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População moçambicana abandona aldeias e campos receando ataques de grupos terroristas

Segundo a população da aldeia de Walopwana, localizada na província moçambicana de Cabo Delgado, os terroristas capturaram um popular num campo de produçaõ agrícola e pediram-lhe para localizar a comunidade. De acordo com uma fonte, o grupo terrorista confirmou que esta seria a próxima aldeia a ser atacada.

Marc Hoogsteyns

Lusa

Os habitantes de Walopwana e Muisse, no distrito de Metuge, na província moçambicana de Cabo Delgado, estão a abandonar as suas aldeias e campos agrícolas receando grupos terroristas que na quarta-feira atacaram a aldeia de Pulo.

Informações da comunidade confirmadas hoje pela Lusa indicam que, no sábado, insurgentes capturaram um popular nas matas de Nampipi, num campo de produção agrícola, a quem pediram para localizar a comunidade de Walopwana, que supostamente seria a próxima aldeia a ser atacada.

"Os terroristas estão entre nós, aqui, ainda não foram longe. No sábado, capturaram um senhor que vinha da machamba e disseram para lhe para mostrar aldeia Walopwana. Ele, com medo, fez, porque segundo lhe disseram seria o próximo ponto", observou uma fonte, a partir da localidade de Metuge e que abandonou o seu campo agrícola na comunidade de Muisse, por receio.

Algumas pessoas das comunidades de Walopwana e Muisse a pouco mais de 50 quilómetros da sede distrital de Metuge, já tomaram a decisão de abandonar as suas aldeias e campos de produção, receando a presença de grupos de terroristas.

"Eu, a minha esposa e os meus filhos estamos em Metuge desde quarta-feira. Queriamos voltar, mas os bandidos estão ainda a chatear", lamentou, a partir de Metuge, uma homem, de 55 anos.

No domingo, um casal de idosos, saiu de Metuge para ir a Nampipi, viagem de 60 quilómetros, para tratar do campo agrícola de quatro hectares, mas viu-se na obrigação de voltar para trás, após encontrar populares de Walopwana e Muisse igualmente em fuga face aos rumores da presença de insurgentes.

"Não continuamos, encontramos muitas pessoas de Muisse e Walopwana a fugir para Metuge", contou o homem, de 67 anos.

O ataque a Metuge, acontece numa altura em que pragas estão a atacar as culturas dos camponeses, sobretudo na zona de Nampipi, o que ameaça a colheita, pela fuga dos agricultores.

"Há muita produção que se vai perder nos campos porque os terroristas estão a circular exatamente nas zonas onde há muita comida", lamentou o agricultor.

O grupo terrorista manteve crianças presas durante horas

Mais de 70 alunos de uma escola em Pulo, Cabo Delgado, foram fechados durante horas na sala de aula, por insurgentes que atacaram a aldeia moçambicana, mas acabaram por sair ilesos, relataram à Lusa, a quinta-feira, fontes locais.

O grupo, que incluiu o professor daquela escola, no distrito de Metuge, foram apanhados de surpresa durante o ataque do grupo terrorista, cerca das 14:00 (12:00 em Lisboa) desta quarta-feira, 06 de março, quando assistiam à aula de ciências naturais, do quinto ano, com os insurgentes a entraram na sala, obrigando-os a permanecer no interior.

"Foi uma situação de tirar o sono. O meu filho estava lá, os rebeldes chegaram e obrigaram todos a permanecer na sala enquanto aguardavam ordens sei lá de quem", contou à Lusa uma fonte da comunidade local, a partir de Metuge, que recebeu a criança quatro horas depois.

De acordo com outras fontes da aldeia, os insurgentes disseram à população que não pretendiam maltratar as crianças e que as prenderam na escola para evitar as comunicações, enquanto queimavam as casas e saqueavam os produtos, num ataque que provocou pelo menos um morto e que levou à fuga dos moradores de Pulo, mas também de Chauli e Nacutapara, para a sede do distrito, a 30 quilómetros de distância, segundo as mesmas fontes.

Após vários meses de relativa normalidade nos distritos afetados pela violência armada em Cabo Delgado, a província tem registado, há algumas semanas, novas movimentações e ataques de grupos rebeldes, que têm limitado a circulação para alguns pontos nas poucas estradas asfaltadas que dão acesso a vários distritos.

A nova vaga de ataques terroristas em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, provocou 99.313 deslocados em fevereiro, incluindo 61.492 crianças, indicou uma estimativa divulgada esta semana pela Organização Internacional das Migrações (OIM).

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