A porta-voz do Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (EACDH), Ravina Samadasani, disse hoje durante uma conferência de imprensa que a morte de Alban sob custódia das autoridades venezuelanas será um dos tópicos incluídos na investigação sobre as violações dos direitos humanos a ser realizado pela entidade sobre o país.
"O Conselho de Direitos Humanos encarregou o nosso Escritório de preparar um relatório sobre a Venezuela, por isso vamos analisar isso e investigar todos os aspetos da situação dos direitos humanos na Venezuela", declarou a porta-voz do do Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (EACDH).
Na última sessão do Conselho de Direitos Humanos, encerrada no final de setembro, foi adotada uma resolução solicitando que o Escritório investigasse os possíveis abusos e violações das liberdades individuais cometidas no país sul-americano e apresentasse publicamente tais investigações.
A porta-voz explicou que a organização pediu à Venezuela acesso ao país e que ainda está a aguardar uma resposta, mas que "as linhas de comunicação estão sempre abertas".
"O acesso ao país permitir-nos-á fazer uma investigação mais profunda e olhar para todos os aspetos. Há muita especulação sobre o que aconteceu, se ele cometeu suicídio, se foi atirado, se foi maltratado, há muita especulação e é por isso que precisamos de uma investigação independente e transparente para esclarecer as circunstâncias de sua morte. Albán estava sob a custódia do Estado e, portanto, este tinha a responsabilidade de garantir a sua segurança, integridade pessoal e dignidade".
Ravina Samadasani acrescentou ainda que o Escritório do Alto Comissário se preocupa, "não apenas com a sua morte (Albán), mas também com o facto de não ter sido apresentado a um juiz nas primeiras 48 horas, conforme estabelece a lei venezuelana".
PGR reitera tese de suicídio
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, reforçou hoje a informação das autoridades de que o líder opositor Fernando Albán cometeu suicídio, após a oposição acusar o regime de o ter assassinado.
"O cidadão pediu para ir à casa de banho e, uma vez lá, atirou-se do décimo andar" da sede dos serviços de informação venezuelanos, afirmou o PGR Saab à televisão estatal VTV.
O ministro do Interior e da Justiça, Nestor Reverol, disse que Fernando Albán cometeu suicídio quando ia ser transferido para o tribunal, referindo ainda que o opositor estava "envolvido em atos de desestabilização dirigidos do estrangeiro".
Oposição diz que "não é um suicídio é um homicídio"
Na segunda-feira à noite, dezenas de pessoas participaram numa vigília com velas em frente à sede dos serviços secretos (Sebin) enquanto gritavam, sob a vigilância de polícias que os cercavam: "não é um suicídio é um homicídio".
O partido da oposição venezuelano Primeiro Justiça (PJ), do vereador Fernando Albán, assegurou hoje que o político foi "assassinado às mãos do regime de Nicolás Maduro", recusando aceitar a tese de suicídio.
"Com profunda dor e sede de justiça dirigimo-nos ao povo da Venezuela, especialmente aos justiceiros de todo o país, para informar que o vereador Fernando Albán morreu assassinado às mãos do regime de Nicolás Maduro no SEBIN (Serviços Secretos) da Plaza Venezuela", disse o partido num breve comunicado.
A reação surge depois de o Ministério Público informar que Albán, detido na sexta-feira por estar supostamente envolvido no atentado contra o presidente Nicolás Maduro, se suicidou lançando-se do décimo andar de um edifício da polícia quando ia ser transferido para o tribunal.
No comunicado, o partido indicou que Albán "era um homem forte e de profundos valores cristãos", e acusou o procurador Tarek Saab de ser um "reconhecido verdugo da ditadura".
"Exigimos a verdade das coisas e declaramos que esta dolorosa situação demonstra o pior da ditadura: um sistema de morte que penetra na consciência de quem defende a liberdade na Venezuela", adiantou o partido, que também pede justiça.
Albán era vereador no município de Libertador, na capital venezuelana, Caracas, sede de todos os poderes públicos e território considerado bastião do chavismo governante.