Uma professora do estado norte-americano da Virgínia que foi baleada e ficou gravemente ferida pelo seu aluno de seis anos avançou esta segunda-feira com uma ação contra os responsáveis da escola, exigindo 40 milhões de dólares (cerca de 36,6 milhões de euros) de indemnização.
Abby Zwerner, de 25 anos, que ficou internada durante quase duas semanas e foi alvo de quatro cirurgias, acusa a escola de negligência grosseira e de ignorar vários avisos no dia do tiroteio, onde o jovem estava armado e com um "estado de espírito violento".
Esta professora do ensino primário da Richneck Elementary School em Newport News, foi baleada na mão e no peito em 6 de janeiro enquanto estava sentada numa mesa de leitura na sua sala de aula, noticiou a agência Associated Press (AP).
O tiroteio causou consternação na comunidade de Newport News, uma cidade com cerca de 185.000 habitantes no sudeste da Virgínia, conhecida pelo seu estaleiro, que constrói os porta-aviões do país e outras embarcações da Marinha dos EUA.
Muitos questionaram-se como é que uma criança tão jovem poderia ter tido acesso a uma arma e disparar contra a sua professora.
O processo nomeia como réus a Newport News School Board, o ex-superintendente George Parker III, a ex-diretora da Richneck, Briana Foster-Newton e a ex-diretora assistente da Richneck, Ebony Parker.
Michelle Price, porta-voz do conselho escolar, referiu à AP por email que este órgão ainda não recebeu o processo, acrescentando que a divisão escolar encaminha todas as informações de reivindicações legais à sua seguradora.
Ninguém foi ainda acusado no tiroteio, com o superintendente a ter sido demitido pelo conselho escolar e a ex-diretora assistente a renunciar ao cargo.
Um porta-voz do distrito escolar referiu que Briana Foster-Newton ainda é empregada pelo distrito escolar, mas recusou-se a especificar qual o cargo que ocupa.
O conselho votou pela instalação de detetores de metal em todas as escolas do distrito e pela compra de mochilas transparentes para todos os alunos.
Criança tinha “histórico de violência aleatória”
No processo, os advogados de Zwerner referem que todos os réus sabiam que o menino "tinha um histórico de violência aleatória" na escola e em casa, incluindo um episódio no ano anterior, quando este "estrangulou e sufocou" a sua professora do jardim-de-infância.
Após esse episódio, os responsáveis da escola retiraram o menino de Richneck e enviaram-no para outra escola até ao final do ano, permitindo o seu regresso para o início do ensino primário no outono de 2022, de acordo com o processo.
Os pais da criança não concordaram em colocá-lo em turmas de educação especial, onde ele estaria com outros alunos com problemas de comportamento, acrescenta.
O processo descreve uma série de advertências que os funcionários da escola deram aos administradores horas antes do tiroteio, a começar por Zwerner, que foi ao gabinete da vice-diretora Ebony Parker e transmitiu que o menino "estava com um humor violento", ameaçou espancar um aluno do jardim-de-infância e encarou um oficial de segurança no refeitório.
O processo alega que Parker "não teve resposta, recusando-se até mesmo a olhar para Zwerner quando esta expressou as suas preocupações".
Na mesma manhã dois alunos contaram a Amy Kovac, especialista em leitura, que o menino tinha uma arma na mochila. O menino negou, mas recusou-se a dar a sua mochila a Kovac, detalha ainda o processo.
Kovac disse a Ebony Parker que o menino disse aos alunos que tinha uma arma. Parker respondeu que os seus "bolsos eram muito pequenos para segurar uma arma e não fez nada".
Outra criança da primeira classe, que estava a chorar, disse a um professor que o menino "tinha mostrado a ele uma arma de fogo que tinha no bolso durante o recreio".
Essa professora então entrou em contacto com a secretaria e contou a uma professora de música, que atendeu o telefone, o que o menino lhe contou.
A professora de música disse que, quando informou Parker, esta disse que a mochila já tinha sido revistada e "não tomou nenhuma providência", de acordo com o processo.
Um orientador então pediu permissão a Parker para revistar o menino, mas Parker proibiu-o, e afirmou que a mãe da criança o ia buscar em breve.
Cerca de uma hora depois, o menino tirou a arma do bolso, apontou para Zwerner e disparou.
Zwerner sofreu lesões corporais permanentes, dor física, angústia mental, perda de rendimentos e outros danos, segundo o processo, onde pede 40 milhões de dólares em indemnizações.