Centenas de pessoas em protesto contra a amnistia de independentistas catalães tentaram marchar esta sábado até ao Palácio da Moncloa, sede do Governo de Espanha, e cortaram uma autoestrada, depois de abandonarem uma manifestação no centro de Madrid.
Segundo as autoridades, várias centenas de pessoas manifestaram-se nas imediações do Palácio da Moncloa e na marcha que fizeram ocuparam vias da autoestrada A-6, num dos acessos a Madrid, levando ao corte total de trânsito num dos sentidos pela polícia.
Uma barreira policial impediu que os manifestantes acedessem à praça da Moncloa e à entrada do complexo de edifícios sede do Governo espanhol, mantendo-os nas vias cortadas da autoestrada.
A concentração, com o corte da autoestrada, demorou cerca de duas horas e terminou quando a polícia dispersou os manifestantes, de forma pacífica.
Por outro lado, outro grupo de cerca de 3.000 pessoas, segundo as autoridades, concentrou-se, também depois da manifestação no centro de Madrid, nas imediações da sede nacional do partido socialista (PSOE, no governo de Espanha), local onde tem havido concentrações diariamente nas últimas semanas contra a amnistia.
A cidade de Madrid voltou esta sábado, ao final da manhã, a ser o palco de uma manifestação contra a amnistia de independentistas catalães que mobilizou 170 mil pessoas, segundo números das autoridades, e um milhão, segundo os organizadores.
A manifestação foi convocada por uma plataforma de entidades da sociedade civil e contou com o apoio do Partido Popular (PP, direita) e do Vox (extrema-direita), a primeira e a terceira forças no parlamento de Espanha, respetivamente.
Paulo Rangel partilha discurso durante protesto em Espanha
O eurodeputado português Paulo Rangel partilhou, na rede social X/Twitter um vídeo onde surge a discursar perante uma manifestação, em Espanha.
Rangel afirma que o acordo feito pelo Governo de Pedro Sánchez com os independentistas da Catalunha “é perigoso para a democracia liberal e para o Estado de Direito e para a unidade de Espanha". Promete apoiar a população junto da União Europeia.
“É um orgulho ver esta multidão, toda esta gente com bandeiras de Espanha e da Europa para dizer que a Espanha é um marco da democracia e do respeito pelos direitos em toda a Europa. Não vamos aceitar porque não aceitámos na Polónia, na Hungria, na Roménia, que haja uma lei da amnistia que é somente dada para comprar votos no Parlamento. É um linha que não se pode ultrapassar", afirma Paulo Rangel.
Dois milhões de pessoas protestaram no fim de semana passado
No domingo passado, manifestações convocadas pelo PP em 52 cidades mobilizaram dois milhões de pessoas, segundo o partido, e 450 mil, segundo as autoridades.
Além disso, tem havido manifestações diárias, à noite, em frente da sede nacional do PSOE, em Madrid, convocadas nas redes sociais.
Estas manifestações, apoiadas pelo Vox, mas de que se demarca o PP, já acabaram por diversas vezes com distúrbios e cargas policiais e têm também ficado marcadas por símbolos, cânticos e gestos fascistas e da ditadura espanhola de Francisco Franco.
A proposta de lei de amnistia foi entregue no parlamento na segunda-feira passada pelo PSOE e resulta de acordos com dois partidos catalães que em troca viabilizaram, na quinta-feira, um novo Governo de esquerda em Espanha, liderado por Pedro Sánchez, na sequência das eleições legislativas de 23 de julho.
A direita espanhola considera que a amnistia de políticos catalães que protagonizaram a tentativa de autodeterminação da Catalunha em 2017 pode constituir um ataque ao estado de direito e ao princípio da separação de poderes, num alerta que também já fizeram associações de juízes e procuradores.
O PSOE sublinha que a amnistia já foi considerada legal pelo Tribunal Constitucional espanhol em 1986, que já foi aplicada em Espanha em 1976 e 1977 e está também "perfeitamente homologada" nas instâncias europeias e pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
Os socialistas defendem que esta amnistia devolve um conflito político à esfera política e servirá para recuperar a convivência entre catalães e entre a Catalunha e o resto de Espanha depois da fratura de 2017.