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"Morrer não é tão mau como se pensa"

"Na minha humilde opinião, morrer não é tão mau como se pensa". Quem o diz é uma médica britânica pioneira em cuidados paliativos. Kathryn Mannix responsabiliza a sociedade, que diz levar as pessoas a evitar falar sobre a morte e a substituir a palavra por eufemismos, tornando assim muito mais difícil lidar com a perda de um ente querido.

SIC Notícias

"Deixamos de falar sobre a morte. Deixamos de usar a palavra 'morrer' e passamos a usar outras parecidas", diz a médica, numa entrevista à BBC, esclarecendo que em vez de "morto", usa-se "falecido" e em vez de dizer que "alguém está a morrer," diz-se que está "muito doente".

A autora do livro "With the End in Mind; Dying, Death and Wisdom in an Age of Denial" defende que quando se usam estas palavras, as famílias não percebem que a pessoa está a aproximar-se do momento da morte.

"Acho que perdemos a imensa sabedoria humana de aceitar a morte de uma maneira normal. Acho que está na hora de voltar a falar da morte e recuperar essa mesma sabedoria."

Kathryn Mannix acredita que a morte é "como nascer", ou seja, "é apenas um processo".

"A pessoa vai ficando mais cansada e desgastada. À medida que o tempo passa, dorme mais e passa menos tempo acordada."

A médica defende também que as famílias podem aprender sobre os melhores momentos para dar os medicamentos ao paciente ou deixar as visitas entrarem.

Explica como os visitantes ou familiares podem encontrar o doente a dormir e, muitas vezes, pode estar a passar por uma mudança pequena, "mas muito significativa". A pessoa em questão pode estar inconsciente e não é favorável acordá-la, mas ainda assim, quando acorda, a pessoa dirá "que teve um bom sono".

"Ficamos a saber que este estado de coma não foi aterrorizante. Simplesmente, não percebemos o lapso de inconsciência no momento em que ocorre."

A médica britânica acredita que a morte é "um processo tranquilo", para o qual as pessoas se podem preparar e com o qual podem lidar.

"E isso deve ser celebrado. Algo com que nos possamos consolar uns aos outros. (...) Morrer é algo que deveríamos recuperar, algo sobre o que deveríamos falar."

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