Não sou perito no tema e é importante que se perceba que há pessoas qualificadas para o discutir com dados concretos e saber técnico.
Mas decidi trazê-lo hoje a este espaço como uma espécie de alerta de algo cada vez mais comum no desporto, sobretudo ao mais alto nível.
Li há pouco as declarações impactantes de Matheus Pereira (jovem futebolista com talento dos pés à cabeça) sobre a luta terrível que travou nos últimos anos. Confesso que fiquei incomodado com a descrição que fez dos pesadelos que viveu e que o levaram a caminhos vertiginosos. Que o levaram inclusivamente a ponderar a pior das saídas como forma de colocar um ponto final em tanto sofrimento.
É importante que tenhamos a noção que a exigência que a alta competição coloca hoje em dia nos seus atletas é absurda.
A busca pela vitória, pelo recorde pessoal ou pelo sucesso coletivo assume por estes dias a força de um peso insuportável para muitos jovens prodígios, que simplesmente não tiveram tempo nem maturidade para aprender a lidar com as suas emoções e a gerir tanta pressão interna e externa.
Para mal dos pecados de Pierre Coubertin, o importante afinal não é competir, mas vencer e é isso que transforma pessoas normais em animais de competição. É precisamente aí que que surgem os problemas: todos temos limites bem definidos, os da nossa humanidade, que não podem ser esticados para lá da sua elasticidade. Mas são.
Não faltam infelizmente histórias como a de Matheus Pereira no desporto mundial.
Phelps fez relatos inesquecíveis sobre os dramas que experienciou enquanto nadador de excelência, a talentosa Simone Billes foi forçada a afastar-se da elite mundial para recuperar a sua sanidade mental, Gabriel Medina - triplo campeão mundial de surf - confessou que bateu no fundo e teve que se afastar das ondas que sempre o apaixonaram.
Pior são as histórias escondidas, as que não são mediáticas ou que não são públicas, onde meninas e meninos, homens e mulheres sucumbem brutalmente a este bicho-papão que não escolhe sexo, idade ou hora para invadir a saúde mental de cada um.
É importante que percebam que pedir ajuda não é sinal de fraqueza, pelo contrário: é meio caminho andado para a cura.
Este é um problema comum, que estima-se que possa atingir 45% (!) dos atletas de alta competição. Felizmente já existem muitos profissionais capazes de dar respostas capazes a quem passa por este infortúnio.
Se me permitem um conselho de leigo, não deixem de falar com a vossa família e amigos e de procurar apoio especializado caso se sintam frequentemente tristes, ansiosos, deprimidos ou com sensação de perda, de angústia ou falta de alegria/propósito.
Se tem sintomas de depressão ou tem pensamentos de suicídio, utilize o Serviço de Aconselhamento Psicológico, integrado na linha telefónica do SNS 24, através do 808 24 24 24.