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Amnistia denuncia prisão de ativistas na Turquia como "afronta à justiça"

A Amnistia Internacional denunciou como uma "afronta à justiça" a decisão de um tribunal turco de manter em prisão efetiva diversos militantes de direitos humanos, incluindo a diretora daquela organização na Turquia.

(Arquivo)
STR

No total, seis militantes dos direitos humanos incluindo Idil Eser, diretora da Amnistia Internacional (AI) para a Turquia, vão permanecer na prisão, onde devem aguardar o seu processo para data ainda não determinada, indicou hoje à agência noticiosa France-Presse (AFP) Andrew Gardner, investigador e especialista em Turquia nesta ONG de direitos humanos.

Quatro outros militantes dos direitos humanos detidos em simultâneo foram libertados sob controlo judicial e permanecem sob investigação.

"São acusados de terem cometido um crime em nome de uma organização terrorista, sem serem seus membros", declarou Gardner, ao definir a decisão como um "chocante simulacro de justiça".

Em comunicado, a AI também considerou que a detenção dos seis defensores dos direitos humanos constitui "uma terrível afronta à justiça" e "um novo nível na repressão na Turquia pós-golpe" de 15 de julho de 2016.

A decisão do tribunal surge após as autoridades turcas terem desencadeado, na sequência do fracassado golpe militar de 15 de julho de 2016, purgas de uma amplitude sem precedentes na história moderna da Turquia e que suscitaram a apreensão entre os aliados ocidentais de Ancara.

A expressão "organização terrorista" tem sido sobretudo aplicada pelas autoridades turcas às estruturas e apoiantes do predicador Fethullah Gülen, acusado de ter fomentado o golpe falhado, ou aos separatistas curdos do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Para além dos presumíveis golpistas, as purgas desencadeadas pelo poder de Ancara dominado pelo islamita-conservador partido da Justiça e Desenvolvimento (AK, liderado pelo Presidente Recep Tayyip Erdogan e no poder desde 2002), também abrangeram opositores políticos de esquerda e pró-curdos, 'media' críticos, diversas ONG e detratores do chefe de Estado, acusado de utilizar o estado de emergência imposto em 20 de julho de 2016 para silenciar todas as vozes dissonantes.

Os seis militantes dos direitos humanos foram detidos com quatro outros ativistas no decurso de um curso de formação sobre segurança informática e segurança de dados que decorria na ilha de Büyükada, ao largo de Istambul.

Entre as seis pessoas detidas incluem-se um sueco e um alemão, formadores deste atelier.

"Após esta decisão, todos os que defendem na Turquia os direitos humanos, seja a Amnistia Internacional ou outras organizações, deixam de estar sem segurança neste país", declarou Gardner à AFP.

Entre os militantes detidos, incluem-se ainda Ilknur Ustün da ONG Coligação das Mulheres, e Veli Acu, da Fundação dos direitos humanos.
Na semana passada, Erdogan acusou publicamente os militantes detidos de promoverem atividades "na continuidade do [golpe de] 15 de julho", sem mais precisões.

Segundo a AI, trata-se de um 'atelier' de rotina sobre os direitos humanos, à semelhança dos que organiza regularmente por todo o mundo.

"Não é uma investigação legítima, é uma caça às bruxas politicamente motivada que prefigura um futuro assustador para os direitos na Tuquia", declara o secretário-geral da AI, Salil Shetty, citado no comunicado divulgado hoje em Londres.

Em junho, o presidente da AI na Turquia, Taner Kiliç, foi igualmente detido, acusado de ser apoiante do predicador Gülen.

No comunicado, a Amnistia exorta ainda os dirigentes internacionais a "fazerem pressão" para obter a libertação "imediata e sem condições" dos ativistas de direitos humanos.

Lusa

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