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"Os terroristas do Hamas conseguiram abrir a porta do refúgio" e só se ouviu gritos na chamada

A família está desesperada. Não sabe se estão vivos, ou mortos. A última vez que falaram apenas ouviram-se gritos na chamada. Os familiares de Oron Bira, luso-israelita, contaram tudo o que sabem ao correspondente da SIC no Médio Oriente, Henrique Cymerman.

Henrique Cymerman

Oron Bira, de 52 anos, e a esposa Yasmin, de 51, visitaram Portugal há pouco mais de um mês para receber o passaporte português deste sefardita, e pedir a nacionalidade portuguesa para as filhas Tair, de 20 anos, e Tahel de 16. Foi a última viagem que fizeram ao estrangeiro.

No sábado de manhã, eles estavam a dormir na sua casa, situada no sul de Israel, a um quilómetro de Gaza. De repente, 100 terroristas do Hamas entraram no kibutz e começaram a disparar contra habitantes de todas as idades.

Batia Bira, irmã de Oron, cresceu no kibutz, mas vive agora no norte de Israel.

"No sábado recebi uma mensagem do meu irmão Oron. Ele disse-me que estão trancados num abrigo. A família toda reunida. A sensação é como estar no Holocausto, um medo terrível. Ele disse que estão em completo silêncio, quase sem comunicação, sentados em completa escuridão para não chamar a atenção. Depois de algum tempo, perguntei a ele como eles estavam. Ele me escreveu: “Eles estão a arrombar a nossa porta”, contou, à SIC, a irmã de Oron.

“Não sabemos de nada”

A família esconde-se no refúgio e ouviram vozes em árabe. Nas casas dos seus vizinhos eles não conseguiram arrombar as portas de refúgio e queimaram vivas famílias inteiras. No caso desta família luso-israelita os terroristas do Hamas conseguiram abrir a porta do refúgio.

"Às 10:58, nunca esquecerei aquela hora. Às 10:58 ligamos e a menina atendeu o telefone. Ela não teve tempo de falar. Ouviram-se gritos terríveis, batidas e vozes em árabe. Ela deve ter deitado o telefone fora e deixado a chamada aberta. E isso é tudo. Desde então não tivemos nenhum contacto, nenhuma informação, não sabemos de nada…"

Tair trabalhava com o pai numa casa de impressão e Tahel, de 16 anos, estudava no liceu. Ambas estavam escondidas com os pais e desapareceram com eles.

"Eles enfrentaram foguetes disparados contra eles de Gaza durante mais de 20 anos, mas nunca pensaram em sair. Disseram que tinham que ser fortes. No sábado tudo explodiu. A minha irmã estava com muito medo, disse Dália, irmã gémea de Yasmin.

Vivos ou mortos?

Desde esse momento, não tiveram mais notícias da família de Oron, não sabem se estão vivos ou mortos.

“Não sabemos o que aconteceu com eles. Mas se penso nisso, e é terrível dizer isto, às vezes tenho a sensação de que preferiria que me dissessem que, um minuto depois de terem sido raptados, levaram uma bala na cabeça. E que não estão no inferno de Gaza”, lamentou Yasmin.

Batia irmã de Oron e Dalia irmã gêmea da esposa Yasmin, fazem o chamamento ao Governo de Portugal.

"Pedimos ao Governo português que o considere como seu cidadão e imploramos que pressionem os palestinianos, que os encontrem e nos digam que estão bem, e que os devolvam sãos e salvos", implorou a irmã de de Oron.

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