Na última segunda-feira, 17 pessoas morreram e centenas ficaram feridas na região de Puno, junto à fronteira com a Bolívia. Desde o início de dezembro, altura em que começaram os protestos que abalaram o país, já morreram 48 pessoas.
Foi a violenta repressão das manifestações, por parte das forças de segurança, que levou o Ministério Público peruano a anunciar uma investigação por genocídio, que visa a Presidente Dina Boluarte e outras destacadas figuras do Governo.
O que está a acontecer no Peru?
Em 2020, no espaço de cinco dias o Peru teve três presidentes. Apesar da instabilidade em que o país tem navegado nos últimos anos, poucos conseguiriam antecipar os sobressaltos políticos que ditaram o afastamento de Pedro Castillo da presidência do Peru.
Em Julho de 2021, o professor primário e sindicalista, filho de uma família pobre e rural, surpreendia a elite política peruana com uma vitória por 44 mil votos nas eleições presidenciais. Menos de um ano e meio depois, enfrentava o terceiro processo de destituição.
A 7 de dezembro de 2022, Pedro Castillo anunciava a dissolução do Congresso, que se preparava para votar a seu afastamento da presidência. O Presidente acabaria por ser de facto destituído e logo de seguida preso, vítima em grande parte da sua enorme inexperiência política.
A vice-presidente Dina Boluarte, que acusou o antigo aliado político de tentativa de golpe de Estado, tomava posse nesse mesmo dia, o mais longo da história da conturbada democracia peruana.
Os protestos tomaram de imediato as ruas, mas longe dos centros de poder. Têm sido mais intensos nas zonas rurais, mais podres e predominantemente indígenas, onde o discurso de Pedro Castillo mais ecoou.
O político de esquerda, que emergiu do anonimato depois de liderar uma greve de professores em 2017, prometia uma nova forma de distribuir a riqueza do país que atenuasse o grande fosso entre ricos e pobres, mas acabaria enredado em acusações de corrupção, que sempre negou.
As manifestações e os bloqueios, onde se exige a libertação imediata daquele que consideram o presidente legítimo, têm sido violentamente reprimidos pelas forças de segurança.
Mais de um mês e dezenas de mortes depois Pedro Castillo continua a cumprir 18 meses de prisão preventiva e a ser investigado por rebelião.