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"El Helicoide", de centro comercial a centro de tortura

Construído nos anos 50 para ser um símbolo de um país rico e desenvolvido, “El Helicoide”, situado em Caracas, na capital da Venezuela, rapidamente tornou-se num símbolo de opressão e violência.

Fernando Llano

SIC Notícias

A sua arquitetura reflete os desejos de quem o projetou. Grande e moderno, “El Helicoide” foi idealizado por Marcos Pérez Jiménez, ditador venezuelano. Este seria o primeiro centro comercial do mundo com “drive-through”, com rampas ascendentes que davam acesso às 300 lojas do complexo.

O ambicioso projeto estagnou quando, em 1958, Pérez Jiménez foi derrubado do poder. Aquele que tinha sido criado para ser um luxuoso shopping, viria mais tarde a tornar-se um pesadelo para os muitos prisioneiros que por lá passaram.

Durante alguns anos, parte do edifício manteve-se vazia até que, nos anos 80, o Governo venezuelano começou a transferir alguns serviços para o “El Helicoide”, como foi o caso do Serviço Bolivariano de Inteligência, conhecido por SEBIN.

Com a subida da inflação e a falta de comida, produtos básicos e medicamentos, cresceu também a insatisfação do povo. Nesta altura, autocarros cheios de prisioneiros começaram a chegar todos os dias ao shopping transformado em prisão, entre os quais ativistas, estudantes e até mesmo crianças.

A falta de condições

À BBC, várias pessoas que estiveram detidas no edifício revelaram a falta de condições e a violência de que eram alvo. Para além dos espaços “pequenos, fechados e claustrofóbicos” onde eram mantidos, não tinham “água, luz, casa-de-banho nem camas”, contou Mantilla, um dos presos. Não podiam tomar banho e urinavam em garrafas, revelou um dos guardas prisionais ao jornal britânico.

A tortura

Para obter confissões, o SEBIN utilizava técnicas de tortura. Carlos, um ex-preso, conta como lhe cobriram a cabeça com um saco, tendo depois sido pontapeado e eletrocutado nos genitais. "Senti uma humilhação imensa, impotência, vergonha e indignação", diz.

Segundo Luís, outro ex-preso, em certa ocasião cobriram-lhe a cabeça e ouviu um agente dizer que o iam matar: “Riram-se e disseram: só tem uma bala. Vamos ver se estás com sorte”. Alguns agentes que falaram com a BBC confirmaram as práticas, dizendo que era comum e sistemático.

Muitos dos casos foram documentados por organizações de direitos humanos e, em fevereiro do ano passado, o Tribunal Penal Internacional abriu uma investigação preliminar, com a qual o Governo venezuelano se comprometeu a cooperar.

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