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"Sinto-me aliviada": problemas de saúde mental levam jovem de 29 anos a recorrer à eutanásia

Uma jovem neerlandesa, que se debate desde a infância com vários problemas psicológicos, garante que a esperança tem desvanecido ao longo dos anos. Já tentou de tudo, desde medicação a terapia electroconvulsiva, mas nada resultou. Agora, diz estar "absolutamente determinada em avançar" com a decisão.

Zoraya ter Beek, 29 anos.
Repridução/X Zoraya ter Beek

SIC Notícias

Zoraya ter Beek, 29 anos, decidiu recorrer à eutanásia psiquiátrica para pôr termo à vida, depois de uma "batalha" legal de três anos e meio. O processo da neerlandesa recebeu luz verde na semana passada, pelo que o ato será consumado dentro de pouco tempo.

Em abril passado, a jovem decidiu contar a sua história ao meio de comunicação 'The Free Press'. Na altura, revelou que se debate há vários anos com uma depressão, autismo e transtorno de personalidade limítrofe - também conhecido como Borderline. Problemas que Zoraya ter Beek garantiu não conseguir continuar a combater.

"Sempre fui muito clara: se não melhorar, não posso continuar a fazer isto", afirmou.

Agora, uma semana após o seu processo ser aprovado nos Países Baixos, a jovem vê, finalmente, o seu desejo confirmado.

Em entrevista ao The Guadian, afirmou não entender o porquê de casos como o seu, onde o sofrimento atroz não desaparece, serem motivo de tanta polémica.

"As pessoas pensam que quando se é doente mental, não se consegue pensar corretamente, o que é insultuoso. Compreendo os receios que algumas pessoas com deficiência têm em relação à morte assistida e as preocupações com o facto de as pessoas serem pressionadas a morrer, mas nos Países Baixos temos esta lei há mais de 20 anos. Há regras muito rigorosas e é muito seguro", clarificou.

De acordo com a lei que vigora no país desde 2002, as pessoas que experienciam um "sofrimento insuportável sem perspetivas de melhoria", e que estão plenamente informadas e conscientes, podem decidir terminar com a própria vida.

Problemas psicológicos aterrorizam Zoraya desde a infância

Para Zoraya os problemas psicológicos remontam à infância. Há anos que se debate com traumas, perturbações de personalidade e autismo, que conduziram a depressões.

Tentou de tudo para melhorar. Vários tratamentos intensivos, dos quais terapia da fala, medicação e ainda mais de 30 sessões de terapia electroconvulsiva, mas nada parece ter ajudado.

"Na terapia aprendi muito sobre mim própria e sobre os mecanismos de sobrevivência, mas não resolvi os problemas principais. No início do tratamento, começa-se com esperança. Pensei que ia melhorar. Mas quanto mais o tratamento se prolonga, começa-se a perder a esperança", revelou ao The Guardian.

Uma década depois de ter iniciado os tratamos percebeu que não havia mais soluções. Começou então a pensar no suicídio de forma mais frequente, mas o impacto causado na família pela morte violenta por suicídio de uma colega de escola demoveu-a.

Processo começou em 2020

Foi então que em 2020 decidiu dar início ao processo para pôr termo à vida por via da morte medicamente assistida:

"Terminei a ECT (terapia electroconvulsiva) em agosto de 2020 e, depois de um período em que aceitei que não havia mais tratamento, candidatei-me à morte assistida em dezembro desse ano. É um processo longo e complicado. Não se pede a morte assistida numa segunda-feira e está-se morto na sexta-feira. Estive numa lista de espera para ser avaliada durante muito tempo, porque há muito poucos médicos dispostos a participar na morte assistida de pessoas com sofrimento mental. Depois, temos de ser avaliados por uma equipa, ter uma segunda opinião sobre a nossa elegibilidade e a sua decisão tem de ser revista por outro médico independente", explicou.

Apesar de reconhecer que o companheiro de vida e a restante família vão sofrer com a decisão, assumiu que "nunca" hesitou ao longo dos últimos três anos e meio e que está "absolutamente determinada em avançar" com a decisão.

A jovem de 29 anos já esteve reunida com a equipa médica que a acompanha e espera que nas próximas semanas consiga, por fim, consumar a sua morte.

"Sinto-me aliviada. Foi uma luta tão longa", assegurou.

E, quando o dia chegar, como é que tudo irá acontecer?

"Começarão por me dar um sedativo e só me darão os medicamentos que param o coração quando estiver em coma. Para mim, vai ser como adormecer. O meu companheiro vai estar presente, mas eu disse-lhe que não havia problema se ele precisasse de sair do quarto antes do momento da morte", explicou Zoraya ter Beek.

Sublinhou que está pronta e que, finalmente, encontrou "alguma paz". Contudo, admitiu novamente sentir-se "culpada" pelo sofrimento que causará naqueles que mais estima.

"Mas, por vezes, quando amamos alguém, temos de o deixar ir", lembrou.

Contactos e serviços de apoio disponíveis

Abaixo encontra várias linhas de apoio, que pode contactar caso sinta necessidade de desabafar ou pedir ajuda:

Horário: 15:30 – 0:30

Contacto Telefónico: 213 544 545/912 802 669/963 524 660

Horário: 16:00 – 23:00

Contacto Telefónico: 222 080 707

Horário: 15:00 – 22:00

Contacto Telefónico: 808 237 327/210 027 159

Horário: 21:00 – 24:00

Contacto Telefónico: 225 506 070

Email: sos@vozdeapoio.pt

Horário: 16:00 – 22:00

Contacto Telefónico: 222 030 707


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