O CEO da empresa de cibersegurança Vision Ware, Bruno Castro, a CEO e fundadora da DPO Consulting – Knowledge on Data Protection, Elsa Veloso, e o analista de política internacional e comentador da SIC, Miguel Monjardino, discutem os perigos do cibercrime e as dificuldades em combater o fenómeno, analisando a situação ocorrida na Vodafone Portugal.
Bruno Castro começa por referir, relativamente ao ataque informático contra a Vodafone Portugal, que “houve uma interrupção de serviço” e “um ataque de disrupção ao ponto de colocar em causa o trabalho” da empresa.
“Não me parece que seja relacionado com questões de dinheiro, pois não houve pedido de resgate”, refere, acrescentando que considera igualmente improvável que seja um ato criminoso motivado por ativismo político.
Desta forma, aponta a possibilidade de se tratar de uma situação de roubo de informação com o objetivo de revenda a grupos criminosos ou, igualmente, de executar trocas comerciais de informação.
Elsa Veloso destaca que “não ligar pontos e não ver conexão” nos ataques informáticos ao Grupo Impresa, ao Grupo Media Capital, ao Grupo Cofina e até a serviços públicos, como é o caso do ataque ao Parlamento “no dia das eleições”, “não parece que seja a posição ideal”.
“Se a rede da Vodafone fosse afetada ao mesmo tempo que o SIRESP, centenas de pessoas ficariam sem auxílio a a morrer”, acrescenta, apontando que “estamos perante aquilo que o Tribunal da Relação de Lisboa definiu, no seu Acórdão de 10 de outubro de 2018, como ‘um crime de terrorismo’“.
Miguel Monjardino começa por referir que podem surgir situações em que a Rússia ou outros países “apliquem estes meios de sabotagem”, apontando que existem exemplos, como “a Ucrânia ou os países bálticos”, e que “devemos estar preparados” para estas situações.
O analista de política internacional acrescenta que a União Europeia e a NATO “têm tido ações do ponto de vista defensivo para defender estruturas críticas”.
“Mais complicado é chegar a um consenso sobre operações ofensivas”, visto que “são áreas que os países com mais capacidades guardam zelosamente”, dando os exemplos dos Estados Unidos da América, Israel, França, Rússia, entre outros.
No entanto, aponta que esta forma de operação estão relacionadas com espionagem motivada pela aquisição de propriedade intelectual a um preço mais reduzido.
“As sociedades mais avançadas sofrerão cada vez mais destes ataques”, alerta.
Bruno Castro defende que “o ataque à Vodafone coloca em causa um pilar fundamental do Estado de Direito, as comunicações”, explicando que a empresa “é acima da média no que toca a segurança”.
“Todos nós somos vulneráveis”, aponta, lembrando que os ataques são perpetrados por “redes criminosas altamente maduras. São criminosos profissionais”.
Elsa Veloso aponta que “neste momento, é preciso olhar para o todo”.
“Temos uma ofensiva que tem de ser tratada ao mais alto nível, com o Centro Nacional de Cibersegurança, com o Estado-Maior do Exército português”, defende.
A CEO aponta que o Governo “pensa que está tudo controlado”, contudo, aponta falhas na proteção de dados, que diz “não [estar] a ser devidamente valorizada”.
“Os fundos do Plano de Recuperação e Resiliência deviam ser canalizados para proteção de dados, privacidade e segurança da informação”, apontando que é “importantíssimo formar e reter em Portugal quadros que possam prestar serviço a Portugal e a outros países” na área da cibersegurança.
Por fim, Miguel Monjardino refere que os cibercrimes “vão acontecer em Portugal e em todos os países europeus”.