Foi um dos melhores momentos da Presidência Biden e, provavelmente, o melhor discurso proferido por Joe desde que entrou na Casa Branca (só a par do que fez no ano passado, no mesmo momento).
O Estado da União 2024 mostrou um Joe Biden firme, enérgico, determinado e convicto. Se o grande problema para a reeleição é a idade do Presidente, quem tenha visto o discurso de quinta à noite em Washington DC (já madrugada de sexta em Portugal) terá mudado a sua perceção sobre isso.
Além de ter lido um discurso muito bem montado e articulado, por várias vezes Biden saiu do guião, replicou críticas que congressistas lhe lançavam e revelou total aptidão para o momento.
Projetou vigor, força, domínio e confiança
Biden merece, por isso, nota alta: mais de 60% dos americanos aprovaram o momento; 35% até aprovaram "fortemente".
Era importante que assim tivesse sido. Biden continua ligeiramente atrás de Trump nas sondagens nacionais para novembro e precisa de um "gamechanger" capaz de sustentar o caso da necessidade da sua reeleição.
Até a estratega republicana Sarah Longwell admitiu: Joe Biden "acertou em cheio" no que tinha que fazer no Estado da União e "alguns membros do Partido Republicano cometeram um erro grande sobre o que vale este presidente".
"A vida ensinou-me a respeitar a liberdade e a democracia"
Biden não perdeu tempo e atirou ao momento chave dos últimos anos da Democracia americana: 6 de janeiro de 2021: "A vida ensinou-me a respeitar a liberdade e a democracia. A lutar por um futuro baseado nos valores fundamentais que definem a América: honestidade, decência, dignidade e igualdade. A respeitar todos. A oferecer a todos uma oportunidade. A impedir que o ódio tenha porto seguro. Agora, há por aí pessoas da minha idade [o ex-Presidente é quatro anos mais novo] com uma perspetiva diferente, crentes numa História americana baseada no ressentimento, na vingança e na retaliação. Eu não sou assim".
"A democracia não pode valer só quando ganhamos", sentenciou Biden. "Muita gente aqui não critica o ataque ao Capitólio". As mentiras de 6 de janeiro sobre as eleições de 2020 representaram a maior ameaça à democracia dos EUA desde a Guerra Civil".
"Sou um capitalista, mas quero que todos paguem a sua justa parte"
Biden foi particularmente eloquente na insistência de taxar os mais ricos e as grandes empresas: "A classe trabalhadora que construiu este país não pode pagar mais impostos que os bilionários". Ao contrário das políticas do passado, apologistas do corte de impostos para os mais ricos, na esperança de que tal acabasse por beneficiar quem menos tem, optámos por aumentar com critério o investimento público, demos mais poder e educação aos trabalhadores, consolidando a classe média, e promovemos a concorrência, no sentido de baixar os preços e ajudar empreendedores e pequenos empresários".
É um ponto muito caro a Biden, há muitos anos. Ele apresenta-se como "middle class Joe", alguém que conhece bem a realidade do americano médio e pretende fazer esse contraste com o bilionário Trump, amigo dos cortes fiscais aos mais riscos.
Sobre o aborto, a imigração, os impostos e muito mais, Biden fez repetidamente o contraste com Trump, com os democratas na plateia a apoiá-lo com aplausos e Mike Johnson a revelar constrangimento em vários momentos, pelo entusiasmo que o Presidente gerava.
"Não iremos embora. Não nos vamos curvar. Não me vou curvar"
Sobre o apoio americano à Ucrânia, Joe Biden -- que no Estado da União de há dois anos atirou, dias depois da invasão russa: "Vladimir Putin, vamos atrás de ti!" -- voltou a ser firme e assertivo: "Temos de fazer frente a Putin! Não abandonaremos a Ucrânia. Não iremos embora. Não nos vamos curvar. Não me vou curvar".
E quanto à ajuda humanitária que os EUA preparam para Gaza, com um porto provisório para concretizar essa ajuda, Biden foi claro: "Não haverá botas americanas em terra".
"Mais quatro anos! Mais quatro anos!"
O desempenho de Biden entusiasmou os congressistas democratas e por algumas vezes se ouviu: "Mais quatro anos! Mais quatro anos!".
Não era suposto que o discurso tivesse uma componente de campanha eleitoral. Mas oito meses, na política americana, faz parecer a distância para a eleição geral um curto espaço até à grande vertigem: o que irá acontecer?