A comissão da Câmara dos Representantes que investiga o ataque ao Capitólio norte-americano votou, por unanimidade, acusar dois antigos assessores do ex-Presidente Donald Trump por desrespeito ao Congresso após recusarem cumprir as intimações. A decisão foi tomada na noite de segunda-feira.
A Comissão argumentou que Peter Navarro, conselheiro para o comércio de Donald Trump, e Dan Scavino, ex-assessor de comunicação do republicano na Casa Branca, recusaram-se a cumprir intimações e não cooperaram na investigação do Congresso e, como resultado, devem ser encaminhados ao Departamento de Justiça por desrespeito.
“Eles não estão a conseguir enganar ninguém. Eles são obrigados a submeter-se à nossa investigação. Eles recusaram-se a fazê-lo e isso é um crime”, disse o deputado do Mississippi Bennie Thompson, presidente democrata da comissão, no discurso de abertura.
A recomendação de acusações criminais segue agora para o plenário da Câmara, onde provavelmente será aprovada pela maioria democrata. Uma eventual aprovação seria enviada posteriormente para o Departamento de Justiça, que tem a palavra final sobre a acusação.
A vice-presidente da Comissão, a deputada republicana Liz Cheney, de Wyoming, comparou o trabalho do painel aos cidadãos ucranianos que lutam pela liberdade face a uma invasão russa.
“Enquanto nos encontramos aqui esta noite, Vladimir Putin [Presidente russo] continua a sua brutalidade contra a Ucrânia, matando inocentes, lembrando-nos o que acontece quando autoritários governam”, disse Liz Cheney, citada pela imprensa local, traçando um paralelo direto entre o trabalho da Comissão para responsabilizar Trump e a invasão russa da Ucrânia.
Navarro tinha sido intimado, no início de fevereiro, para depor perante a comissão de investigação sobre as falsas alegações de fraude eleitoral nas presidenciais de 2020, conquistadas pelo democrata Joe Biden.
Embora o ex-conselheiro para o comércio de Trump tenha procurado utilizar o privilégio executivo para evitar cooperar com o painel, o Governo de Biden negou este mês esta pretensão de Navarro, bem como a de outro ex-assessor, o antigo conselheiro de segurança nacional Michael Flynn.
Navarro considera votação um “ataque partidário sem precedentes ao privilégio executivo”
Peter Navarro considerou esta votação da comissão de investigação um “ataque partidário sem precedentes ao privilégio executivo”.
“O painel sabe muito bem que o Presidente Trump invocou o privilégio executivo e não é um privilégio renunciar”, sustentou.
Para o antigo conselheiro para o comércio, é “prematuro a comissão avançar com acusações criminais contra um alto funcionário da Casa Branca a quem o privilégio executivo inegavelmente se aplica”.
Navarro acrescentou também que a discórdia parece estar “inevitavelmente” a cargo do Supremo Tribunal e defendeu que, até que haja uma resolução, a comissão da Câmara dos Representantes deve “cessar as suas táticas de assédio e intimidação”.
Este painel da Câmara dos Representantes pretende apurar não apenas a conduta de Trump em 6 de janeiro de 2021, quando este apelou à multidão para “lutar incessantemente” contra o resultado eleitoral, mas também os esforços do republicano, e da sua equipa, meses antes, na contestação da derrota eleitoral ou na obstrução a uma transição pacífica de poder.
Os factos centrais da insurreição de 06 de janeiro são conhecidos, mas o que a Comissão espera fazer é preencher as lacunas restantes sobre o ataque ao Capitólio, e os legisladores afirmam estar comprometidos em apresentar uma prestação de contas completa para garantir que isso nunca volte a acontecer.
O painel está a analisar todos os aspetos do tumulto, incluindo o que o próprio Trump fazia enquanto se desenrolava o ataque e quaisquer conexões entre a Casa Branca e os manifestantes que invadiram o prédio do Capitólio.