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Talibã não reabrem escolas para raparigas do 7.º ao 12.º ano no Afeganistão

No entanto, a Unesco apela ao Governo para que permita o regresso das raparigas à escola

O regime Talibã decidiu não reabrir as escolas para as raparigas do 7.º ao 12.º ano no Afeganistão.

A decisão foi confirmada por um funcionário do Governo, numa altura em que o país atravessa uma grave crise humanitária.

Milhares de jovens deveriam ter regressado ao ensino, depois de mais de sete meses dos talibã terem subido ao poder.

Reação internacional

A Unesco apelou esta quarta-feira ao Governo do Afeganistão que recue na decisão de impedir o acesso das raparigas às escolas secundárias, referindo-se à decisão de suspender as aulas a partir do 6.º ano.

“A promessa de um regresso à escola para milhões de raparigas no Afeganistão foi quebrada. Este é um grande contratempo. O acesso à educação é um direito fundamental”, afirma a secretária-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Audrey Azoulay, citada pela agência de notícias EFE.

A comunidade internacional fez do direito à educação para todos uma condição indispensável para continuar as negociações para ajuda e reconhecimento do regime fundamentalista islâmico.

UNICEF quer regresso “sem demoras”

“As raparigas devem ser autorizadas a regressar à escola sem mais demoras”, reitera Azoulay, cuja voz se junta a outros apelos que foram ouvidos hoje, como foi o caso de representantes da UNICEF e da ONU, que já disseram que irão abordar o assunto com as autoridades.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, lamenta a decisão do Governo, que provocará “danos profundos” ao país, tendo instado “as autoridades talibãs a abrirem as escolas para todos os alunos, sem mais demoras”.

“Partilho a profunda frustração e deceção das meninas e estudantes que, após seis meses de espera, foram impedidas de voltar à escola hoje”, diz a alta-comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet.

No final de agosto, Bachelet avisou os talibãs que o tratamento das mulheres constitui uma “linha vermelha” na aceitação das autoridades afegãs, tendo pedido hoje “que seja respeitado o direito à educação de todas as meninas e abertas as escolas a todos os alunos sem discriminação ou atrasos adicionais”.

Também a UNICEF se manifestou, exigindo que as raparigas regressem, “sem mais atrasos”. A diretora executiva da agência da ONU para a infância, Catherine Russell, sublinhou que milhões de raparigas acordaram hoje com esperança de voltarem às aulas, mas que não tardou muito até verem as esperanças “destruídas”.

Impacto negativo apontado pela Human Rights Watch

Em janeiro, a organização humanitária Human Rights Watch (HRW) concluía que a subida ao poder dos talibãs estava a ter um impacto especialmente negativo na vida e nos direitos das mulheres afegãs.

Mesmo “quando as mulheres são autorizadas a voltar ao trabalho, enfrentam exigentes regras de segregação de género e, desde setembro, estão sujeitas ao novo Ministério para a Propagação da Virtude e Prevenção de Vícios, que substituiu e eliminou o Ministério dos Assuntos da Mulher.

O novo ministério foi encarregue de “fazer cumprir as regras de comportamento dos cidadãos, incluindo a forma como as mulheres se vestem e a proibição de saírem de casa desacompanhadas”, denunciou a HRW.

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