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França: Macron quer penalizar pais de jovens que criaram tumultos

O ministro da Justiça francês, Eric Dupond-Moretti, também apontou o dedo aos pais, depois do auge das noites de violência em reação à morte do jovem de 17 anos Nahel, abatido a tiro por um polícia.

SIC Notícias

Lusa

O Presidente e Governo franceses querem punir os autores, alguns muito jovens, da violência urbana em França, mas ainda estão a estudar hipóteses, como a ideia recorrente na direita de impor sanções financeiras aos pais.

"Deveríamos poder penalizar fácil e financeiramente as famílias na primeira infração, uma espécie de taxa mínima para a primeira infração", disse Macron segunda-feira à noite durante uma visita a um quartel da polícia na capital.

Na passada sexta-feira, no auge das noites de violência em reação à morte do jovem de 17 anos Nahel, abatido a tiro por um polícia, tinha apelado à "responsabilidade dos pais" para "manter em casa os menores, que constituem uma grande parte dos desordeiros".

No entanto, na noite de segunda-feira, quando a violência abrandou, Macron afirmou que pretendia atuar "caso a caso" e "não necessariamente" suspendendo os abonos de família.

O ministro da Justiça francês, Eric Dupond-Moretti, também apontou o dedo aos pais, numa circular enviada aos gabinetes do Ministério Público de todos os tribunais em França.

"Sempre que os pais podem exercer a sua autoridade parental e não o fazem, há uma responsabilidade penal que pretendo pôr em prática", declarou, recordando as penas previstas: dois anos de prisão e uma multa de 30.000 euros.A

Esquerda critica Macron

Longe de obter o apoio unânime da classe política, os discursos foram denunciados como "cínicos" pelos políticos de esquerda.

Ali Rabeh, presidente da câmara de Trappes, uma comuna do oeste de Paris com uma elevada taxa de pobreza, citado pela agência noticiosa France-Presse (AFP), criticou Macron por "deitar achas para a fogueira".

Rabeh recordou que a população dos bairros onde se concentra a violência é maioritariamente constituída por "famílias monoparentais" e descreveu situações em que a mãe "está sozinha a trabalhar para tentar encher o frigorífico", pelo que "não está presente quando o filho sai da escola e anda na rua".

A suspensão do abono de família para os pais de menores que faltam à escola foi aprovada em 2010, durante o mandato de Nicolas Sarkozy, o então Presidente francês de direita.

Durante a campanha de 2012, chegou a prometer alargar a pena aos jovens delinquentes, mas acabou por ser derrotado. O seu sucessor socialista, François Hollande (2012-17), revogou a medida.

Desde então, o partido de Nicolas Sarkozy, Os Republicanos (LR), relançou a ideia no Senado e na Assembleia Nacional com projetos de lei que nunca chegaram a ser concretizados.

A grande questão

Para Guilherme Monteiro, jornalista da SIC em França, a “grande questão” no momento é perceber “o que pode acontecer depois da desmobilização dos cerca de 45 mil agentes que nas últimas noites estão espalhados por toda a França”.

“A violência volta ou a França regressa à normalidade”, pondera o jornalista.

O Dia de França está a chegar, pelo que o Presidente francês tem pedido um “apaziguamento”. No entanto, nas palavras de Macron, o objetivo é garantir “uma ordem durável”.

Ou seja, não só garantir que as ruas estão calmas até o 14 de julho, mas a longo prazo.

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