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Mergulhador relata como sobreviveu durante 60 horas preso em gruta

Um homem enfrentou aquilo que considerou ser o maior pesadelo de qualquer mergulhador: ficar preso numa caverna submersa, dependendo de uma bolsa de ar para sobreviver. O caso aconteceu há três meses, com o espanhol Xisco Gràcia, que ficou preso durante 60 dias, em Maiorca.

O professor de geologia dedicava o seu tempo livre a explorar e mapear as cavernas submersas da ilha espanhola.

Segundo a BBC, o homem de 54 anos entrou no mar de Maiorca a 15 de abril, para fazer mergulho. Neste dia, Xisco Gràcia e o colega de mergulho, Guillem Mascaró, decidiram explorar Sa Piqueta, uma carvena com várias câmaras, localizada a um quilómetro da entrada para a cavidade.

Enquanto Gràcia recolhia rochas, Mascaró afastou-se para explorar uma outra câmara.

As coisas começaram a correr mal, quando os dois amigos decidiram vir embora. Gràcia encontrou Mascará por acaso, num ponto com pouca visibilidade devido aos sedimentos.

Os mergulhadores perceberam que o guia - um fio de nylon que os levaria de volta à entrada da caverna - tinha desaparecido. "Usamos o fio para nos orientarmos", explicou o professor de geologia ao jornal inglês. "Acredito que algumas rochas possam ter caído sobre o fio. Passamos uma hora a tentar encontrá-lo, mas sem sucesso."

Os amigos perceberam que já estavam em perigo, pois tinham consumido o ar que levaram para entrar e sair da caverna, assim como a maior parte do ar de emergência. Xisco Gràcia, por sorte, lembrou-se que outros mergulhadores lhe tinham falado sobre a existência de uma bolsa de ar numa das câmaras.

Foi na bolsa de ar que os dois amigos discutiram o que fazer a seguir, sabendo que só havia ar suficiente para que um deles sobrevivesse.

"Decidimos então que eu ficava e que o Guillem ia buscar ajuda", explicou o professor. "Ele é mais magro do que eu e precisa de menos ar. Eu também tenho mais experiência em respirar o ar da caverna, que tem níveis muito altos de dióxido de carbono."

A dupla planeou uma rota alternativa, na qual Mascaró teria de fazer um percurso sem qualquer orientação. "Era como tentar conduzir um carro durante uma noite com muita neblina."

Gràcia contou como durante as primeiras horas esteve otimista, que Mascaró conseguia chegar a terra e pedir ajuda. Contudo, com o passar do tempo, o mergulhador começou a perder a esperança.

"Eu pensava: 'o Guillem perdeu-se e morreu, e ninguém sabe que estou aqui em baixo." Xisco Gràcia começou a pensar na família. "Tenho dois filhos, e só conseguia pensar no que aconteceria com eles."

Os efeitos de respirar níveis altos de dióxido de carbono começaram a surgir. A dor de cabeça e a exaustão pela falta de oxigénio impediam que o mergulhador pudesse dormir. As alucinações também surgiram.

"Tive a sensação de ver luzes e ouvir o som de bolhas de um mergulhador. Mas quando virei a cabeça, não vi nada."

Gràcia perdeu a completa noção do tempo, mas depois do que pareciam dias, ouviu finalmente um barulho alto. "Fiquei muito feliz quando percebi que estavam à minha procura."

Contudo, de repente o barulho parou e o mergulhador enfrentou o momento mais sombrio do seu pesadelo. "Achei que podia morrer da maneira que os mergulhadores mais temem: sem ar ou sem comida."

O professor decidiu sair do lugar onde estava e nadar até onde tinha deixado o equipamento, pegado numa faca. "Queria tê-la como último recurso, caso precisasse de escolher entre morrer rápido ou devagar."

Contudo, o instrumento não foi preciso, pois uma luz forte apareceu de repente. "Pensei que fosse outra alucinação, mas depois percebi que era a realidade e vi um capacete a emergir."

Mascaró tinha conseguido chegar a terra e pedir ajuda, mas as buscas foram dificultadas devido à visibilidade diminuída e a operação de salvamento acabou por demorar mais um dia.

"Demoraram oito horas para me tirar daquela caverna mas foram oito horas felizes." Xisco Gràcia voltou à superfície no dia 17 de abril, 60 horas depois de mergulhar.

O homem foi levado imediatamente para o hospital, e teve de receber oxigénio.

Após esta aventura que podia ter terminado muito mal, o professor não desistiu de mergulhar. Um mês depois do incidente, Gràcia voltou a Sa Piqueta e visitou a caverna onde ficou preso. "Não guardo mágoas da caverna - não é como se a culpa fosse dela."

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