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Ataques no Mar Vermelho: "Faz parte de uma escalada muito maior, o escalar da guerra no Médio Oriente”

Bruno Gonçalves, especialista em geopolítica, refere a escalada de violência no Médio Oriente, um fórum de Davos marcado por questões económicas mas sobretudo por guerras e políticas, e o que significa em todo este contexto a vitória de Trump nas primárias republicanas dos EUA.

SIC Notícias

O grupo de rebeldes Houthi garante que vai continuar os ataques no Mar Vermelho. Estados Unidos e Reino Unido mantêm ofensivas de resposta. Estamos perante a escalada do conflito no Médio Oriente, com um cenário político muito débil em Israel, refere o especialista em geopolítica, Bruno Gonçalves, que acredita que a guerra vai prolongar-se.

Bruno Gonçalves refere a intervenção do primeiro-ministro britânico que disse foi uma resposta proporcional, mas uma resposta necessária aos ataques. Mas tudo “faz parte de uma escalada muito maior, tem que ver com o escalar da guerra no Médio Oriente”, sublinha.

"Se por um lado, ontem marcou os 100 dias do conflito desde o 7 de Outubro, aquilo que nós vemos é que são 100 dias mais 75 anos, desde um conflito que é político, devido à falta de existência de dois Estados: o Estado de Israel e o Estado da Palestina e que possam existir livremente, mas também em segurança".

Bruno Gonçalves revela a existência de um artigo do presidente da Autoridade Palestiniana “que será brevemente publicado, onde ele refere muito bem que um dos principais objetivos de Israel neste momento que é, aliás, partilhado pela Autoridade Palestiniana, é,, naturalmente, acabar com qualquer violência que possa existir para Israel provinda de Gaza ou provinda do Hamas”.

No entanto, sublinha o especialista, Netanyahu está fragilizado, “há uma condição política que Netanyahu não tem, que tem que ver com o cessar da guerra num período imediato ou num período muito próximo”.

“Nós vemos um cenário político muito débil em Israel. Netanyahu não consegue sequer justificar nem à opinião pública nem aos seus parceiros (…) um cessar-fogo imediato. Então, a investida tem sido ao contrário, ou seja, uma maior investida de Israel, chamando também os Estados Unidos e o Ocidente a intervir, como já vimos, no Mar Vermelho, mas que poderá também expandir-se para o Líbano”.

O Secretário-Geral da ONU já avisou que não devemos assistir no Líbano ao que estamos a assistir em Gaza: “ele terá naturalmente dados para se preocupar”.

“A guerra deve prolongar-se e desde logo por duas razões: a primeira, do lado de Israel, não há condições políticas para que ela cesse no imediato. Netanyahu já disse que esta guerra só pode acabar com dois objetivos alcançados, primeiro, a recuperação de todos os reféns e, segundo, com o término definitivo do Hamas”.

Mesmo que houvesse uma pressão internacional para que a guerra deixasse de existir, para que existisse um cessar-fogo imediato, essa pressão internacional só poderá vir dos Estados Unidos.

Mas não é certo que Netanyahu acatasse essa indicação dos Estados Unidos e, em segundo lugar, também não é certo que essa fosse a estratégia da Administração Biden por duas razões:

“A primeira são as eleições nos Estados Unidos - e não me parece que a Administração Biden, à semelhança do que fez a Administração Obama, tenha uma confiança excessiva nos parceiros árabes para que determine essa orientação - e a segunda é que o próprio Netanyahu está fragilizado”.

Eleições nos EUA, Biden, Trump e o Médio Oriente

No primeiro caucus do Partido Republicano, Donald Trump foi o candidato republicano eleito no estado do Iowa."Isso é muito importante (…) parecendo que tudo está desconectado, está tudo bem conectado".

As duas estratégias: “se por um lado Biden investe na parceria com Israel, partindo do princípio que essa é a melhor segurança para os Estados Unidos, Trump sempre partiu do princípio que com os acordos de Abraão e com maior parceria com os povos árabes haveria maior segurança não só para Israel, mas também para a Palestina”.

"Isto causa uma entropia enorme no cenário no Médio Oriente.

A expectativa de que Trump possa voltar à Casa Branca deixa desde logo alguns parceiros conscientes daquilo que pode mudar na estratégia dos Estados Unidos e deixa Israel também um pouco mais confortável para agir.

“O que nós percebemos é que, infelizmente, um cessar-fogo não está próximo e isso é muito preocupante para as Nações Unidas e depois percebemos também que há já um regime de impunidade quando o próprio primeiro-ministro de Israel lança um tweet ontem dizendo que nem Haia, refere-se ao Tribunal Internacional de Justiça, determinará um cessar-fogo em Gaza”.

Fórum de Davos, Ucrânia, China, personas non gratas

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, interveio hoje na 54.ª edição do Fórum Económico Mundial, em Davos, a sublinhar que a Ucrânia necessita de "financiamento previsível" para ganhar a guerra à Rússia e a pedir ao Ocidente, uma vez mais, para que continue apoio a Kiev.

“Creio que o Fórum de Davos debaterá, além de todos os temas que já anunciou, alterações climáticas, resiliência, mas debaterá com muita sagacidade as mudanças políticas e as mudanças geopolíticas”.

Na sua intervenção inicial, a presidente da Comissão Europeia sublinhou que nós devemos continuar todos, o Ocidente, a apoiar a Ucrânia para lá de 2025 - “e ela sabe bem o que está a dizer quando diz para lá de 2025, tanto do ponto de vista europeu como do ponto de vista norte-americano, quando entrará uma nova administração”.

“E eu acho que a questão Trump também entra no fórum de Davos. (…) E entra também a questão do Médio Oriente (…) Putin, que em muitas outras ocasiões esteve neste Fórum Mundial em Davos, passou a ser uma pessoa não grata para o Ocidente e para este fórum, mas outras pessoas que já foram pessoas não gratas, como o príncipe herdeiro da Arábia Saudita (…) volta a estar convidado”.

Este fórum de Davos será sobretudo marcado pelo contexto político, pelas eleições que aí vêm tanto na Europa como nos Estados Unidos, e perceber também como é que isso impactará não só a solidariedade, mas de um ponto de vista muito concreto, o apoio militar, tanto a Israel como a Ucrânia.

“A principal mensagem do Ocidente aqui será: nós precisamos de manter a solidariedade”.

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