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BBC contestada por repreender jornalista que criticou Trump

"O racismo não é uma opinião válida sobre a qual se possa ter uma posição imparcial"

JUSTIN LANE

A estação televisiva estatal britânica BBC está a ser contestada, nos média e nas redes sociais, depois de ter repreendido uma jornalista que violou a diretriz editorial de imparcialidade por comentários críticos sobre o Presidente norte-americano, Donald Trump.

Durante um programa televisivo na BBC, em 17 de julho, Naga Munchetty discutia com o coapresentador os comentários de Donald Trump sobre quatro congressistas negras, dizendo que elas deviam regressar aos "lugares falidos e infestados de crime de onde vieram", quando reagiu classificando essa observação do Presidente norte-americano como "racista".

O comentário do Presidente Republicano referia-se a quatro congressistas Democratas radicais - conhecidas como "o esquadrão" (Ilhan Omar, do Minnesota; Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova Iorque; Rashida Tlaib, do Michigan; eAyanna Pressley, do Massachusetts) - que têm sido alvo de muitas críticas por parte da Casa Branca.

"Sempre que me dizem, como mulher de cor que sou, para voltar para o lugar de onde vim, isso é racismo. (...) Não estou a acusar ninguém de nada, mas sabemos o que certas frases significam", disse Munchetty, nesse programa, numa intervenção que a direção do canal reprovou, por violar a regra de imparcialidade dos seus jornalistas.

Esta sexta-feira, mais de 40 celebridades de cor assinaram uma carta aberta, divulgada pelo jornal The Guardian, pedindo que a BBC revogasse a sua decisão de repreensão de Naga Munchetty, considerando-a "ilegal e contrária ao espírito e propósito do serviço público de radiodifusão".

A lista de subscritores inclui atores como Lenny Henry, Adrian Lester e David Harewood, e apresentadores como Krishhan Guru-Murthy e Gillian Joseph e descreve a decisão da direção da BBC como "discriminatória de raça", juntando-se a um coro de protestos que há vários dias inunda as redes sociais.

"O racismo não é uma opinião válida sobre a qual se possa ter uma posição 'imparcial'", escrevem os signatários da carta divulgada pelo The Guardian, acrescentando que "esperar das comunidades e indivíduos que sofrem abusos racistas - incluindo Munchetty - que tratem essas ideias como válidas traz consequências devastadoras e talvez ilegais para a dignidade".

A direção da BBC considera que Naga Munchetty foi longe demais, alegando que as "diretrizes editoriais não permitem que os jornalistas deem as suas opiniões sobre o indivíduo que fez o comentário ou as motivações para o fazer - neste caso o Presidente Trump".

Lusa

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