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Uma desunião soviética no séc. XXI: como entender a tensão entre a Rússia e a Ucrânia

O que tem de saber sobre o conflito que se vive entre os regimes de Kiev e Moscovo em três pontos.

ANATOLII STEPANOV

Simão Ribeiro Póvoa

Aquecem as relações entre a Rússia e a Ucrânia depois da mobilização militar do Kremlin junto à fronteira, e a comunidade internacional não fica indiferente perante as tensões no Leste europeu.

As relações diplomáticas entre a Rússia e a Ucrânia são difíceis e complexas.

Entre os dois países, a fronteira não divide apenas os Estados, como também uma forma de olhar o mundo.

Do lado ucraniano, há a vontade de integrar o bloco ocidental, incluindo a preparação para integrar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês), já do lado russo, surge a manutenção de uma perspetiva do bloco de Leste, distante da União Europeia e dos Estados Unidos.

Nestes dois ex-membros da União Soviética, há embaixadas e consulados de ambos os lados, mas tal não apaga a tensão entre regimes.

O golpe na Crimeia, em 2014, em que a Rússia anexou o território até à data da Ucrânia, é um dos maiores exemplos dos conflitos entre os dois Estados.

Contudo, por estes dias, outras dúvidas se levantam sobre as intenções do regime de Vladimir Putin.

Autoridades ucranianas e de outros países ocidentais soam os alarmes sobre um aumento da presença militar russa perto da fronteira com a Ucrânia.

Estima-se que a Rússia possua cerca de 100 mil soldados junto à fronteira, e Kiev acredita que Moscovo está a preparar uma invasão.

No entanto, o presidente, Vladimir Putin, russo nega tal intenção, mesmo com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a apontar como realidade a existência de um grupo, composto por russos e ucranianos, que estaria a preparar um golpe militar no país.

Qual a origem da tensão entre a Rússia e a Ucrânia?

A anexação da península da Crimeia, em março de 2014, pela Rússia, está na origem desta tensão.

Contudo, meses depois, vários conflitos surgiram entre separatistas russos e militares ucranianos na região Este da Ucrânia, na zona de Donbas.

Estima-se que mais de 13 mil pessoas tenham sido mortas neste conflito, números avançados pelas Nações Unidas.

Complicando ainda mais a situação, a Ucrânia, tal como vários Estados do bloco ocidental, acusam o regime de Putin de apoiar separatistas pró-russos com armamento e meios humanos, embora Moscovo refira que o envolvimento de cidadãos russos, a existir, terá sido voluntário.

Quais as preocupações atuais?

Kiev vem criticando a atuação de Moscovo e a crescente presença militar perto das fronteiras.

De acordo com o Estado, a mobilização representa uma forma de pressão por parte dos russos.

No entanto, o país liderado por Vladimir Putin aponta que se trata apenas de exercícios militares.

Tudo isto num momento em que a Rússia tenta, a todo o custo, que a Ucrânia não se aproxime - ainda mais - dos países ocidentais, nomeadamente, através da sua integração em organizações internacionais ou intercontinentais.

A piorar a situação, a Ucrânia responde à movimentação militar russa com exercícios militares perto da fronteira.

Após acusações de que poderia estar a preparar uma invasão ao regime de Kiev, a Rússia desmente e diz que se trata de uma campanha difamatória do Ocidente, acusando os Estados Unidos de "histeria".

Qual a reação dos restantes Estados?

O primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, refere, numa entrevista ao "The Politico", que pediu à NATO, que também mostra preocupação, o envio de navios de guerra para o Mar Negro e aviões para monitorizar a atividade militar russa.

A reação de outros pontos do globo é marcada pelas declarações do Presidente polaco, Andrzej Duda, que pede uma igual resposta militar, por parte dos Aliados, contra o aumento militar das tropas de Putin na fronteira.

Paris também já avisou a Rússia de que condena qualquer "novo ataque contra a integridade territorial da Ucrânia".

Já os Estados Unidos partilham a sua preocupação em relação ao que está acontecer, com o presidente norte-americano, Joe Biden, a partilhar que apoia a "soberania e a integridade territorial da Ucrânia perante a agressão da Rússia".

Os laços entre Washington e Kiev têm deixado o Kremlin num estado de nervos: desde 2014, os Estados Unidos têm apoiado a Ucrânia, financeiramente e a nível militar, num valor de cerca de 4 mil milhões de euros.

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