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O Inverno mais quente do Ártico

O Ártico está a terminar o seu Inverno mais quente de sempre. E a camada de gelo que costuma cobrir a região é a mais fina, com uma imensidão de água que costuma estar gelada. Os cientistas confirmam que estamos perante um fenómeno sem precedentes, consequência das alterações climáticas.

David Goldman / AP

Inverno com temperaturas de Primavera no Polo Norte, temperaturas glaciares pela Europa.

"É de loucos", diz Mark Serreze que estuda o Ártico desde 1982. "Nunca vi temperaturas como estas", garante o diretor do Centro de Dados sobre Neve e Gelo em Boulder, Colorado, à Associated Press.

A estação meteorológica mais próxima do Polo Norte, em Cabo Morris Jesup no extremo norte da Gronelândia, chegou a registar mais de 60 horas com temperaturas acima ponto de congelação em fevereiro. Antes deste ano, os cientistas tinham registado temperaturas acima deste ponto em fevereiro apenas duas vezes e durante muito pouco tempo.

Em janeiro deste ano, a estação em Cabo Morris Jesup registou temperaturas iguais às do mês de maio, confirma Ruth Mottram, climatologista do Instituto de Meteorologia Dinamarquês.

Valores acima da média foram registados em todo o Círculo Polar Ártico. No Alasca, por exemplo, fevereiro esteve 10ºC mais quente e todo o inverno esteve 7,8ºC mais quente que o normal.

Das 36 estações meteorológicas espalhadas pelo Ártico, 15 estiveram pelo menos 5,6ºC acima do habitual no Inverno, segundo os dados do climatologista Brian Brettschneider do Centro de Investigação Internacional do Ártico na Universidade Alaska Fairbanks.

Camada de gelo menos extensa e mais fina

Em fevereiro, o Oceano Ártico estava coberto por gelo numa extensão de 13,9 milhões de quilómetros quadrados (km2). São menos 160 mil km2 que no mesmo mês do ano passado, que já tinha registado um recorde de valor mais baixo de sempre, revelam os dados do Centro sobre Neve e Gelo.

Este gelo na água, ao contrário dos icebergues e dos glaciares, forma-se, cresce e derrete no oceano. E a camada que se continua agora a formar é muito fina e vai facilmente derreter no Verão, assegura Mark Serreze.

Fenómeno semelhante está também a acontecer no Pacífico. O mar de Bering, normalmente coberto de gelo por esta altura, tem água em estado líquido.

E não é nada comum estar a acontecer o mesmo nos lados oposto do Ártico. "As alterações climáticas estão a sobrepor-se", avisa o climatologista.

Há alguma relação entre o calor no Ártico e o frio na Europa?

Muito provavelmente, diz o climatologista Judah Cohen ao New York Times, autor de um estudo que associa o aquecimento do Ártico às vagas de frio no resto do hemisfério norte - o vórtice polar.

Este vórtice polar é um sistema de baixa pressão que normalmente paira sobre o Polo Norte (há também um vórtice polar na Antártica). Quando se comporta normalmente, ajuda a manter o ar frio no Ártico.

"Aprisiona o ar frio a grandes altitudes na região do Ártico", explica Judah Cohen, comparando o vórtice polar a uma barragem que impede que o ar gélido se espalhe pelo resto do hemisfério norte.

Mas por vezes a barragem rebenta quando o vórtice enfraquece. E isto está a acontecer com mais frequência, com quase certeza absoluta por causa do aquecimento global do planeta.

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