciar a palavra “dignidade”, tentou beber água de uma jarra que tinha ao lado. O discurso acabou por ter menos repercussão do que os memes que viralizaram nas redes sociais.
Gangues controlam quase todo o país
O Haiti está numa profunda crise política e de segurança que já provocou centenas de mortos. Desde fevereiro, o território foi tomado de assalto por gangues que controlam quase todo o país, uma situação que levou à demissão do primeiro-ministro.
Um conselho presidencial de transição foi nomeado e terá de organizar as eleições no país, que deverão acontecer em fevereiro de 2026.
Desde que os combates entre grupos armados e o Governo escalaram em fevereiro de 2024, a cidade de Port-au Prince, capital do Haiti, ficou transformada num palco de violência e insegurança que forçou dezenas de milhares de pessoas a fugir de casa nos últimos meses.
Muitas encontraram refúgio em abrigos sobrelotados estabelecidos pela cidade, com condições de habitabilidade insalubres, onde faltam serviços de água, saneamento e higiene. A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) tem intensificado os esforços para colmatar estas lacunas.
Há mais de 578 mil pessoas deslocadas no Haiti. Cerca de 112 mil estão atualmente a viver em 96 locais improvisados na área metropolitana de Port-au-Prince: escolas, igrejas, complexos desportivos. Em muitos desses locais, o abastecimento de água é inexistente, assim como as instalações sanitárias. Por outro lado, o risco de doenças transmitidas em águas não tratadas torna-se prevalente.
Edgard Leblanc Fils agradeceu ainda o apoio recebido da missão de paz liderada pela ONU que tem como objetivo combater a violência dessas gangues.
O debate de alto nível da UNGA79 arrancou terça-feira, em Nova Iorque, com a presença de dezenas de chefes de Estado e de Governo de todo o mundo, e irá prolongar-se até ao próximo dia 30.