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Guterres diz que parte do trabalho de secretário-geral da ONU é fazer "controlo de danos"

Uma parte importante da responsabilidade de um dirigente de uma organização internacional é fazer "controlo de danos", admitiu esta quarta-feira o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Brendan McDermid

Num evento público em Londres, o antigo primeiro-ministro português falou da sua preocupação em evitar o protagonismo mediático, ao mesmo tempo que sente o dever de fazer os governos servirem as suas próprias populações.

Uma intervenção pública a propósito de uma situação "é uma decisão complexa", que tem de ser avaliada do ponto de vista dos beneficiários, vincou, exemplificando com a situação da comunidade muçulmana de Rohingya, na Birmânia.

"Se não nos relacionarmos com autoridades, não melhora, mas os Rohingyas são também uma das comunidades mais discriminadas", denunciou, no evento organizado pela Associação Nações Unidas do Reino Unido.

O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas aprovou uma investigação "urgente" sobre os abusos contra os muçulmanos Rohingya de Myanmar (a antiga Birmânia), incluindo atos de tortura, assassínios e violação cometidos pelas forças armadas do país asiático.

"Infelizmente, uma grande parte do tempo que passa em organizações internacionais é fazer controlo de danos", afirmou.

António Guterres assumiu em 1 de janeiro de 2017 o cargo de secretário geral da ONU, para o qual foi o primeiro a ser escolhido através de um processo considerado o mais transparente e participativo da história da organização.

Durante a campanha, participou num debate público em Londres com outros candidatos que incluiu respostas a perguntas da audiência.

Em Londres para tomar parte na Cimeira Internacional sobre a Somália, que se realiza na quinta-feira, Guterres fez hoje um discurso e respondeu de novo a perguntas da assistência em Central Hall Westminster, o local onde se realizou a primeira assembleia geral da ONU, em 1946.

Antes, expôs o seu plano de reformas para a ONU para ultrapassar a falta de confiança na organização, que considera importante para "salvar o multilateralismo à medida que os problemas estão a tornar-se mais globais".

O secretário-geral quer reformar a forma como as diferentes agências das Nações Unidas se coordenam, nomeadamente as áreas humanitárias e do desenvolvimento, e a arquitetura das missões de paz.

Por outro lado, o antigo Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (2005-2015) criticou as "regras absurdas" existentes, que exigem que seja levada a plenário uma questão como a criação de um cargo técnico.

"A micro gestão dá ilusão de poder a alguns países. Precisamos de simplificação, descentralização e flexibilidade. Deem-nos maior responsabilidade, maior liberdade de movimento, mas vamos ser mais transparentes e responsáveis", prometeu.

Para além dos conflitos e ameaças como o terrorismo, António Guterres alertou para o "impacto dramático" que evolução tecnológica antecipa para o mercado de trabalho, ao reduzir a necessidade de funções desempenhadas por pessoas.

"Precisamos de antecipar o impacto destas mudanças, que provavelmente são inevitáveis, para impedir que esta revolução do trabalho não tenha consequências dramáticas na nossa sociedade. Precisamos de resolver problemas do presente, mas antecipar os desafios do futuro".

Lusa

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