A viver há 4 anos no Líbano, João Sousa estava em casa com a mulher, libanesa, a apenas 1 quilómetro do local do bombardeamento quando se deu o ataque do qual nem deu conta. Isto até que começou a receber notificações no telemóvel de familiares, amigos e colegas de trabalho, preocupados com a notícia que começava a encher as manchetes dos jornais em todo o mundo. Um ataque em Beirute, na capital do Líbano, que matou 7 pessoas, incluindo o número dois do Hamas, Saleh al-Arouri e dois líderes das brigadas al Qassam, o braço armado do grupo.
Foi dos primeiros jornalistas a chegar ao local onde já estavam centenas de pessoas entre equipas de socorro e civis, mas também militares libaneses e membros das forças de segurança do Hezbollah no Líbano. No meio da destruição, apercebeu-se de relatos que davam conta de que existiram 2 bombardeamentos e da existência de pelo menos um míssil que não terá explodido.
DEIXAR O PAÍS AINDA NÃO É OPÇÃO
Dentro do perigo, o português considera que a situação ainda é de alguma forma "tolerável". Ainda assim diz que já entrou em contacto com a embaixada portuguesa no Chipre, a representação consular de Portugal no Líbano. E foi lá que foi informado de que a situação está a ser acompanhada de perto, até para garantir a segurança dos cerca de cem portugueses que vivem no país e na eventualidade de terem de ser resgatados.
Caso o conflito se alastre de forma irremediável, João Sousa considera sair do Líbano. Se tiver de o fazer pelos próprios meios, considera que a melhor alternativa é "pelo único porto que ainda está operacional (os restantes terão sido bombardeados) e que pode de facto servir de veículo de evacuação é o porto de Tripoli, já no norte. Os barcos podem depois ser evacuados de Tripoli para o Chipre ou para a Turquia".
O QUE PODE PESAR CONTRA ISRAEL?
O ataque desta terça-feira foi o primeiro à capital libanesa, mas não foi o primeiro no país. De acordo com João Sousa, as primeiras indicações de que o conflito estava a alastrar-se ao Líbano foram os vários ataques de Telavive nos últimos dias de 2023, em vários locais no sul do país, nomeadamente na cidade de Sidon a cerca de 45 quilómetros de Beirute.
Apesar de Israel não confirmar a autoria do ataque, o português relembra que há várias semanas que o governo de Benjamin Netanyahu tinha afirmado que a grande ameaça a Telavive vinha do sul do Líbano, através das forças do Hamas e do Hezbollah no país. Caso entretanto se confirme que os bombardeamentos foram ordenados por Telavive , o fotojornalista acredita que os próximos alvos no país possam ser perto da fronteira com Israel, mas também a sul de Beirute e em Baalbek, no este do país, locais onde existem vários bairros ocupados por militantes do Hezbollah.
O português salienta ainda outro motivo que dá força à, ainda, teoria de que o bombardeamento a instalações do Hamas em Beirute foi feito por Israel e que está relacionada com a conferência de imprensa do secretário-geral do Hezbollah, marcada para esta quarta-feira, naquela que pode ser vista como uma tentativa de envolver o Líbano no conflito entre Telavive e o Hamas.