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Um mês e meio depois, alguma "paz" no arranque do cessar-fogo e troca de prisioneiros

A trégua que esta sexta-feira entrou em vigor poderá ser prorrogada por mais um dia até um máximo de dez dias, sendo cada um deles um teste a duas partes que há muito não experimentavam o diálogo.

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SIC Notícias

Ao 49.º dia, o conflito entre Israel e o Hamas conheceu pela primeira vez uma trégua, marcada por uma histórica troca de 24 dos reféns, incluindo uma luso-israelita em posse do movimento islamita, e 39 prisioneiros palestinianos.

Na trégua de quatro dias, mediada pelo Qatar e Egito, entrou em vigor às 07:00 locais, chegaram caravanas de ajuda humanitária, que entrar na Faixa de Gaza, que se encontrava isolada e à beira do colapso, sem luz, água e combustível, e onde as unidades de saúde encerravam uma atrás da outra por falta de condições, com 2,4 milhões de habitantes do enclave a enfrentarem escassez de água e comida.

A pausa das hostilidades entrou em vigor após uma noite em que Israel continuou a atacar a Faixa de Gaza e em que o Hamas lançou mísseis contra dois colonatos israelitas situados perto do território palestiniano, cujos habitantes já tinham sido retirados.

As colunas de fumo negro que pairavam no horizonte da Faixa de Gaza à hora do início da trégua foram sendo dissipadas com os acontecimentos do dia, afastando também temores sobre um acordo frágil desde o sangrento dia 7 de outubro, quando combatentes do Hamas invadiram o sul de Israel e massacraram cerca de 1.200 pessoas, segundo as autoridades de Telavive, e levaram mais de 200 na condição de reféns.

Às 16:00 locais, o Hamas continuava a cumprir o acordado e começou a libertar a primeira parte dos reféns envolvidos no entendimento, 24 ao todo, incluindo 13 israelitas, 10 tailandeses e um filipino, entregues à Cruz Vermelha Internacional.

Cravinho confirmou lusa-israelita nos reféns libertados pelo Hamas

Ao fim do dia, o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, confirmou que Adina Moshe, 72 anos, uma dos reféns israelitas libertados também tinha nacionalidade portuguesa.

"Tínhamos esperança e confirma-se que saiu", comentou o chefe da diplomacia portuguesa, que esta sexta-feira realiza uma visita a Israel e Cisjordânia.

Quatro crianças, uma das quais de 2 anos, e seis idosas com mais de 70 também constam da lista oficial dos reféns esta sexta-feira libertados pelo Hamas e, segundo a comunicação social israelitas, 12 pertenciam ao 'kibutz' Nir Oz, um dos mais atingidos pelo Hamas no seu ataque brutal de 7 de outubro e onde foram sequestradas cerca de 80 pessoas.

Os reféns foram transportados em ambulâncias para Kerem Shalon, um posto fronteiriço entre o Egito e Israel que também liga à Faixa de Gaza.

De acordo com o plano, uma vez chegados a território israelita, os reféns foram levados em helicópteros militares para Hatzerim, uma base militar da Força Aérea no deserto do Neguev, perto da cidade de Beersheva, e dali para cinco hospitais nas imediações de Telavive.

Várias televisões mostraram em direto a saída dos reféns por Rafah, imagens em que se viu uma idosa a saudar as pessoas concentradas junto ao terminal fronteiriço.

À semelhança do que acontece todas as semanas, esta sexta-feira, representantes de famílias dos reféns e centenas de israelitas organizaram uma receção do Shabat, em memória dos mais de 240 sequestrados do Hamas no centro de Telavive, que contou com a presença do ministro do Gabinete de Guerra, Benny Gantz.

Mais tarde, coube a Israel cumprir a sua parte do acordo e libertar por sua vez 39 palestinianos que se encontravam em três prisões israelitas. Vinte e oito foram deixados na Cisjordânia, enquanto os outros 11 foram levados para Jerusalém Oriental.

No grupo estavam 15 menores e 24 mulheres, segundo a lista divulgada pela comissão responsável pelos prisioneiros da Autoridade Palestiniana, num dia marcado por reencontros mas sem lugar a festejos exuberantes em Israel, onde a polícia anunciou que proibia qualquer celebração da libertação de prisioneiros em Jerusalém.

A trégua permitiu à ONU aumentar a entrega de ajuda humanitária na Faixa de Gaza onde foram esta sexta-feira descarregados 137 camiões, segundo a agência das Nações Unidas responsável pela coordenação humanitária (OCHA), a "maior caravana humanitária" a entrar no enclave desde o início do conflito.

A agência especificou que 129 mil litros de combustível também conseguiram atravessar a fronteira para o território e que 21 doentes em situação crítica foram retirados do norte do enclave.

“Esta trégua não significa o fim dos combates com o Hamas”

No rescaldo do dia, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, saudou a libertação dos primeiros reféns do Hamas e prometeu o regresso de "todos os raptados".

"Concluímos o retorno do primeiro dos nossos sequestrados. As crianças, as suas mães e outras mulheres. Cada uma delas é um mundo inteiro", disse o chefe do governo numa mensagem em vídeo, embora já tenha avisado que esta trégua não significa o fim dos combates com o Hamas.

O movimento palestiniano divulgou, ao final do dia, um vídeo mostrando alguns dos seus milicianos, encapuzados e fortemente armados, a entregarem a elementos da Cruz Vermelha crianças e idosos libertados.

Em Washington, o Presidente norte-americano, Joe Biden, reiterou os apelos para uma "solução de dois estados", a fim de "acabar com o ciclo de violência no Médio Oriente" e afirmou que a libertação dos primeiros reféns "é apenas o começo", estimando ainda que existem "possibilidades reais" de prolongar a trégua.

Estima-se que as milícias palestinianas em Gaza tenham como reféns cerca de 240 pessoas, cerca de 210 nas mãos do Hamas e outras 30 da Jihad Islâmica.

Israel e o Hamas chegaram a um acordo para um cessar-fogo, que permitirá a libertação de 50 reféns israelitas que as milícias islamitas mantêm dentro da Faixa de Gaza, em troca da libertação de 150 prisioneiros palestinianos. Em ambos os casos, são mulheres e menores.

A trégua que esta sexta-feira entrou em vigor poderá ser prorrogada por mais um dia até um máximo de dez dias, sendo cada um deles um teste a duas partes que há muito não experimentavam o diálogo.

Com LUSA

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