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"O conflito em Gaza está a tornar-se regional, todos os movimentos terroristas sunitas estão a atacar os xiitas"

Maria João Tomás, comentadora SIC, explica o que é o Baluchistão, a tribo baloche e os fundamentalistas islâmicos que atacam o Irão e o Paquistão. Refere ainda a "visão cega de Netanyahu, um homem sem saídas".

Maria João Tomás

SIC Notícias

Dois dias depois de um ataque iraniano no seu território, o Paquistão anunciou esta quinta-feira que tinha realizado durante a noite "ataques contra esconderijos terroristas" no Irão, matando nove pessoas, de acordo com a televisão estatal iraniana. Maria João Tomás dá um contexto histórico para explicar o que é o Baluchistão, a tribo baloche, sunitas, xiitas e fundamentalistas islâmicos.

O Baluchistão é uma zona que pertence ao Paquistão e tem uma pequena parte do Irão, fruto de uma linha de fronteira artificial criada pelo Império britânico.

"Tudo isto tem que se compreender num contexto tribal. Nesta parte do mundo funcionam as tribos, esta é a tribo dos baloche que ocupam toda essa zona", explica Maria João Tomás.

"É uma zona complexa e rica a tem desde uma herança persa a até hindu, mas há uma parte dos baloches que são fundamentalistas islâmicos e é desses que têm partido os ataques ao Irão. E não interessa nem ao Paquistão nem ao Irão tê-los lá".

Os ataques mútuos que têm acontecido têm sobretudo a ver com estes fundamentalistas islâmicos, "foi uma resposta pontual do Irão aos fundamentalistas islâmicos" daquela região.

"Esta divisão do Baluchistão tem a ver também com uma outra divisão que aconteceu na época das Índias britânicas, em que havia a necessidade de criar uma fronteira com o Afeganistão (…). Essa linha de fronteira chama-se a linha Durand (..) criada pelos britânicos sem ter em atenção as tribos e as religiões das pessoas (…) passava pelo meio dos pashtuns e pelo meio dos baloches".

"Claro que criou ali uma linha artificial que as pessoas não se reconhecem com ela e é essa linha artificial que está a criar esta divisão interna que não existe entre os baloches, porque eles, apesar das diferenças de religião, têm uma identidade tribal que é o Baluchistão e é daí que tem partido toda esta revolta".

Os baloches no Irão querem a independência. Os fundamentalistas islâmicos baloches são sunitas e o Irão é xiita.

"E não é por acaso que nós temos estado a ver, agora que este conflito em Gaza está a tornar-se regional, que todos os movimentos sunitas e todos os movimentos terroristas sunitas estão a atacar os xiitas".

Uma coisa que parecia que estava a inverter-se, com a China a promover a aproximação e o diálogo.

"Agora dá jeito que esses conflitos venham todos que é para isolar o eixo xiita, que é daí que vem o suporte para o Hamas. Só que o Hamas é sunita. Portanto, se acontecer alguma coisa de mais grave o Hamas fica para trás porque os xiitas vão defender-se a eles próprios".

Netanyahu contra a criação de um Estado da Palestina

Netanyahu diz que é contra a criação de um Estado da Palestina num cenário pós-guerra, contrariando os norte-americanos e o ministro da Defesa de Israel. O primeiro-ministro de Israel “quer ir para Gaza e quer ficar com Gaza”.

"Isto representa é uma visão cega de Netanyahu, um homem sem saídas. Em primeiro lugar, porque se sair do Governo vai preso (…) para sair do Governo é muito fácil, basta cair a coligação que está sustentada por um governo de extrema-direita - que eu acho que já nem a extrema-direita, aquilo já são quase lunáticos que querem estabelecer à força por todos os meios possíveis e imaginários uma Israel bíblica".

Maria João Tomás explica que nas Escrituras, Génesis 12 e seguintes, "falam da ideia bíblica messiânica de ter uma Israel que vai do rio Jordão até ao Mediterrâneo. O problema é que, se formos a ler mais do Antigo Testamento, diz que Israel vai desde o Iraque, da cidade de Ur de onde saiu Abraão até ao Mediterrâneo, portanto desaparece a Jordânia, desaparece uma parte do Iraque e desaparece tudo o que é Palestina agora".

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