O Kremlin atribuiu, esta segunda-feira, os incidentes antissemitas no Daguestão a uma interferência externa, sem identificar a origem, mas que o líder da república do sudoeste da Rússia disse ser a Ucrânia. O comentador da SIC aborda esta e outras questões na sua análise em direto na SIC Notícias.
José Milhazes informa que Vladimir Putin convocou uma reunião urgente do Conselho de Segurança da Rússia sobre esta questão e afirma que o Presidente russo atribuiu as culpas do incidente aos EUA e a agentes externos.
O comentador acrescenta que para além do aeroporto, um centro cultural hebraico, localizado no Cáucaso, foi incendiado.
"A propaganda antissemita chega ao cúmulo de nos anúncios de aluguer de apartamentos estar escrito 'aceita-se família sem animais, mas sem judeus'", refere.
Daguestão é "uma zona explosiva"
Lembra que em várias regiões da Rússia - em especial no Cáucaso - existem organizações islâmicas radicais que "odeiam não só os judeus, mas também os russos" e que têm como objetivo implementar repúblicas islâmicas no país.
José Milhazes nota que o Daguestão é "uma zona explosiva" e um terreno fértil para movimentos radicais deste tipo, muito por culpa das fracas condições de vida da população local.
"Além disso, e isso também é preciso dizer porque Putin já parece ter esquecido, é que desta região sai o maior número de soldados para combater na Ucrânia. Isto aqui também não traz grande apoio a Putin na região porque os caucasianos não estão dispostos a dar a vida pelo imperialismo russo", constata.
Por estas razões, sublinha, era previsível que uma situação como a vivida no aeroporto de Makhachkala pudesse vir a acontecer.
Influência ucraniana?
Não exclui, no entanto, a possibilidade de ter havido influência externa "porque os ucranianos não escondem que se puderem utilizar este tipo de dificuldades na Rússia, irão utilizar".
"Nós não podemos aceitar a explicação de Putin e que a culpa é toda dos americanos, dos ucranianos e do Ocidente e que a Rússia é uma coitadinha que está a ser vítima de ataques externos", afirma.
O comentador crê que o Presidente russo irá utilizar a violência, caso exista perigo de "perder o controlo na região".
A “demagogia de Putin”
Quanto à luta contra os nazis e contra o antissemitismo – preconizada diversas vezes pelo líder da nação - José Milhazes entende que tudo não passa de "demagogia de Putin".
"Ele [Putin] hoje voltou a ser um sem vergonha quando derrama lágrimas pelas criancinhas vítimas dos acontecimentos do Médio Oriente, mas não derrama lágrimas pelos milhares de ucranianos, civis, militares, criança que já foram assassinados à ordem de Putin", acusa.
José Milhazes, que cita fontes próximas do Kremlin, revela que a Presidência russa ficou "atrapalhada" quando soube dos episódios de domingo no aeroporto porque os Serviços Secretos russos "podem ter enganado o Presidente quanto à situação real no lugar".